Agência France-Presse
postado em 24/05/2013 13:21
Moscou - A Rússia, principal aliado do regime sírio, afirmou nesta sexta-feira (24/5) ter chegado a um acordo de princípio com Damasco para uma conferência de paz que será realizada em Istambul, mas a oposição síria indicou que se mantém cética. "Afirmamos com satisfação que recebemos de Damasco um acordo de princípio do governo sírio para participar de uma conferência internacional", declarou o porta-voz do Ministério russo das Relações Exteriores, Alexandre Lukachevitch.Trata-se de agir de forma que "os sírios possam chegar a uma solução para o conflito que destrói o país e a região", acrescentou Loukachevitch. O acordo foi obtido após uma visita do vice-ministro sírio das Relações Exteriores, Fayçal Moqdad, a Moscou na quarta e na quinta-feira (23/5). Fayçal Moqdad foi à capital russa para abordar a iniciativa de russos e americanos de fazer uma nova conferência, lançada em ocasião da visita do secretário de estado norte-americano, John Kerry, a Moscou no início do mês.
Kerry e o ministro russo das Relações Exteriores Serguei Lavrov devem se reunir novamente no dia 27 de maio em Paris. A Rússia é vista como o país de maior influência sobre o regime da Síria, de quem é aliada e fornecedora de armas desde a época soviética. A Coalizão Nacional Opositora síria, reunida desde quinta-feira em Istambul para discutir sua participação na conferência, se mostrou cética.
"Nós queremos ouvir essa declaração da boca do governo (do presidente Bashar) al-Assad", declarou à AFP Louay Safi, porta-voz da Coalizão, principal grupo de oposição sírio. "Tudo isso é ainda muito vago e o governo de Assad é muito evasivo quando se trata de dar declarações ou informações sobre soluções políticas", afirmou Safi.
[SAIBAMAIS]"Os russos já disseram que o governo sírio tinha uma equipe para negociar. (Mas) nós não sabemos segundo quais termos. Eles têm ou não têm os mandatos para negociar de boa-fé a transição?", questionou o porta-voz da Coalizão. "Nós queremos saber se eles têm realmente a intenção de negociar a transição para um governo democrático que inclua a saída de Assad", continuou Safi.
A oposição síria exige que toda solução política implica a partida do presidente Assad e dos membros do regime mais envolvidos nos atos de violência, que já deixaram mais de 94 mil mortos em dois anos. Essa posição teve o apoio dos 11 países "Amigos da Síria", entre eles os Estados Unidos, que em declaração comum na última quarta-feira em Amã afirmaram que "Assad, seu regime e seus assessores que têm sangue nas mãos não poderão desempenhar um papel no futuro da Síria".
O porta-voz da diplomacia russa disse nesta sexta-feira (25) que já havia excluído qualquer condição anterior à conferência. "Nós observamos novamente o aparecimento de uma pré-condição para a saída do presidente Bashar al-Assad, a questão da formação de um ;governo; sob a égide da ONU", declarou Lukachevitch. "Tudo está senod feito para tirar o sentido da conferência", acrescentou.
Lukachevitch considerou precipitado eleger a data de 10 de junho para esta conferência, adiantada pela imprensa ocidental, O encontro dará continuidade ao encontro realizado em Genebra em junho de 2012. "Não é correto pedir que se decida imediatamente a data para a conferência antes mesmo de saber exatamente quem, e com quais prerrogativas, se exprimira em nome da oposição", declarou Loukachevitch. Em entrevista concedida recentemente ao jornal argentino Clarín, Assad garantiu que se recusará a deixar o poder antes das eleições presidenciais de 2014.
Os esforços em vista de uma conferência acontecem num momento crítico para a oposição síria, com o lançamento de uma vasta ofensiva do Exército sírio -- apoiado pelo movimento xiita libanês Hezbollah -- em Qousseir, cidade estratégica no oeste e dominada pelos rebeldes. O conflito teve reflexo no Líbano, onde combates entre partidários e opositores ao regime sírio deixaram pelo menos 23 mortos em cinco dias na cidade de Trípoli, norte do país.