Agência France-Presse
postado em 16/06/2013 16:26
Paris - A comunidade internacional manifestou sua grande expectativa em relação ao Irã após a eleição, no último sábado, do clérigo moderado Hassan Rohani que, segundo especialistas e diplomatas, deve promover uma mudança no estilo de governar. "Não esperamos uma revolução, mas agora é a ocasião de fazer as coisas de outra maneira", comentou um diplomata europeu para quem a eleição "não vai trazer mudanças de princípios, mas talvez no estilo", muito diferente do adotado por Mahmud Ahmadinedjad.O exercício do poder pelo futuro ex-presidente iraniano e suas declarações polêmicas, especialmente sobre Israel, deixaram parte da comunidade internacional desconfiada.
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Do lado oposto, Hassan Rohani ganhou a alcunha de "Xeque diplomata" pela atuação, entre 2003 e 2005, como chefe da delegação iraniana nas negociações com a Europa sobre a questão nuclear, culminando na suspensão do programa de enriquecimento de urânio. Mahmoud Ahmadinejad colocou fim à lua de mel.
[SAIBAMAIS]O ex-ministro britânico das Relações Exteriores Jack Straw, que trabalhou ao lado de Rohani à época, o chamou de "diplomata e político experiente", e sua eleição traduz, segundo ele, o desejo dos iranianos de rompimento com a "abordagem abrupta e estéril" de seu predecessor.
Com o anúncio da vitória de Rohani, a maior parte dos países se disse pronta para uma colaboração, o convidando a encontrar "um novo caminho", principalmente sobre a questão nuclear e a crise síria. Denis McDonough, chefe de gabinete da Casa Branca, disse neste domingo à rede de televisão CBS que enxerga na eleição de Rohani um "sinal de esperança".
Neste uníssono de reações positivas, apenas o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, pediu para que a comunidade internacional não "se deixe iludir" e mantenha as pressões sobre o programa nuclear iraniano "de todas as formas possíveis".
Geneive Abdo, do grupo de estudos Stimson Center, em Washington, prevê "uma possível calma no início", mas se disse "muito cética em relação a reais progressos na questão nuclear" e "na Síria, que não terá mudanças significativas".
Para Azadeh Kian-Thiebaut, professora de Ciência Política na Universidade Paris VII-Diderot, ao contrário, "caso os ocidentais queiram que o Irã reintegre a comunidade internacional, é possível contar com Rohani, um moderado, homem de negociações".
A prova, segundo a pesquisadora, é a vontade de normalizar as relações de seu país com a Arábia Saudita, expressa durante a campanha eleitoral. "Ele não falou da Síria, questão muito delicada, mas pretende se entender com os sauditas sobre um certo número de questões".
A monarquia saudita, de confissão sunita, deu seu apoio armado aos opositores do regime sírio de Bashar Al-Assad, aliado de Teerã. Neste domingo, a Arábia Saudita ainda não havia reagido à eleição de Rohani.
Reservas - Especialistas questionam a margem de manobra de Rohani, já que o líder supremo Ali Khamenei, maior liderança do país, parece determinado a manter a estratégia adotada há décadas de manter o controle sobre a questão nuclear e das relações com os "vizinhos" do Irã, especialmente a Síria.
"O regime iraniano decidiu que a Síria é de interesse vital e estratégico. O Irã é um país sério em suas escolhas a longo prazo. Eu não acho que Rohani irá renunciar à Síria de um dia pro outro", afirmou um diplomata francês.
"Com o Líder Supremo à frente dos cofres, com o uma mão no aparelho nuclear, ele representa os Pasdaran (Guardiães da Revolução Islâmica), que são uma verdadeira multinacional econômica e financeira", afirma outro diplomata europeu, que questiona a influência que Hassan Rohani terá sobre o aiatolá Khamenei. "Em que medida o presidente poderá influenciar o aiatolá?".
Bruno Tetrais, chefe de pesquisas da Fundação para a Pesquisa Estratégica (FRS), em Paris, acredita que é provável que Rohani defenda junto ao líder supremo um acordo com o Ocidente a fim de evitar uma grave crise nuclear.
Ele expressou, contudo, severas reservas sobre esta "prata da casa". "É verdade que Rohani concedeu em 2003 um acordo sobre a suspensão das atividades de enriquecimento de urânio. Mas ele se vangloriou alguns anos mais tarde de ter acelerado a construção de centrífugas durante esta suspensão, o que era uma violação do espírito do acordo".