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Para conter manifestantes, polícia turca utiliza gás lacrimogêneo

Os manifestantes tentavam chegar aos gabinetes do primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, nas duas cidades, ignorando a proibição das autoridades

Agência France-Presse
postado em 04/06/2013 19:33
Istambul - A polícia turca utilizou bombas de gás lacrimogêneo e jatos d;água na madrugada (horário local) desta quarta-feira (4/6) para dispersar centenas de manifestantes que protestavam contra o governo em Istambul e Ancara, as duas principais cidades da Turquia, apesar do pedido de desculpas do governo às vítimas da brutalidade policial.

Os manifestantes tentavam chegar aos gabinetes do primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, nas duas cidades - ignorando a proibição das autoridades - quando foram reprimidos pelas forças da ordem, constatou a AFP no local.

Também ocorreram distúrbios na cidade de Hatay, no sudeste do país e próxima à fronteira com a Síria, onde na segunda-feira um jovem militante de 22 anos morreu no hospital após se ferir nos protestos. Segundo a rede de televisão NTV, dois agentes da polícia e três manifestantes ficaram feridos em Hatay.

[SAIBAMAIS] Milhares de pessoas voltaram à ocupar a Praça Taksim em Istambul, símbolo dos protestos que começaram na sexta-feira e se alastraram rapidamente por toda a Turquia. Grupos de defesa dos direitos humanos afirmam que milhares de pessoas foram feridas nos protestos, mas o governo admite apenas 300, a maioria policiais.

No dia seguinte a uma nova noite de violência marcada pela morte do manifestante em Hatay, o vice-primeiro-ministro Bülent Arinç tentou acalmar a situação ao considerar "legítimas" as reivindicações dos ambientalistas que desencadearam os protestos e pediu que os descontentes fiquem em casa.



Afastando-se da postura firme de Erdogan, em viagem ao Magreb até quinta, Arinç adotou um discurso mais conciliador.

Ao deixar uma reunião com o presidente Abdullah Gül, ele pediu desculpas aos civis feridos, à exceção daqueles "que causaram estragos nas ruas e tentaram comprometer a liberdade das pessoas".

Arinç assegurou que seu governo respeita "os diferentes modos de vida" dos turcos. Os manifestantes acusam Erdogan de uma guinada autoritária e de querer "islamizar" a Turquia laica.

"Não temos o direito ou o luxo de ignorar o povo, as democracias não podem existir sem oposição", ressaltou Arinç, afirmando que seu governo havia "tirado uma lição" destes eventos.

O pedido de desculpas do vice-primeiro-ministro foi saudado pelos Estados Unidos, que manifestaram sua preocupação com o uso "excessivo" da força. "Saudamos os esforços do presidente Gül e de outros para acalmar as coisas", reagiu a porta-voz do Departamento de Estado, Jennifer Psaki.

Mas o discurso de Arinç não convenceu os manifestantes, que tomaram novamente no início da noite de terça-feira a Praça Taksim, onde bradavam palavras de ordem exigindo a renúncia de Edorgan.

Eles estão encurralados

"Se eles voltarem atrás, se mudarem alguma coisa na Turquia, o conservadorismo e tudo o que fizeram, então talvez a multidão possa voltar para casa", disse à AFP Didem Kul. "Mas não podemos voltar para casa sem termos a prova", acrescentou esta estudante de 24 anos que "ocupa" a Taksim. "Mesmo se voltarmos para as nossas casas, nossos sentimentos (em relação ao poder) não terão mudado".

"Este pedido de desculpas serve para limitar a divisão e porque eles estão encurralados", considerou Baki Cinar, porta-voz da Confederação dos Sindicatos do Setor Público (KESK), que iniciou uma greve nesta terça em solidariedade aos manifestantes.

O KESK entrou nesta terça no movimento de contestação convocando uma paralisação de dois dias e será acompanhado na quarta pela Confederação Sindical dos Trabalhadores Revolucionários (DISK), que reivindica 420.000 membros.

Após a morte no domingo de um jovem atropelado por um carro durante uma manifestação em Istambul, um segundo manifestante morreu durante um ato em Hatay, atingido por vários "disparos efetuados por uma pessoa não identificada", anunciou o governador da cidade, Celalettin Lekesiz.

O primeiro relatório da necropsia divulgado pelo procurador colocou em dúvida as circunstâncias de sua morte, afirmando que não foram identificadas marcas de tiros.

Além das duas pessoas mortas no domingo e na segunda, a violência dos quatro últimos dias registrou mais de 1.500 feridos em Istambul e pelo menos 700 em Ancara, segundo organizações de defesa dos direitos humanos e sindicatos de médicos.

Esses números não foram confirmados pelas autoridades. O porta-voz do governo indicou nesta terça apenas 64 manifestantes e 244 policiais feridos. A brutalidade da repressão, amplamente divulgada nas redes sociais turcas, suscitou diversas críticas nos países ocidentais.

Uma porta-voz da alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Navy Pillay, pediu que a Turquia investigue de forma "rápida, completa, independente e imparcial os policiais que teriam violado a lei e as normas internacionais dos direitos humanos".

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