Agência France-Presse
postado em 19/05/2013 17:19
Beirute - O exército sírio, apoiado pelo poderoso partido xiita libanês Hezbollah, entrou neste domingo no centro de Quseir, reduto dos rebeldes na província de Homs (centro), um dia depois do presidente Bashar al-Assad ter reafirmado que não pensa em abandonar o poder. Os ativistas contrários ao regime, no entanto, minimizaram o avanço do exército, alegando que os rebeldes oferecem uma resistência intensa ao ataque das tropas oficiais na cidade de 25.000 habitantes."O exército sírio controla a principal praça de Quseir no centro da cidade, assim como os edifícios próximos, incluindo o do governo municipal, onde os soldados hastearam uma bandeira síria", afirmou uma fonte militar que pediu anonimato. A televisão estatal exibiu uma entrevista com um soldado em Quseir que afirmou que "os homens armados" fugiram para o norte, sentido em que seguirão avançando para acabar com qualquer manifestação armada". "Se o exército conseguir tomar o controle de Quseir, toda a província de Homs cairá nas mãos do regime", afirmou Rami Abdel Rahman, diretor do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), ONG que tem uma ampla rede de militantes, além de fontes médicas e militares.
[SAIBAMAIS]Abdel Rahman disse temer um "massacre" se o exército tomar a cidade. O soldado entrevistado pela televisão oficial afirmou que o exército "deixou que os habitantes saíssem pelo acesso noroeste da cidade", versão desmentida pelos rebeldes, que denunciam um "asfixiante cerco imposto pelo regime sírio e o Hezbollah libanês".
Leia mais notícias em Mundo
O OSDH informou que desde a manhã deste domingo, bombardeios incessantes deixaram pelo menos 52 mortos em Quseir, entre os quais três mulheres e 16 rebeldes e quatro militantes do Hezbollah. Os combatentes do Hezbollah, aliado do regime de Bashar al-Assad, "desempenham um papel central na batalha", destacou Abdel Rahman.
Há várias semanas, o exército, com o Hezbollah e milicianos leais ao regime, tentam tomar Quseir, reduto rebelde do centro do país que resiste há mais de um ano. Várias localidades ao redor da cidade já foram retomadas pelas forças do governo. Quseir é considerada uma cidade estratégica por ficar entre a capital e a costa mediterrânea. Além disso, fica perto da fronteira libanesa.
"Apagar a cidade do mapa" - O Conselho Nacional Sírio (CNS), principal coalizão da oposição, denunciou as "tentativas de invadir e apagar a cidade e seus habitantes do mapa e pediu uma reunião urgente da Liga Árabe para "deter o massacre". "Afirmamos aos países que trabalham para encontrar uma solução política ao conflito sírio que ignorar esta invasão provocará a perda de todo sentido de qualquer conferência e de qualquer esforço de paz", advertiu o CNS em um comunicado.
Para tentar resolver o conflito, a comunidade internacional tenta organizar, em junho em Genebra, uma conferência de paz que reúna as grandes potências, os países árabes, a oposição e o regime de Damasco.
A conferência deve estar baseada na declaração de Genebra assinada pelas grandes potências em junho de 2012 e que prevê o fim da violência, assim como um governo de transição, mas sem fazer referência ao destino de Assad, principal ponto de discórdia entre russos e americanos. Moscou, grande aliado de Damasco e a quem fornece armas, defende a manutenção de Assad até a celebração de eleições, enquanto Washington reclamou em várias ocasiões a sua saída, algo que a oposição considera uma condição imprescindível para qualquer iniciativa de paz.
Mas em uma entrevista concedida à agência estatal de notícias argentina Télam e ao jornal Clarín, Bashar al-Assad insistiu na recusa a deixar o poder antes do fim de seu mandato em 2014 e deu a entender que será candidato no próximo ano. "Renunciar seria fugir", declarou Assad, antes de destacar que "quem deve sair e quem deve permanecer será determinado pelo povo sírio nas eleições presidenciais de 2014".
Na entrevista, Assad negou que seu governo tenha utilizado armas químicas contra a população civil e afirmou que as acusações eram um pretexto para justificar uma intervenção estrangeira na Síria. Segundo o OSDH, 94.000 pessoas morreram no conflito, que começou em março de 2011 como uma revolta pacífica contra o regime, antes de virar uma guerra civil.