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Afeganistão ameaça boicotar as negociações de paz na reunião de Doha

Os talibãs abriram nesta terça-feira um escritório político em Doha e Washington anunciou o envio emissários ao lugar

Agência France-Presse
postado em 19/06/2013 10:32
Cabul - O governo afegão ameaçou nesta quarta-feira (19/6) boicotar as negociações de paz com os rebeldes talibãs no Qatar, que deveriam contar com a participação dos Estados Unidos, a menos que sejam realizadas exclusivamente sob o comando de afegãos. O Alto Conselho para a Paz (HCP), instância criada pelo presidente afegão Hamid Karzai para negociar com os insurgentes, emitiu duas declarações ameaçando sabotar os esforços americanos para iniciar o diálogo, no dia seguinte à abertura pelo Talibã de um gabinete para o diálogo no pequeno emirado do Golfo.

"O HCP não participará das negociações de paz no Qatar, a menos que sejam conduzidas pelos afegãos", indicou a presidência. A decisão foi tomada após uma reunião entre Karzai e membros do conselho. Em um comunicado enviado à AFP, os rebeldes afegãos explicaram que seu novo gabinete ajudará a estabelecer relações com o resto do mundo e com outros grupos afegãos, mas não fez nenhuma referência direta à negociações de paz.

Com a proximidade do fim da missão da Otan no Afeganistão, as autoridades dos Estados Unidos, que lideram as forças internacionais, estão determinados a retomar as negociações com o Talibã após contatos preliminares. Mas Karzai, que preside o país com o apoio dos Estados Unidos desde a invasão das forças estrangeiras em 2001, se opõe a negociações bilaterais EUA-Talibã.

[SAIBAMAIS]"O Afeganistão deseja se juntar as negociações de paz com os talibãs, mas os sinais de guerra e de massacre que foram enviados ao mesmo tempo que a abertura do gabinete (em Doha) vão contra esta vontade de paz", acrescentou a presidência, em referência ao ataque contra a base de Bagram na madrugada desta quarta-feira, que matou quatro militares americanos. "As modalidades de abertura do gabinete talibã no Qatar e as mensagens enviadas vão de encontro às garantias dadas pelos americanos aos afegãos", insistiu a presidência.



"Os últimos acontecimentos mostram que intervenções estrangeiras estão por trás deste gabinete", indicou o comunicado, sem mais detalhes. Mais cedo, o governo afegão suspendeu suas negociações de acordo bilateral de segurança com Washington para registrar o descontentamento após o anúncio da intenção americana de dialogar diretamente com o Talibã. "O presidente está descontente com o nome utilizado para designar o escritório político afegão, chamado de escritório político do Emirado Islâmico do Afeganistão", disse o porta-voz presidencial.

"Somos contrários a esta denominação de ;emirado islâmico do Afeganistão; pela simples razão de que esta entidade não existe. Os americanos estão a par da posição do presidente Karzai", afirmou Aimal Faizi. A suspensão do acordo, que deve definir as modalidades da presença americana no Afeganistão ao fim da missão de combate da Otan, em 2014, foi decidida após uma "reunião excepcional" entre o presidente afegão, seus assessores e a equipe responsável pela segurança nacional.

Em resposta à suspensão de negociações, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, declarou em Berlim que espera que o processo de reconciliação no Afeganistão continue, apesar da reação de Cabul aos contatos diretos entre Washington e os islamitas talibãs. "Espero que o processo continue, apesar dos desafios", afirmou Obama, em coletiva de imprensa. Mas o porta-voz de Karzai declarou à AFP que há uma "contradição entre o que o governo americano diz e o que ele faz sobre as negociações de paz no Afeganistão".

A tensa relação entre Karzai e Washington provocou disputas públicas no passado, mas muitos afegãos também reagiram com ceticismo à notícia de que o Talibã está pronto para negociações de paz. "É um erro histórico dos Estados Unidos reconhecer e dar legitimidade a uma rede terrorista que mata todos os dias civis afegãos, mulheres e crianças", considerou Shukria Barakzai, deputada afegã. O governo afegão assumiu na terça-feira oficialmente o controle da segurança do país, que estava nas mãos da Otan desde 2001.

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