Agência France-Presse
postado em 07/05/2013 18:25
Beirute - Os países do Oriente Médio e do Golfo já não se escondem e intervêm abertamente na guerra síria, alguns deles aproveitando o caos e outros tentando impedir a queda do regime, afirmam especialistas consultados pela AFP.A guerra entre as forças do presidente Bashar al-Assad e os rebeldes dividiu de forma profunda o Oriente, opondo os aliados do regime, como o Irã e o Hezbollah libanês, e os que querem o seu fim, como os países do Golfo.
Israel não se posicionou publicamente, mas advertiu que não permitirá que armas sofisticadas sírias cheguem às mãos do Hezbollah. Na semana semana, o governo israelense lançou dois ataques contra alvos militares sírios.
[SAIBAMAIS] Os ataques israelenses na Síria ocorreram depois que o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, reconheceu pela televisão que combatia junto com o Exército sírio. Ele declarou ainda que os "verdadeiros amigos" de Damasco não permitiriam a queda do regime de Al-Assad.
"Muita gente considera agora que não pode dar empate: os jordanianos, os israelenses, o Hezbollah, ou os iranianos têm todos a sensação de que se tornou um combate existencial", afirma Salman Sheikh, diretor do Brookings Center, em Doha.
As divisões interconfessionais entre a oposição, de maioria sunita, e o regime, dirigido pela minoria alauíta, uma variante do xiismo, facilitaram uma intervenção regional no conflito na Síria. Os governos sunitas do Golfo apoiaram abertamente os rebeldes, enquanto Irã (xiita) e Hezbollah dão suporte ao governo.
Israel acompanha os acontecimentos com preocupação. É reticente sobre a ideia de perder um inimigo como o presidente Al-Assad e se angustia com o crescente avanço dos rebeldes salafistas e com o papel do Irã e do Hezbollah.
"Na Síria, trava-se uma guerra regional por meio de terceiros, sobretudo, entre os países do Golfo e os iranianos junto com seus aliados do Hezbollah", afirma Salman Sheik.
A intervenção de Israel ocorre, assim, motivada pelas circunstâncias. "Israel está, na verdade, mudando as regras do jogo, ao dizer: ;A partir de agora, não vamos mais tolerar o que se tolerou por 20 anos: a entrega de armas ao Hezbollah;", explicou à rádio militar israelense o especialista em Síria da Universidade de Tel Aviv, Eyal Ziser.
Segundo ele, "Israel aproveita a situação gerada pela fraqueza de Al-Assad, que tem as mãos atadas pela guerra civil na Síria, para impedir a entrega de armas ao Hezbollah". Já para o Hezbollah, que conta com Damasco como fornecedor e como um apoio regional, a queda do regime de Assad seria desastrosa. E, para o Irã, é essencial que o regime continue de pé, porque é seu vínculo com o mundo árabe.
Com tanto em jogo, os países da região não têm outra alternativa a não ser admitir sua ingerência. "O Hezbollah já disse que está operando em Quseir (centro da Síria), e os iranianos reconheceram, no passado, que havia assessores na Síria. Inclusive no domingo disseram que estão dispostos a treinar os sírios. O envolvimento desses atores é mais aberto e significativo", avalia a especialista em Hezbollah Amal Saad-Ghorayeb, da Universidade Americana do Líbano.
Para os analistas, existe um perigo crescente de "regionalização" do conflito. "Assad, com todos os seus problemas, não pode entrar em guerra, mas pode lançar mísseis contra Israel. O que vai acontecer, então? Talvez estejamos puxando a corda com muita força", comentou Giora Eiland, ex-chefe da Agência de Segurança Nacional israelense.
Saad-Ghorayeb acredita que "o Hezbollah não responderá". Segundo ela, "o que já não é tão evidente é como a Síria reagirá". "A Síria deve encontrar uma forma de responder de modo não convencional para não arrastar toda a região para a guerra", completou Amal.
Para Salmand Sheikh, "existe o risco de nos afundarmos em uma guerra generalizada", por intermédio de terceiros. Uma autoridade síria disse à AFP que "a Síria responderá à agressão israelense, mas escolherá o momento certo para fazê-lo. Nada será feito imediatamente, porque Israel está em estado de alerta".