Beirute - Os rebeldes sírios prometeram, nesta quarta-feira (15/5), punir o homem que apareceu em e o levando à boca. "Todos os atos contrários aos valores pelos quais o povo sírio está pagando com seu sangue e perdendo suas casas não serão tolerados. O culpado de abusos será punido com rigor, inclusive se for membro do Exército Sírio Livre", afirma um comunicado do principal grupo da oposição.
O vídeo gerou indignação em todo o mundo e voltou a destacar as denúncias de crimes de guerra. O Exército Sírio Livre afirma ter dado instruções para que se "inicie rapidamente uma investigação sobre os fatos e para que o responsável seja levado à justiça". Também tentará determinar se o rebelde que aparece no vídeo é membro do Exército Sírio Livre.
A Coalizão pede nesse contexto que "todos os amigos do povo sírio intensifiquem seus esforços para garantir uma transição democrática do poder" na Síria, indicou o comunicado.
Mais cedo, o ESL prometeu justiça ao se reagir à divulgação de um vídeo que chocou o mundo. "O culpado de abusos será castigado com severidade, mesmo que seja um membro do Exército Sírio Livre", indicou o Estado-Maior do ESL em um comunicado. "Os autores deste vídeo serão detidos e julgados", prossegue o grupo no comunicado.
Segundo a Human Rights Watch (HRW), o homem visto no vídeo retirando os órgãos de um cadáver de uniforme e levando o coração à boca ameaçando devorá-lo é "um comandante da brigada rebelde Omar al-Farouk", do ELS.
Entrevistado via Skype pela revista americana Time, o rebelde, identificado como Khalid al-Hamad, diz ter agido deste modo depois de encontrar no celular do soldado morto vídeos mostrando que ele havia humilhado sua mulher, que estava nua, e suas duas filhas.
Nas imagens, o rebelde arranca o coração e o fígado do soldado de uniforme, antes de gritar: "Juramos diante de Deus que devoraremos seus corações e seus fígados, soldados de Bashar o cão". Em seguida, o insurgente afirma ter outro vídeo no qual é visto cometendo outras atrocidades, um fenômeno crescente na guerra entre as tropas do regime de Assad e a rebelião.
Desde o início de março de 2011, após a eclosão de uma revolta popular que se transformou em guerra civil, se multiplicaram os vídeos que mostram atrocidades no país. O regime e os rebeldes, que se enfrentam em um conflito que já deixou 94.000 mortos (segundo dados de uma ONG), trocam acusações de crimes de guerra e contra a Humanidade.
Ainda nesta quarta, o regime sírio rejeitou qualquer solução que implique uma saída de Assad do poder, diante da perspectiva de uma conferência internacional proposta por Estados Unidos e Rússia.
"A Síria não aceitará nenhuma imposição e seus amigos também não aceitarão", proclamou o vice-ministro sírio das Relações Exteriores, Faysal Moqdad, em entrevista na noite de terça-feira à rede oficial síria Al-Ijbariya.
O chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, pediu que a oposição apoie os esforços de Moscou e Washington para organizar a conferência.
"É importante que todos os participantes da reunião expressem um claro apoio à iniciativa russo-americana destinada a implementar o comunicado de Genebra", declarou Lavrov, citado pelas agências russas.
No campo de batalha, o Exército sírio, apoiado por tanques e pela aviação, tentava deter um ataque de rebeldes contra a prisão central de Aleppo (norte), onde milhares de pessoas estão detidas, indicou o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH, próximo aos rebeldes).
Cerca de 4.000 presos, entre eles islamitas e criminosos de direito comum, estão detidos nessa prisão localizada na periferia de Aleppo, uma região controlada majoritariamente pelos rebeldes.
O registro dos combates e bombardeios ocorridos nesta quarta em diferentes pontos do país -Damasco, Hama, Homs (centro) e Deraa (sul), entre outros- era de 38 mortos durante a tarde, indicou o OSDH.