Agência France-Presse
postado em 20/06/2013 15:45
Ramallah - Menos de três semanas após a sua nomeação, o primeiro-ministro palestino, Rami Hamdallah, apresentou nesta quinta-feira a sua demissão após divergências com seus dois vice-primeiros-ministros, em um novo episódio da crise na Autoridade Palestina.
O presidente Mahmud Abbas não indicou se aceitará a demissão de Hamdallah, um respeitado acadêmico pouco conhecido no exterior, nomeado no dia 2 de junho para suceder Salam Fayyad, que também havia pedido demissão.
Ele tomou essa decisão "em razão de desentendimentos em relação às prerrogativas", confirmou uma fonte do gabinete do primeiro-ministro demissionário, aparentemente frustrado por ter que dividir seus poderes com os dois vice-primeiros-ministros impostos por Abbas.
Depois de assumir suas funções em 6 de junho, Hamdallah entrou em rota de colisão com dois vice-primeiros-ministros, o deputado Ziad Abu Amr e Mohammad Mustafa, presidente do Fundo de Investimento da Palestina (FIP) e conselheiro econômico do presidente.
Mustafa havia concedido sua primeira entrevista coletiva à imprensa ao final do primeiro Conselho de Ministros, em 11 de junho, insistindo na necessidade de sanear as finanças da Autoridade Palestina, como uma dívida em torno de 3,2 bilhões de euros.
Governo de união nacional
Desde a sua nomeação, Hamdallah havia dito que queria rapidamente se dedicar à formação de um governo de união nacional, como previam os acordos de reconciliação entre o Fatah de Mahmud Abbas e o Hamas. "Este governo fez parte dos esforços de reconciliação. Espero que no dia 14 de agosto o presidente Abbas forme um novo governo, em virtude do acordo entre o Hamas e o Fatah", havia afirmado.
Durante uma reunião no Cairo em 14 de maio, Fatah e Hamas, que governam respectivamente as zonas autônomas da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, estabeleceram um prazo de três meses para aplicar as principais cláusulas de seus acordos de reconciliação, que registram sucessivos fracassos há mais de dois anos.
Esses acordos assinados no Cairo (abril/maio de 2011) e em Doha (fevereiro de 2012) estabelecem que os governos rivais devem ceder lugar a um executivo transitório sem partido encarregado de organizar eleições em um prazo de três meses "Seria melhor que esse governo fosse um governo de união nacional, mas não conseguimos, na ausência de um consentimento do Hamas sobre a realização de eleições até o momento", havia declarado Mahmud Abbas após a posse. A maior parte dos ministros pertence ao atual governo.
A maioria absoluta dos palestinos (59%) aprovou a nomeação de Rami Hamdallah para suceder Salam Fayyad, que teve sua saída apoiada por dois terços da opinião pública, segundo uma pesquisa divulgada na segunda-feira. A maioria relativa (40%) considera que a Autoridade Palestina se tornou um fardo, contra 30% que a consideram uma "conquista", indica essa pesquisa.
Aos 54 anos, presidente desde 1998 da Universidade Al-Najah de Nablus, no norte da Cisjordânia, Hamdallah é também secretário-geral da Comissão Eleitoral Central (CEC) e presidente do diretório da Bolsa palestina, com sede em Nablus. Ligado ao Fatah e membro do diretório da Fundação Yasser Arafat, dedicada à memória do falecido presidente palestino, ele é doutor em Linguística Aplicada da Universidade britânica de Lancaster.
Dez dias após a posse de seu governo, ele visitou a mesquita Al-Aqsa, em Jerusalém Oriental, ocupada e anexada por Israel, a primeira de um chefe de governo palestino. Ele recusou na época a escolta das forças israelenses para essa rara visita ao terceiro lugar sagrado do Islã.