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Viagem de vice-presidente chinês reforça laços com América Latina

A primeira escala de Li Yuanchao foi a Argentina, onde fez acordos para promover a cooperação nos setores agrícola

Agência France-Presse
postado em 16/05/2013 18:54
CARACAS - O vice-presidente chinês, Li Yuanchao, conclui nesta quinta-feira (16/5) uma viagem à América Latina, que incluiu a Argentina e Venezuela, onde o gigante asiático busca reforçar sua presença estratégica em busca de fontes seguras de fornecimento de alimentos e energia, além de analisar novos investimentos e créditos ao governo venezuelano.

Li se despede de Caracas depois de uma visita de quatro dias durante os quais encontrou com o presidente Nicolás Maduro e membros de seu gabinete, além de visitar diferentes projetos com participação de ambos os países, principalmente nos setores petrolífero, agrícola e de habitação.

"A relação com a China é estratégica, não apenas para o governo, mas também para o povo venezuelano. Vamos aprofundar, otimizar e tornar mais útil esta relação para ambos os povos", disse o vice-presidente venezuelano Jorge Arreaza junto a seu convidado.

O gigante asiático se transformou, nos últimos anos, no principal destino das exportações de matérias primas da América Latina, que, por sua vez, foi invadida por produtos chineses de baixo custo, principalmente eletrodomésticos e veículos.

A primeira escala de Li foi a Argentina, onde fez acordos para promover a cooperação nos setores agrícola, de justiça e educação, além de reforçar seus laços políticos com a presidente Cristina Kirchner, que restringiu importações chinesas para proteger a indústria nacional na crise mundial de 2009, enfraquecendo o relacionamento entre os países.

Esta visita de Li à Argentina e à Venezuela marca a estratégia da China "de buscar acordos que permitam ter acesso a recursos naturais, sejam eles alimentos ou energia", disse por telefone à AFP o economista Gabriel Monteni, da Câmara Argentina de Comércio, com sede em Buenos Aires.

Para o analista, a China busca encontrar na Argentina uma garantia de alimentos como soja, o produto chave nas exportações ao mercado chinês. "Entre maio e agosto de 2012, a temporada de colheita da soja, foram alcançados (em exportações argentinas) 900 milhões de dólares, dos quais 600 milhões vinham da soja exportada para a China", explica.

No caso da Venezuela, o país com maiores reservas de petróleo no mundo, a China se transformou, depois dos Estados Unidos, em seu segundo mercado, com uma exportação em 2013, de 626 bilhões de barris diários, em parte para saldar sua dívida de mais de 30 bilhões de dólares.

Para Henkel García, diretor da empresa venezuelana Econométrica, a visita de Li à Venezuela foi uma espécie de auditoria sobre os investimentos chineses e os possíveis créditos que poderia conceder a um país altamente dependente das importações, em meio a um controle de câmbio, com o dólar cotado oficialmente em 6,3 bolívares.

"Os chineses sempre foram muito cuidadosos, observando se os recursos que emprestam são destinados a projetos, a investimentos e não terminam em conta corrente, o que poderia ocorrer neste caso porque a demanda de divisas é infinita", comentou García à AFP.

Os empresários venezuelanos, explicou, esperavam que fosse discutido um novo empréstimo para a Venezuela, o que seria um "balão de oxigênio" para a economia, "mas não foram feitos anúncios, nem sequer houve vazamentos", acrescentou.



A Venezuela também espera um financiamento chinês para o setor petrolífero de 4 bilhões de dólares, anunciado em agosto de 2012, mas cuja assinatura definitiva e data de liberação são desconhecidas.

Um dos objetivos desta visita é garantir que a "Venezuela seja um fornecedor confiável e seguro de petróleo à China (...) e concordamos com todos os termos para assinar o documento que permita o financiamento" dos 4 bilhões, disse na quarta-feira o ministro de Petróleo, Rafael Ramírez, sem dar detalhes sobre datas, exceto que ele prepara uma visita a Pequim.

Ramírez visitou, junto com o vice-presidente Li, a Faixa do Orinoco, no sudoeste venezuelano, que abriga as maiores reservas de petróleo bruto do mundo e onde ambas as nações exploram um campo de petróleo com uma participação de 60% venezuelana e 40% chinesa.

"É evidente que o vice-presidente veio definir as condições desse investimento, exigir certas coisas ao governo venezuelano. Para a Venezuela, é vital renovar os créditos e os investimentos chineses", acrescentou García.

Em março, a Agência Internacional de Energia evocou possíveis divergências entre ambos os países no marco do acordo de troca de petróleo por crédito. A Venezuela não cumpriria os prazos previstos, nem com volume, nem com a qualidade do petróleo acordado, o que foi rejeitado por Caracas.

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