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Cada vez mais americanas aprendem a atirar e portam armas

Os sites, as revistas, e diversos produtos - incluindo pistolas rosas - são inúmeros em um mercado em expansão

Agência France-Presse
postado em 02/05/2013 18:24
Estados Unidos - "Foi grandioso", disse Sharon Schaefer enquanto exibe com orgulho um alvo crivado de balas em um estande, onde esta professora de ginástica de 62 anos faz um curso para aprender a usar uma arma de fogo, algo que cada vez mais americanas fazem.

"Parabéns Sharon, fez um grande trabalho", diz sua instrutora, Teresa Ovalle, que acaba de dar suas primeiras instruções sobre como usar uma pistola, no The Range, um centro de tiro ao alvo situado em Fredericksburg, Virgínia (leste), 80 km a sudoeste de Washington.

Toda as quintas-feiras à noite, o The Range se veste de rosa, cor das camisas e logotipos usados pelas integrantes do grupo "Pistol Packing Ladies" (As damas da pistola). Somente mulheres, novatas ou não, fazem parte do grupo para "aprender gratuitamente como manejar uma arma com segurança", explica Ovalle, uma ex-integrante do corpo de marines americanos.



Este grupo de fãs das armas de fogo está longe de ser uma exceção nos Estados Unidos, país onde grande parte da população as possui. A mais recente tentativa do governo de fortalecer a legislação que regula este delicado tema acaba de ser rejeitada pelo Congresso. O projeto de regulação tinha sido apresentado em meio à comoção causada pelo massacre de Newtown, que deixou 26 mortos, entre eles 20 crianças.

O "Pistol Packing Ladies" é apenas um dos grupos de mulheres que se juntam para praticar tiro. As "Shooting Divas" ("Divas atiradoras") treinam a poucos quilômetros dali, na Virgínia, e as "Gun Powder Gals" (Meninas da pólvora) fazem o mesmo na Carolina do Norte (sudeste), enquanto o clube "A Girl and a Gun" (Uma garota e uma arma) treina cerca de 40 grupos em todo o país.

Os sites, as revistas, e diversos produtos - incluindo pistolas rosas - são inúmeros em um mercado em expansão.

"Uma afirmação de si mesma"

Segundo o instituto de pesquisas Gallup, o total de mulheres que possuem uma arma nos Estados Unidos passou de 13% em 2005 para 23% em 2011 (46% dos homens).

Já o percentual daqueles que praticam tiro ao alvo aumentou 51,5% entre 2001 e 2011, e 41,8% entre os caçadores, segundo a Associação Nacional de Artigos Esportivos (NSGA, por sua sigla em inglês), que abriga a indústria de armas para uso esportivo.

O interesse das mulheres nas armas de fogo é "um fenômeno que cresceu de maneira constante nos últimos dez anos", em consonância com o ingresso de mulheres em setores antes dominados pelos homens, disse Mary Zaiss Stange, professora do Skidmore College, autora de livros sobre armas e mulheres.

"As mulheres estão muito preocupadas com a segurança de suas famílias", disse Bill Brassard, porta-voz da Fundação Nacional de Esportes de Tiro (NSSF, sigla em inglês). Isto também está "nos genes dos americanos", assegura Ovalle, fundadora do grupo "Pistol Packing Ladies", e a Segunda Emenda "nos dá o direito de comprar uma arma para nos protegermos".

Zeiss Stange alertou para os estereótipos de gênero nesta questão. Não deveria haver "clichês", ressaltou. "Dizer que as mulheres são mais passivas, mais sensíveis, que as armas e a feminidade não estão juntas, é tudo passado". Para uma mulher, portar uma arma é também "uma afirmação de si mesma", disse.

Este é o caso de Elizabeth Timms, uma cinquentona divorciada que afirma que "sempre" gostou de atirar. Ela vive sozinha na Virgínia e porta legalmente uma arma de fogo. "Se achar que há um perigo iminente e que vou perder minha vida, sim, eu atiro", disse.

Mas Dedra Brown, uma agente imobiliária de 30 anos vestida de rosa florescente, não começou como fã de armas. Sempre odiou tudo a respeito, até ser ameaçada na rua. "Eu me senti impotente", disse, explicando por que agora leva consigo uma arma. "Definitivamente, não tenho o medo que uma vez tive".

Assim como muitos homens armados, Sharon Schaefer não acredita nos esforços para restringir o acesso às armas. "Eu não quero que ninguém" - como o presidente Barack Obama ou legisladores reformistas - "me diga que não posso ter algo que realmente tenho o direito de ter".

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