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Tensão entre Comissão Europeia e França se agrava no auge eleitoral

Em um novo episódio da tensão entre Bruxelas e França, o presidente do CE, José Manuel Durão Barroso, afirmou que "alguns soberanistas de esquerda têm o mesmo discurso da extrema direita"

Agência France-Presse
postado em 24/06/2013 21:13
Bruxelas - A Comissão Europeia (CE) rejeitou nesta segunda-feira com virulência as críticas de um ministro francês que atribuiu o auge eleitoral da ultradireita às políticas econômicas ortodoxas impostas por Bruxelas.

Em um novo episódio da tensão entre Bruxelas e França, o presidente do CE, José Manuel Durão Barroso, afirmou que "alguns soberanistas de esquerda têm o mesmo discurso da extrema direita".

"Seria bom que alguns líderes entendessem que não chegarão muito longe se atacarem a Europa ou buscarem transformar a Comissão Europeia no bode expiatório de suas dificuldades", disse Barroso em uma entrevista coletiva à imprensa.

Barroso respondeu dessa forma às recentes declarações do ministro francês do Desenvolvimento Industrial, Arnaud Montebourg, que havia acusado a União Europeia (UE) de imobilismo, em meio a uma prolongada crise da dívida, que deixou mais de 26 milhões de pessoas sem emprego no bloco (mais de 19 milhões na zona euro).

Montebourg acusou também Barroso de ser "o combustível" dos partidos de extrema direita, claramente anti-europeia.

"A UE não se move, é imóvel, está paralítica", dando razão aos "soberanistas" da Europa, disse o ministro, do Partido Socialista francês.



Montebourg também acusou o chefe da CE de ser "o combustível da Frente Nacional" (o partido de extrema direita francês).

As declarações do ministro francês foram feitas poucos dias depois de Barroso ter chamado de "reacionária" a postura da França de exigir a cláusula de exceção cultural no projeto de tratado comercial entre a UE e os Estados Unidos.

Os ministros europeus do Comércio deram luz verde à CE para que iniciasse as negociações com os Estados Unidos sobre um novo acordo de livre comércio. Mas para obter a unanimidade, os vinte e sete integrantes aceitaram, como exigia a França, excluir o setor audiovisual dos debates, com o objetivo de proteger a indústria europeia do cinema de Hollywood.

"Isto faz parte de um programa antiglobalização que considero totalmente reacionário", disse Barroso em uma entrevista concedida ao International Herald Tribune, referindo-se ao governo francês de Francois Hollande.

Depois disso, Jean-Christophe Cambadélis, secretário do Partido Socialista para Assuntos Internacionais, disse que Barroso "deveria se corrigir ou sair".

Os ataques à Comissão aumentaram nos últimos dias diante da falta de soluções para a prolongada crise da dívida, pouco antes das eleições europeias, previstas para maio de 2014.

Recentemente, o executivo comunitário precisou se defender dos resultados de um relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre o primeiro resgate à Grécia (2010), voltando a enfrentar instituição com sede em Washington.

"Discordamos totalmente da ideia de que não foram feitos os esforços necessários para identificar as reformas estruturais e impulsionar o crescimento", disse então o porta-voz comunitário, Simon O;Connor.

O FMI admitiu erros em 2010, mas também culpou seus sócios gregos e europeus, assegurando que não estavam preparados para a crise e para as difíceis decisões que deveriam ser tomadas.

O fundo indicou inclusive que haveria problemas de coordenação com Bruxelas e com o BCE sobre esse primeiro resgate de 110 bilhões de euros.

Mas esta não é a primeira vez que FMI e CE divergem em suas análises. No início do ano, o economista-chefe do Fundo, Olivier Blanchard, afirmou (em um relatório elaborado com Daniel Leigh) que as previsões do FMI tinham subestimado o impacto da austeridade nos países europeus.

Em outras palavras, ele admitiu que as medidas de austeridade tinham agravado a recessão mais do que o previsto.

Um dos momentos de maior tensão entre o FMI e a UE foi durante o polêmico resgate ao Chipre, estabelecido em março.

A troica foi muito criticada por sua gestão do resgate de 17 bilhões de euros ao Chipre, o equivalente ao PIB da ilha, que em um primeiro momento pretendia taxar as poupanças de menos de 100.000 euros, algo ilegal segundo a garantia de depósitos europeia.

O acordo foi rejeitado pelo Parlamento cipriota, deixando em evidência a falta de coordenação entre a troica e as autoridades da ilha.

O Eurogrupo teve que aprovar um segundo plano de resgate para o país, prevendo que as perdas fossem assumidas pelos donos de poupanças com mais de 100.000 euros, acionistas e credores de dívidas júnior e sênior.

As divergências entre o FMI, que contribuirá com 1 bilhão de euros para o resgate, e os europeus, chegaram a suscitar rumores de um fim da troica para os futuros resgates.

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