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Candidatos xiitas fazem campanha no Paquistão, apesar das ameaças de morte

Os xiitas representam 20% da população do Paquistão, um país de 180 milhões de pessoas e onde os muçulmanos sunitas são maioria

Agência France-Presse
postado em 07/05/2013 15:55
Quetta - Em Quetta, a cidade que se tornou o epicentro da violência religiosa no Paquistão, os candidatos da minoria xiita desafiam as ameaças de morte, na esperança de fazer a diferença nas eleições legislativas do próximo sábado (11/5).

Os xiitas representam 20% da população do Paquistão, um país de 180 milhões de pessoas e onde os muçulmanos sunitas são maioria. São alvos de ataques cada vez mais frequentes de grupos extremistas, que os acusam de corromper o Islã e de serem agentes do Irã, o maior país xiita no mundo.

[SAIBAMAIS] Em Quetta, uma cidade no sopé das montanhas íngremes da província do Baluchistão (sudoeste), foram registrados vários ataques contra a minoria xiita, incluindo dois dos mais mortais da história recente do Paquistão no início deste ano que causaram 200 mortes.

O grupo sunita Lashkar-e-Jhangvi (LEJ), filiado à Al-Qaeda assumiu a responsabilidade por ataques contra xiitas da etnia hazara, de língua persa e que é caracterizada por seus traços mongóis. O governo reforçou a segurança em Quetta, mas os candidatos xiitas têm dificuldades de fazer campanha.

Ruquiya Hashmi, uma mulher xiita hazara, optou por tornar-se candidata à deputada por Quetta, em vez de ficar em casa e assistir à campanha pela televisão. "É um desafio ser mulher e hazara, mas graças a Deus eu enfrentarei as adversidades e minha voz será ouvida", diz Hashmi, uma médica ex-militar, candidata pela Liga Muçulmana Quaid (PLM-Q), que faz parte da coalizão no poder.



Por causa das ameaças, esta mulher de 62 anos e seu marido, candidato à assembleia provincial, deixaram de lado os comícios de campanha para se concentrar em uma paciente campanha de porta em porta. A ameaça é latente. Duas semanas atrás, um homem-bomba explodiu o carro que estava dirigindo na entrada de um distrito hazara matando seis pessoas.

O líder do Partido Democrático Hazara, Abdul Khaliq Hazara, teme novos ataques. "O governo e a polícia nos prometeram segurança. Mas já faz dois meses e só recebi um guarda-costas. Como posso mover um único guarda-costas em bairros onde a ameaça é permanente", lamenta Hazara.

O chefe de polícia de Quetta, Mir Zubair Mahmood, assegura, por sua vez, que foram adotadas medidas de segurança para todos os candidatos que solicitaram proteção e que as ameaças de ataque são exageradas.

O movimento antixiita Ahle Sunnah Wal Jamaat (ASJW), ligado ao LEJ, apresentou muitos candidatos em várias circunscrições de todo o país. O ASJW tem poucas chances de conquistar um assento na assembleia, mas sua presença nas eleições lembra o poder do discurso antixiita no Paquistão, onde mais de 400 membros dessa minoria foram mortos em ataques em 2012, um recorde trágico.

Haji Ali Imran, outro candidato do pequeno partido xiita, lembra que as manifestações de hazaras conseguiram provocar no início de 2013 a renúncia de um governo local, o que estimulou a população.

"É claro que a ameaça é latente, mas se a comunidade hazara conseguiu derrubar um governador incompetente, tudo pode mudar", diz ele, esperançoso.

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