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Entre Bashar al-Assad e os rebeldes, Israel procura o mal menor

Alguns analistas israelenses temem um salto para o desconhecido em caso de queda do regime de Assad, que manteve a paz por quase 40 anos nas Colinas de Golã ocupadas por Israel

Agência France-Presse
postado em 30/04/2013 14:05
Presidente sírio, Bashar al-AssadJerusalém - Enquanto a pressão por uma intervenção internacional na Síria se intensifica, Israel tem dificuldade em avaliar o menor dos males entre a permanência de Bashar al-Assad no poder e uma vitória para os rebeldes, que incluem jihadistas. Alguns analistas israelenses temem um salto para o desconhecido em caso de queda do regime de Assad, que manteve a paz por quase 40 anos nas Colinas de Golã ocupadas por Israel.

Os partidários dessa tese, temem que os grupos jihadistas aproveitem a confusão para tentar se infiltrar em Israel, disparar foguetes ou, pior, colocar as mãos no arsenal de armas químicas do regime, o que provocaria um casus belli, como tem defendido o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.



Outros especialistas acreditam, no entanto, que, apesar dos riscos de instabilidade ligados a uma ameaça jihadista, Israel poderia ganhar muito com a saída de Bashar al-Assad, que representaria um golpe fatal para a aliança entre Irã, Síria e o movimento xiita libanês Hezbollah, e reforçaria a sua campanha contra o programa nuclear iraniano, a principal prioridade de Netanyahu. "A atitude em relação à guerra na Síria é complexa, porque a escolha é entre o inferno e o inferno", observou nesta segunda-feira um colunista do jornal Yediot Aharonot.

"O apoio ao regime assassino de Assad é impensável. Mas o apoio aos rebeldes poderia levar à criação de uma base do jihadismo global no coração do Oriente Médio. Isso não é do interesse do Ocidente e, muito menos, de Israel", frisou. De acordo com a imprensa israelense, os chefes das diversas agências de inteligência estão divididos em saber quem, o regime ou os rebeldes, "serviria melhor a Israel".


[SAIBAMAIS]Dilema insolúvel

Moshe Arens, ex-ministro da Defesa, considera que "os dois campos rivais são inimigos entre os quais Israel não tem que escolher". Mas para Jonathan Spyer, especialista em Síria do centro de Pesquisa Interdisciplinar Herzliya, "os benefícios de uma queda de Assad são mais importantes do que os potenciais riscos de segurança".
"O regime de Assad é uma força perigosa por causa de sua aliança com o Irã", afirma Spyer, embora reconheça que "o presidente não é fanático e nunca apoiou grupos radicais islâmicos como aqueles que lideram a rebelião" na Síria. "A presença de grupos armados na fronteira é preocupante, mas a queda de Assad seria um revés para o Hezbollah, a mais poderosa organização paramilitar", insiste.

Recentemente, Israel deu um disparo de advertência, alegando um ataque aéreo em janeiro contra um comboio de armas da Síria destinadas ao Hezbollah. Desde o início da semana, o Exército israelense mantém milhares de reservistas mobilizados para manobras "surpresa" no norte, próximo à Síria e ao Líbano, de acordo com o porta-voz do Exército, o general Yoav Mordechai.

"Trata-se de testar a capacidade das unidades para lidar com missões imprevistas para incentivar a flexibilidade operacional e criatividade", explicou o general Mordechai. Na falta de escolha, os analistas concordam apenas em um único ponto: a necessidade de evitar a todo o custo, inclusive pela força, a transferência de sistemas de defesa antiaérea e armas químicas para o Hezbollah, que poderia, com isso, desafiar a superioridade aérea de Israel no Líbano.

"O que é preferível do ponto de vista de Israel? Atacar Assad? Incentivar os americanos a fazê-lo? Ou permanecer passivo na esperança de que o empate na guerra civil da Síria se arraste pelo maior tempo possível?", questionou um comentarista do tabloide pró-governo Israel Hayom, citando "um dilema insolúvel."

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