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Moscou insiste em fornecer mísseis à Síria, revoltando o governo de Israel

O regime sírio denunciou, assim como seu aliado russo, a decisão da União Europeia de retirar o embargo sobre o fornecimento de armas à oposição armada

Agência France-Presse
postado em 28/05/2013 17:33
Damasco - Moscou insistia nesta terça-feira (28/5) em fornecer mísseis à Síria, revoltando o governo de Israel, enquanto os riscos de um contágio do conflito para a região pareciam cada vez maiores.

O regime sírio denunciou, assim como seu aliado russo, a decisão da União Europeia de retirar o embargo sobre o fornecimento de armas à oposição armada, por considerar que essa iniciativa é um obstáculo aos esforços de paz.

O vice-ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Riabkov, justificou as entregas previstas de sofisticados sistemas terra-ar S-300 a Damasco considerando que esses mísseis têm como objetivo dissuadir qualquer tentativa de intervenção externa no conflito.

[SAIBAMAIS] "Medidas deste tipo dissuadem em grande parte alguns espíritos acalorados de projetar cenários nos quais o conflito se tornaria internacional com a participação de forças estrangeiras", disse.

Mas Israel advertiu que reagirá em caso de fornecimento desses mísseis. "As entregas não ocorreram e espero que não ocorram. Mas se, infelizmente (os S-300) chegarem à Síria, saberemos o que fazer", afirmou o ministro israelense da Defesa, Moshé Yaalon.



Israel bombardeou no início de maio dois alvos próximos a Damasco para impedir, segundo o Exército israelense, a transferência de armas ao Hezbollah libanês, aliado do regime sírio.

Em um contexto de impasse no conflito, que já deixou mais de 94.000 mortos desde março de 2011, segundo uma ONG síria, a UE decidiu retirar o embargo ao fornecimento de armas aos rebeldes, medida "apoiada" por Washington.

"A UE decidiu pôr fim ao embargo sobre a entrega de armas à oposição síria e manter as outras sanções contra o regime sírio", anunciou o ministro das Relações Exteriores britânico William Hague, após uma longa reunião.

Os 27, entretanto, chegaram a um acordo para não fornecer armas aos rebeldes imediatamente para não comprometer os esforços por uma solução política, principalmente a organização da conferência internacional de paz, prevista para o final de junho em Genebra por iniciativa de Moscou e Washington.

Oposição incapaz de chegar a um acordo


Os rebeldes receberam a decisão da UE com cautela. Louay Safi, porta-voz da Coalizão Nacional Opositora síria reunida em Istambul, classificou a iniciativa de "passo positivo", ressaltando o temor dos rebeldes de que ela seja "insuficiente e que tenha chegado tarde demais".

"Espero que esta seja uma decisão efetiva e não palavras", disse Kassem Saadeddine, porta-voz do comando militar superior do Exército Sírio Livre (ESL), principal grupo da coalizão.

O Ministério sírio das Relações Exteriores denunciou nesta terça-feira a retirada do embargo, que, segundo o regime, representa "um obstáculo aos esforços internacionais por uma solução política para a crise".

A Rússia segue a mesma linha em suas críticas. O chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, já havia alertado anteriormente que a organização da conferência, da qual Damasco concordou a princípio em participar, "não será fácil".

Da composição das delegações sírias à lista de convidados, passando pelo destino de Bashar al-Assad, a reunião esbarra em diversas divergências.

Moscou novamente insistiu que o Irã, aliado do regime de Damasco, deve participar da reunião, algo que os ocidentais recusam. Teerã anunciou que vai receber na quarta uma "conferência internacional" com o objetivo de encontrar uma "solução política" para o conflito.

No terreno, três militares libaneses foram mortos à noite por homens armados em Aarsal, localidade libanesa favorável à rebelião próxima à fronteira, de acordo com o Exército libanês.

O Líbano está profundamente dividido entre aqueles que apoiam o regime sírio e os que se opõem a Assad, em um ambiente de conflito que se torna mais evidente nos episódios de violência em Trípoli (norte). O Hezbollah libanês enfrenta os rebeldes ao lado das forças regulares sírias em combates travados há mais de uma semana em Qousseir, cidade estratégica em poder dos rebeldes no centro da Síria.

"Se a agressão do Hezbollah contra o território sírio não parar em 24 horas, tomaremos todas as medidas para caçá-los, até no inferno", declarou o chefe do Conselho Militar do Exército Sírio Livre, Salim Idriss, à rede de televisão Al-Arabiya. Idriss fez essas declarações ao presidente libanês, Michel Sleiman, ao secretário-geral da Liga Árabe, Nabil al-Arabi, e ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.

Em relação à oposição política, os opositores estão há uma semana em Istambul mergulhados em discussões intermináveis, ainda incapazes de chegar a um acordo sobre sua participação na conferência de paz. Essa parte da oposição está enfraquecida por rivalidades entre potências regionais e pelas críticas a sua inação.

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