Agência France-Presse
postado em 27/05/2013 14:27
Bogotá - O primeiro acordo entre o governo da Colômbia e a guerrilha das Farc sobre o problema agrário constitui um grande avanço para resolver um dos conflitos mais antigos da América Latina. Após seis meses de negociações realizadas em Cuba, país fiador do processo ao lado da Noruega, os dois grupos anunciaram no domingo que resolveram o capítulo do desenvolvimento rural, tema chave ligado ao nascimento das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia durante uma insurreição camponesa em 1964.
Os detalhes do acordo não foram publicados, mas, segundo um comunicado conjunto, inclui "o acesso e a utilização da terra" e a "regularização da propriedade" da mesma, dois pontos fundamentais na Colômbia, onde apenas 1% da população possui a metade dos terrenos agrícolas do país. "É uma mensagem muito importante para os colombianos. Nas discussões anteriores com as Farc, nunca se havia ido tão longe", afirmou à AFP o cientista político Alejo Vargas, professor da Universidade Nacional de Bogotá, que ressalta que o tema agrário é "o mais complexo do conflito".
No espaço de trinta anos, os governos da Colômbia levaram adiante três tentativas de negociação sem alcançar um acordo tangível como o anunciado agora.
Este acordo produzirá "uma certa confiança entre as duas delegações. Para além do acordo, existe uma metodologia de trabalho que funciona", prossegue Vargas, que considera que o resultado valida a opção de Cuba como facilitador das negociações realizadas a portas fechadas em Havana. "Foi muito útil, Cuba oferece garantias de segurança que permitem que as delegações trabalhem tranquilamente. Não teria sido possível com todos os jornalistas e as câmeras perguntando durante o dia todo que avanços foram feitos", acrescentou.
A comunidade internacional e a ONU saudaram o avanço. O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, evocou "um passo fundamental em direção a um acordo final" para colocar fim a um conflito que, segundo números oficiais, deixou 600.000 mortos e 15.000 desaparecidos.
A esperança provocada foi transformada em imagens com o aperto de mãos em Havana entre Franck Pearl, um dos negociadores do governo, e Pablo Catatumbo, um dos líderes das Farc. Este último mostrou-se inclusive favorável a uma reeleição do conservador Santos para dar "continuidade ao processo de paz", algo impensável até o momento.
No entanto, estas negociações se desenrolam em meio às hostilidades, já que não houve acordo de cessar-fogo e devido às pendências em vários pontos espinhosos, como a reinserção política dos guerrilheiros sem passar pela prisão, o abandono do tráfico de drogas e das armas ou as indenizações para as vítimas.
Um caminho "cheio de pedras e espinhos"
"Precisamos ser realistas e prudentes porque agora os temas mais duros, que dividem ainda mais, ainda estão por vir. O caminho está cheio de pedras e espinhos", afirmou à AFP Javier Ciurlizza, diretor regional do Internacional Crisis Group (ICG), uma ONG especializada na solução de conflitos.
Isto também inclui a aplicação do primeiro acordo sobre a questão rural, que se anuncia complexa, já que "exigirá uma legislação para modificar a posse das terras. É um desafio gigante, já que a Colômbia historicamente tem um déficit em relação ao registro da propriedade agrária", explica M. Ciurlizza.
O conflito levou à expulsão de suas terras de quatro milhões de colombianos, presos nos sangrentos confrontos entre a guerrilha, o exército e os paramilitares armados pelos proprietários de terra nos anos 1980 e desmobilizados em 2006. Há dois anos, o governo dirige um programa de restituição de dois milhões de hectares que foram ocupados e de quatro milhões de hectares abandonados.
Os detalhes do acordo não foram publicados, mas, segundo um comunicado conjunto, inclui "o acesso e a utilização da terra" e a "regularização da propriedade" da mesma, dois pontos fundamentais na Colômbia, onde apenas 1% da população possui a metade dos terrenos agrícolas do país. "É uma mensagem muito importante para os colombianos. Nas discussões anteriores com as Farc, nunca se havia ido tão longe", afirmou à AFP o cientista político Alejo Vargas, professor da Universidade Nacional de Bogotá, que ressalta que o tema agrário é "o mais complexo do conflito".
No espaço de trinta anos, os governos da Colômbia levaram adiante três tentativas de negociação sem alcançar um acordo tangível como o anunciado agora.
Este acordo produzirá "uma certa confiança entre as duas delegações. Para além do acordo, existe uma metodologia de trabalho que funciona", prossegue Vargas, que considera que o resultado valida a opção de Cuba como facilitador das negociações realizadas a portas fechadas em Havana. "Foi muito útil, Cuba oferece garantias de segurança que permitem que as delegações trabalhem tranquilamente. Não teria sido possível com todos os jornalistas e as câmeras perguntando durante o dia todo que avanços foram feitos", acrescentou.
A comunidade internacional e a ONU saudaram o avanço. O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, evocou "um passo fundamental em direção a um acordo final" para colocar fim a um conflito que, segundo números oficiais, deixou 600.000 mortos e 15.000 desaparecidos.
A esperança provocada foi transformada em imagens com o aperto de mãos em Havana entre Franck Pearl, um dos negociadores do governo, e Pablo Catatumbo, um dos líderes das Farc. Este último mostrou-se inclusive favorável a uma reeleição do conservador Santos para dar "continuidade ao processo de paz", algo impensável até o momento.
No entanto, estas negociações se desenrolam em meio às hostilidades, já que não houve acordo de cessar-fogo e devido às pendências em vários pontos espinhosos, como a reinserção política dos guerrilheiros sem passar pela prisão, o abandono do tráfico de drogas e das armas ou as indenizações para as vítimas.
Um caminho "cheio de pedras e espinhos"
"Precisamos ser realistas e prudentes porque agora os temas mais duros, que dividem ainda mais, ainda estão por vir. O caminho está cheio de pedras e espinhos", afirmou à AFP Javier Ciurlizza, diretor regional do Internacional Crisis Group (ICG), uma ONG especializada na solução de conflitos.
Isto também inclui a aplicação do primeiro acordo sobre a questão rural, que se anuncia complexa, já que "exigirá uma legislação para modificar a posse das terras. É um desafio gigante, já que a Colômbia historicamente tem um déficit em relação ao registro da propriedade agrária", explica M. Ciurlizza.
O conflito levou à expulsão de suas terras de quatro milhões de colombianos, presos nos sangrentos confrontos entre a guerrilha, o exército e os paramilitares armados pelos proprietários de terra nos anos 1980 e desmobilizados em 2006. Há dois anos, o governo dirige um programa de restituição de dois milhões de hectares que foram ocupados e de quatro milhões de hectares abandonados.