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Empresário francês Tapie está en prisão preventiva e será interrogado

Tapie será interrogado pela polêmica arbitragem judicial que lhe permitiu receber mais de 400 milhões de euros do Estado, em um caso que envolve a atual chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde

Agência France-Presse
postado em 24/06/2013 15:19
Bernard Tapie, personagem típico da política francesa, passou por épocas de glória e de ruína, foi empresário, ministro e até ator quando perdeu a fortuna nos negócios

PARIS
- O empresário francês Bernard Tapie foi posto nesta segunda-feira (24/6) em prisão preventiva para ser interrogado pela polêmica arbitragem judicial que lhe permitiu receber mais de 400 milhões de euros do Estado, em um caso que envolve a atual chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, informou uma fonte próxima ao processo.

Essa arbitragem por seu litígio com o banco Crédit Lyonnais estava relacionado à venda, no começo dos anos 1990, da empresa de roupas esportivas Adidas, propriedade de Tapie, e obrigou o Estado francês a indenizar o empresário em mais de 400 milhões de euros. Jean Bruneau, ex-presidente da associação de pequenos acionistas da sociedade BTF (Bernard Tapie Finances), também foi detido, segundo a mesma fonte.

Tapie está sendo interrogado no hospital parisiense Hôtel-Dieu, que dispõe de uma sala apta para os detidos que precisam de atenção médica. No momento é desconhecida a razão da escolha deste lugar. Desde o final de maio, três pessoas foram condenadas por "fraude em grupo organizado" nesta causa. Christine Lagarde, que naquela época era ministra da Economia do governo do presidente Nicolas Sarkozy (direita), foi declarada "testemunha assistida", um status intermediário entre o de testemunha e de acusada. A detenção preventiva pode se prolongar por quatro dias.



Bernard Tapie, personagem típico da política francesa, passou por épocas de glória e de ruína, foi empresário, ministro e até ator quando perdeu a fortuna nos negócios. Há cinco anos, um tribunal arbitral lhe outorgou 403 milhões de euros de indenizações, pagos pelo Estado, pondo fim a um litígio com o banco (então estatal) Crédit Lyonnais pela venda, em 1993, da Adidas, que ele tinha adquirido três anos antes.

Os juízes de instrução suspeitam que a arbitragem judicial privada foi fraudada em benefício de Tapie e investigam que tipo de relação existia entre o empresário, a presidência francesa e o Ministério da Economia, assim como seus vínculos com os juízes-árbitros.

"Simulacro de arbitragem"


Três pessoas foram acusadas nesta causa por "fraude em grupo organizado": Stéphane Richard, atual presidente do grupo de telecomunicações Orange e, na época, diretor de gabinete da ministra da Economia Christine Lagarde; Jean-François Rocchi, ex-diretor do Consórcio de Realização (CDR, que administrava o passivo do Crédit Lyonnais) e um dos juízes-árbitros, Pierre Estoup. Ao acusá-los, os juízes consideraram que os três poderiam ter participado em um "simulacro de arbitragem" com o objetivo de que o Estado e suas agências "aceitassem um compromisso contrário a seus interesses".

Christine Lagarde foi declarada "testemunha assistida" no final de maio pela Corte de Justiça da República, a única instância que pode julgar na França os ministros por atos cometidos durante o exercício de suas funções.

Uma data chave do caso parece ser uma reunião realizada no final de julho de 2007 no palácio presidencial do Eliseu, em que participaram, segundo Richard, o secretário geral da presidência Claude Guéant, o secretário geral adjunto François Pérol, Rocchi, o conselheiro de justiça da presidência Patrick Ouart e também Tapie.

Nessa reunião, Claude Guéant resolveu a questão: "Vamos fazer uma arbitragem", disse, segundo as declarações de Richard aos investigadores. Guéant será, sem dúvida, convocado em breve pelos juízes, que já realizou registros de seu escritório e de sua residência.

Sobre a reunião no Eliseu, Tapie multiplicou as declarações à imprensa, dando a entender que participou dela. Apesar de, segundo disse à AFP, não se lembrar dessa reunião "nessa data", Tapie explicou que sua participação na reunião parece "lógica" para "explicar sua posição" sobre a arbitragem. A investigação também demonstrou que Tapie esteve em várias datas com o então presidente Nicolas Sarkozy em 2007 e 2008.

Tapie deverá esclarecer aos juízes seus vínculos com o juiz Pierre Estoup, a quem ofereceu, em 1998, um livro com uma dedicatória dizendo: "Seu apoio mudou o curso de meu destino".

O jornal ;Le Monde; revelou que os investigadores também estão estudando uma possível tentativa de intervenção de Estoup para favorecer Tapie em um juízo sobre as contas do clube Olympique de Marsella, que o empresário dirigiu.

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