Agência France-Presse
postado em 29/05/2013 17:46
Damasco - O Exército sírio, apoiado pelo Hezbollah libanês, anunciou a tomada do aeroporto de Dabaa por suas forças, o que permite uma ofensiva por todos os lados contra os rebeldes em Qousseir, no momento em que Washington exigia "a retirada imediata" do Hezbollah da Síria.Em Istambul, vários diplomatas dos países que apoiam a oposição síria compareceram à reunião da Coalizão Nacional Opositora para tentar de destravar os debates.
Já a Rússia, maior aliada de Damasco, considerou que a retirada do embargo ao fornecimento de armas pela União Europeia impõe "sérios obstáculos" à conferência internacional de paz sobre a Síria batizada "Genebra-2", que ela prepara para junho ao lado dos Estados Unidos.
O regime concordou em participar e a oposição, debilitada por divisões, ainda não chegou a uma decisão, no momento em que a violência registra mais de 94 mil mortos desde março de 2011, segundo uma ONG, e obrigou mais de cinco milhões de sírios a fugir. "O Exército sírio controla o aeroporto de Dabaa após uma operação militar de várias horas que começou de manhã", afirmou uma fonte militar à AFP, indicando que "esta operação permitiu liberar o aeroporto e teve a morte de dezenas de homens".
A rede de televisão do Hezbollah, Al-Manar, divulgou imagens de dentro do aeroporto mostrando tanques posicionados próximo aos hangares e soldados atirando para fora.
O Exército controla ainda todos os acessos a Qousseir, cidade estratégica tanto para o regime quanto para os insurgentes, e pode lançar uma ofensiva generalizada contra o último ponto de controle dos insurgentes nesta localidade do centro-oeste da Síria. "Podemos ainda nos dirigir para o bairro norte de Qousseir", onde os insurgentes estão entrincheirados, declarou um oficial à Al-Manar.
Este avanço ocorre após o envio de reforços do Hezbollah e das forças especiais da Guarda Republicana para a cidade durante a manhã, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
Guerra religiosa
O ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius, considerou que o Hezbollah havia mobilizado de 3.000 a 4.000 combatentes na Síria. "Exigimos que o Hezbollah retire imediatamente seus combatentes da Síria" declarou Jennifer Psaki, porta-voz do Departamento de Estado, denunciando "uma escalada inaceitável".
Em Genebra, o Conselho dos Direitos Humanos da ONU condenou a intervenção de "combatentes estrangeiros" ao lado das Forças Armadas sírias em Qousseir e pediu uma investigação da ONU sobre a violência nessa cidade.
Uma resolução nesse sentido, apresentada por Estados Unidos, Catar e Turquia, foi adotada pelo Conselho, por 36 votos a 1 (Venezuela). Oito países se abstiveram.
A alta comissária para os Direitos Humanos, Navi Pillay, considerou que "o número crescente de soldados estrangeiros de ambas as partes que atravessam a fronteira apenas estimula a violência confessional".
De acordo com o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman, "combatentes sunitas libaneses" lutam ao lado dos rebeldes, dando ao conflito "uma dimensão cada vez mais confessional".
O regime na Síria é comandado pela comunidade minoritária alauita, um braço do xiismo, enquanto a maior parte da população síria e dos rebeldes é de sunitas.
O controle de Qousseir é essencial para a rebelião porque esta cidade está localizada no principal ponto de passagem de combatentes e armas provenientes e em direção ao Líbano, mas também para o regime porque a cidade está situada na estrada que liga Damasco ao litoral, sua base de retaguarda.
Terceiro mandato
Nesta quarta, o ministro das Relações Exteriores da Síria, Walid Mouallem, afirmou que Bashar al-Assad se candidatará a um terceiro mandato em 2014 se o povo quiser. "Se o presidente Assad se candidatará ou não, isso depende das condições em 2014 e da vontade popular", declarou Mouallem durante uma entrevista à rede de televisão árabe Mayadeen, ligada à Síria e ao Irã.
"Os americanos não têm nada a dizer sobre quem vai governar a Síria", acrescentou. Em Istambul, diplomatas sauditas, catarianos, franceses, turcos e americanos chegaram ao hotel onde a oposição está reunida há uma semana para tentar destravar as longas negociações da Coalizão.
"Se não conseguirmos chegar a um acordo agora, não sei o que acontecerá com a Coalizão", afirmou à AFP um de seus membros. O Irã, aliado regional da Síria que não foi convidado para a conferência Genebra-2, indicou que deseja uma "solução política" para a Síria, durante uma conferência internacional organizada em Teerã na ausência das partes em conflito.