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Presidente palestino Mahmoud Abbas, aceita renúncia de primeiro-ministro

"Ele pediu para que Hamdala permaneça no cargo para tratar dos assuntos correntes até a escolha de um outro primeiro-ministro para formar um novo governo", disse Mahmoud Abbas

Agência France-Presse
postado em 23/06/2013 09:01

Ramallah - O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, aceitou a renúncia de seu primeiro-ministro Hamdala Rami, menos de três semanas após a sua nomeação, mergulhando a Autoridade Palestina em uma nova crise. Hamdallah apresentou a sua demissão na quinta-feira, após divergências com seus dois vice-primeiros-ministros. Após uma reunião com Abbas na sexta-feira, Hamdala voltou atrás e retirou sua demissão, mas depois de mais uma reunião neste domingo, o presidente decidiu aceitá-la.

"O presidente Abbas aceitou a renúncia de Hamdala depois de sua recusa em trabalhar com dois vice-primeiros-ministros", explicou um alto funcionário, após uma terceira reunião entre os dois em três dias. "Ele pediu para que Hamdala permaneça no cargo para tratar dos assuntos correntes até a escolha de um outro primeiro-ministro para formar um novo governo", acrescentou.

O porta-voz do presidente, Nabil Abu Rudeina, confirmou a demissão em um comunicado divulgado pela agência oficial de notícias Wafa. Hamdala exigia responsabilidades claras e definidas para ele como primeiro-ministro e para seus vice-primeiro-ministros conforme a lei para prevenir conflitos de poderes que se sobrepõem. Ele foi nomeado em 6 de junho para formar o governo junto a dois vice-primeiros-ministros, o deputado Ziad Abou Amr e Mohammad Moustapha, presidente do Fundo de Investimento da Palestina (FIP) e conselheiro econômico do presidente.

"Resultado previsível"


"O que incendiou a questão foi o mandato concedido a Mohammad Moustapha pelo presidente Abbas para assinar acordos com o Banco Mundial", e essa tarefa fazia parte das prerrogativas de Fayyad, explicou à AFP uma fonte ligada a Hamdallah. Este episódio revela a profundidade da crise na Autoridade Palestina, segundo políticos e observadores.

A renúncia de Hamdallah "traduz a profundidade da verdadeira crise atravessada pelas instituições da Autoridade Palestina em razão da existência de muitos centros de poder e conflitos de prerrogativas", considerou em um comunicado o Hamas, no poder em Gaza. "Esta é a principal razão para a divisão e o bloqueio do processo de reconciliação levou a este resultado previsível", assegurou o Hamas, que pediu a "implementação de todas as cláusulas do Acordo do Cairo, incluindo a formação um governo de reconciliação nacional".

Desde sua nomeação, Hamdallah disse que desejava se retirar rapidamente do cargo em favor de um governo de unidade nacional, no âmbito dos acordos de reconciliação entre o Fatah, de Mahmoud Abbas, e o Hamas, que governa as áreas autônomas da Cisjordânia e Gaza respectivamente. Durante uma reunião no Cairo em 14 de maio, Fatah e Hamas, que governam respectivamente as zonas autônomas da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, estabeleceram um prazo de três meses para aplicar as principais cláusulas de seus acordos de reconciliação, que registram sucessivos fracassos há mais de dois anos.

"Quem conhece Hamdallah o descreve como um homem forte e íntegro, de posições e princípios patrióticos. É por isso que ficaram surpresos com a notícia de que aceitaria o cargo, mas não com a sua rápida saída", comentou em um editorial o jornal pan-árabe Al-Quds al-Arabi. "A selva de Mukata;ah (sede da Presidência) em Ramallah não permite que uma pessoa com essas características sobreviva no meio de leões e hienas", de acordo com o jornal, para quem "Hamdallah quer ser um verdadeiro primeiro-ministro e ter a palavra final nos assuntos do governo, enquanto a Autoridade quer fazer dele um mero fantoche".

A maioria absoluta dos palestinos (59%) aprovou a nomeação de Rami Hamdallah para suceder Salam Fayyad, que teve sua saída apoiada por dois terços da opinião pública, segundo uma pesquisa divulgada na segunda-feira.

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