Agência France-Presse
postado em 24/05/2013 16:22
BUENOS AIRES - O kirchnerismo completa dez anos de governo na Argentina exibindo um inédito crescimento econômico, cinco milhões de novos empregos e um Estado recomposto, mas a "década vencida", como o governo a chama, se encerra com inflação crescente e restrições à compra de divisas, que geram mal-estar social.
O ex-presidente Néstor Kirchner parecia implacável em 2003 diante do titânico desafio de "tirar a Argentina do inferno", como costumava dizer. Ele delineou a estratégia para reestruturar 75% da dívida em default, de 100 bilhões de dólares, em 2005, e o pagamento de 9,5 bilhões de dólares devidos ao FMI para cortar vínculos com organismo ao qual culpava pela crise argentina.
Sua sucessora e viúva, Cristina Kirchner, que assumiu em 2007, seguiu a política de desendividamento de seu marido e, em 2010, elevou a quase 93% a troca de títulos, com grande perdão da dívida, mas esses 7% que não aderiram à operação estão dando uma grande dor de cabeça e a ação judicial pode terminar na Suprema Corte dos Estados Unidos.
A re-estatização da companhia de petróleo YPF, a mais importante empresa argentina, que estava nas mãos da espanhola Repsol, foi um dos marcos mais polêmicos de sua gestão, assim como a estatização dos fundos de pensão.
Ambas as decisões foram alinhadas com a decisão dos Kirchner de ampliar o peso do Estado na economia, depois das privatizações da década de 90 e permitiram ao governo encher os cofres públicos em um contexto de forte fuga de divisas.
"A década vencida"?
Contudo, analistas descartam a ideia de "década vencida", expressão do governo em contraposição à "década perdida", os anos 80 na América Latina, e consideram que esse período está dividido entre a primeira etapa de crescimento econômico de Néstor Kirchner e a atual, de estagnação.
"Não existe essa coisa de década kirchnerista, exceto no calendário", disse à AFP, Roberto Lavagna, ministro da Economia do começo do governo de Néstor Kirchner e artífice da primeira troca da dívida.
Segundo Lavagna, opositor da atual presidente, na primeira etapa até 2006, na qual atuou, "o PIB cresceu em média 8,9%" ao ano, enquanto a partir de 2007, a economia "cresceu 3,8% ao ano".
"A rejeição às pressões do Fundo Monetário Internacional (FMI) e o início de um período de forte redução da dívida, incluindo um perdão de 75% (em 2005), foram essenciais para a recuperação e o crescimento de 8,9% nos anos iniciais", afirmou.
Uma dor de cabeça chamada inflação
Segundo as pesquisas, o maior problema que a presidente enfrenta, próximo às legislativas de outubro, na metade de seu segundo mandato, é a elevada inflação, de 25% ao ano, segundo dados de empresas privadas, e de pouco mais de 10%, segundo um indicador oficial questionável.
A cinco meses de eleições cruciais, a presidente pediu, na quarta-feira, que seus partidários controlem os preços de cerca de 500 produtos de primeira necessidade nos supermercados, que não devem ser alterados, após o congelamento geral dos alimentos, que não reverteu a tendência alta do custo de vida, de 1,5% em abril, segundo estudos privados.
Em seu segundo mandato, desde o final de 2011, em um contexto de forte necessidade de divisas para financiar o Estado, a presidente pôs em prática duras restrições à compra de dólares, que tradicionalmente os argentinos de classe média utilizam como poupança para se defender da inflação, numa medida que gerou protestos.
No mercado paralelo, a cotação oficial do dólar chegou a duplicar há duas semanas, a 10,45 pesos por dólar.
O governo também impôs rígidas barreiras às importações, já que o país depende de sua balança comercial para cumprir seus compromissos externos e pagar a alta conta da compra de energia, de cerca de 12 bilhões de dólares anuais.
"A situação energética foi se deteriorando exponencialmente e os subsídios a setores da economia fizeram o superávit fiscal despencar", disse o economista Ramiro Castiñeira, da consultoria Econométrica, à AFP.
O peso da soja
O críticos do governo consideram que o preço da soja, que representa cerca de 25% das exportações da Argentina, foi o principal sustentáculo do modelo econômico.
"É impossível pensar em repetir os bons resultados da primeira etapa se apenas forem feitas mudanças marginais de política econômica ou apostas na sorte, como o alto preço da soja", disse a Abeceb.com.
Por outro lado, Ernesto Villanueva, reitor da Universidade Arturo Jauretche, disse à AFP que, nestes dez anos, o PIB foi multiplicado em comparação a 2003, "a distribuição de renda melhorou, o desemprego caiu de forma impressionante (de quase 20% a 7,9%) e o peso da dívida sobre o PIB caiu de 160 a 40%".
Em 2003, segundo dados oficiais, a Argentina tinha um PIB de 268,5 bilhões de dólares; atualmente, é de 500 bilhões de dólares anuais.
"A recuperação do emprego, o desendividamento e o crescimento do PIB (...) são os maiores méritos econômicos desta década", concordou Ramiro Castiñeira.
O ex-presidente Néstor Kirchner parecia implacável em 2003 diante do titânico desafio de "tirar a Argentina do inferno", como costumava dizer. Ele delineou a estratégia para reestruturar 75% da dívida em default, de 100 bilhões de dólares, em 2005, e o pagamento de 9,5 bilhões de dólares devidos ao FMI para cortar vínculos com organismo ao qual culpava pela crise argentina.
Sua sucessora e viúva, Cristina Kirchner, que assumiu em 2007, seguiu a política de desendividamento de seu marido e, em 2010, elevou a quase 93% a troca de títulos, com grande perdão da dívida, mas esses 7% que não aderiram à operação estão dando uma grande dor de cabeça e a ação judicial pode terminar na Suprema Corte dos Estados Unidos.
A re-estatização da companhia de petróleo YPF, a mais importante empresa argentina, que estava nas mãos da espanhola Repsol, foi um dos marcos mais polêmicos de sua gestão, assim como a estatização dos fundos de pensão.
Ambas as decisões foram alinhadas com a decisão dos Kirchner de ampliar o peso do Estado na economia, depois das privatizações da década de 90 e permitiram ao governo encher os cofres públicos em um contexto de forte fuga de divisas.
"A década vencida"?
Contudo, analistas descartam a ideia de "década vencida", expressão do governo em contraposição à "década perdida", os anos 80 na América Latina, e consideram que esse período está dividido entre a primeira etapa de crescimento econômico de Néstor Kirchner e a atual, de estagnação.
"Não existe essa coisa de década kirchnerista, exceto no calendário", disse à AFP, Roberto Lavagna, ministro da Economia do começo do governo de Néstor Kirchner e artífice da primeira troca da dívida.
Segundo Lavagna, opositor da atual presidente, na primeira etapa até 2006, na qual atuou, "o PIB cresceu em média 8,9%" ao ano, enquanto a partir de 2007, a economia "cresceu 3,8% ao ano".
"A rejeição às pressões do Fundo Monetário Internacional (FMI) e o início de um período de forte redução da dívida, incluindo um perdão de 75% (em 2005), foram essenciais para a recuperação e o crescimento de 8,9% nos anos iniciais", afirmou.
Uma dor de cabeça chamada inflação
Segundo as pesquisas, o maior problema que a presidente enfrenta, próximo às legislativas de outubro, na metade de seu segundo mandato, é a elevada inflação, de 25% ao ano, segundo dados de empresas privadas, e de pouco mais de 10%, segundo um indicador oficial questionável.
A cinco meses de eleições cruciais, a presidente pediu, na quarta-feira, que seus partidários controlem os preços de cerca de 500 produtos de primeira necessidade nos supermercados, que não devem ser alterados, após o congelamento geral dos alimentos, que não reverteu a tendência alta do custo de vida, de 1,5% em abril, segundo estudos privados.
Em seu segundo mandato, desde o final de 2011, em um contexto de forte necessidade de divisas para financiar o Estado, a presidente pôs em prática duras restrições à compra de dólares, que tradicionalmente os argentinos de classe média utilizam como poupança para se defender da inflação, numa medida que gerou protestos.
No mercado paralelo, a cotação oficial do dólar chegou a duplicar há duas semanas, a 10,45 pesos por dólar.
O governo também impôs rígidas barreiras às importações, já que o país depende de sua balança comercial para cumprir seus compromissos externos e pagar a alta conta da compra de energia, de cerca de 12 bilhões de dólares anuais.
"A situação energética foi se deteriorando exponencialmente e os subsídios a setores da economia fizeram o superávit fiscal despencar", disse o economista Ramiro Castiñeira, da consultoria Econométrica, à AFP.
O peso da soja
O críticos do governo consideram que o preço da soja, que representa cerca de 25% das exportações da Argentina, foi o principal sustentáculo do modelo econômico.
"É impossível pensar em repetir os bons resultados da primeira etapa se apenas forem feitas mudanças marginais de política econômica ou apostas na sorte, como o alto preço da soja", disse a Abeceb.com.
Por outro lado, Ernesto Villanueva, reitor da Universidade Arturo Jauretche, disse à AFP que, nestes dez anos, o PIB foi multiplicado em comparação a 2003, "a distribuição de renda melhorou, o desemprego caiu de forma impressionante (de quase 20% a 7,9%) e o peso da dívida sobre o PIB caiu de 160 a 40%".
Em 2003, segundo dados oficiais, a Argentina tinha um PIB de 268,5 bilhões de dólares; atualmente, é de 500 bilhões de dólares anuais.
"A recuperação do emprego, o desendividamento e o crescimento do PIB (...) são os maiores méritos econômicos desta década", concordou Ramiro Castiñeira.