Mundo

Relatório de brasileira na ONU causa 'profundo mal-estar' na Argentina

Brasileira Gabriela Knaul é relatora para a independência de magistrados e advogados

Agência France-Presse
postado em 29/05/2013 17:18
Genebra - A Argentina manifestou "profundo mal-estar" com a relatora para a independência de magistrados e advogados brasileira Gabriela Knaul, em um pronunciamento no Conselho de Direitos Humanos da ONU feito nesta quarta-feira (29/5) em Genebra.

"É importante reiterar o profundo mal-estar que a relatora causou por sua clara parcialidade ao emitir um texto com conclusões sem esperar as respostas que havia solicitado da Argentina", disse Alberto D;Aloto, embaixador argentino em Genebra, referindo-se a um comunicado de Knaul de 29 de abril sobre a reforma judicial na Argentina.

"Ao conceder aos partidos políticos a possibilidade de propor e organizar as eleições dos conselheiros, coloca-se em risco a independência dos membros do Conselho da Magistratura, comprometendo seriamente os princípios de separação dos poderes e da independência do poder judicial", indicava a brasileira em seu comunicado.

"O uso e o período de vigência das medidas cautelares contra o Estado não podem ser restringidos", limitações "contrárias" ao Pacto de Direitos Civis e Políticos da ONU, afirmava também a relatora no comunicado.



A Argentina argumentou nesta quarta que a relatora fez um "pedido urgente", e que "em menos de uma hora (...)se respondeu que o mesmo seria atendido o mais rápido possível", e que "a informação solicitada foi enviada em menos de 48 horas", mas que a relatora, "sem esperar a resposta (...) emitiu um comunicado (com) opiniões e conclusões prejulgando o fundo da matéria".

"A utilização abusiva do pedido urgente, um recurso que o Conselho de Direitos Humanos estabeleceu para questões de caráter excepcional, em que a vida ou a integridade moral das pessoas é ameaçada, aplicado a um caso de projetos de lei de reforma do judiciário" foi denunciada pela Argentina.

O país informou ainda que "contestou em detalhes os pontos que a relatora alegou erroneamente na sua consulta e buscou apurar as circunstâncias que teriam motivado os projetos de lei que foram submetidos aos processos constitucionais de tratamento, sanção, promulgação e publicação que nossa Carta Magna prevê para a criação de leis".

Fontes da ONU disseram que a Argentina entrou com um procedimento contra Knaul no Comitê de Coordenação de Mandatos, órgão dos próprios relatores para resolver conflitos com os Estados, trâmite que ainda não teve resultado. O governo argentino pode recorrer ao Conselho de Direitos Humanos da ONU para a destituição da relatora.

Knaul, que ontem e hoje apresentou o informe anual de atividades de sua relatoria ao Conselho e se submeteu a um "diálogo interativo" com os países, poderá replicar as alegações da Argentina na quinta.

O Conselho conta com mais de 40 relatores, que não são remunerados (recebem apenas ajudas de custo). Todos são eleitos pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação