Agência France-Presse
postado em 25/06/2013 15:32
MOSCOU - O presidente russo, Vladimir Putin, pôs fim ao mistério e revelou que Edward Snowden, o ex-funcionário da Agência de Segurança Nacional (NSA) americana procurado pelo governo dos Estados Unidos por espionagem, permanece na zona de trânsito do aeroporto de Moscou. "Snowden realmente chegou a Moscou. Para nós, foi algo totalmente inesperado", anunciou o presidente russo.
O americano de 30 anos, que revelou dados sobre o programa de espionagem da NSA, assim como do monitoramento de ligações telefônicas e da internet nos Estados Unidos e no exterior, teria deixado Hong Kong em direção a Moscou sem ter sido visto por ninguém.
Para a organização WikiLeaks, Snowden poderia ficar preso "permanentemente" na Rússia, caso os Estados Unidos continuem a intimidar os países envolvidos no caso. "Cancelar o passaporte de Snowden e intimidar países intermediários poderia manter Snowden permanentemente na Rússia", afirmou a organização em sua conta no Twitter.
Segundo Putin, o americano "chegou como passageiro em trânsito e, como tal, não necessita de visto nem de qualquer outro documento". O presidente russo lembrou que a Rússia não tem tratado de extradição com os Estados Unidos, que exigem a entrega do jovem.
[SAIBAMAIS]É "um homem livre. O quanto antes escolher o seu destino final, melhor será, para todos nós e para ele", declarou o presidente, descartando a possibilidade de um encontro com Snowden, em um momento em que as relações com Washington estão claramente tensas por causa deste caso.
O americano, que se refugiou em Hong Kong em 20 de maio, teria viajado no domingo a Moscou em um voo da companhia russa Aeroflot. No entanto, Snowden não é visto desde que foi anunciada sua presença na Rússia, nem o local em que se encontraria foi informado. No entanto, o secretário de Estado americano, John Kerry, considerou na segunda-feira "muito decepcionante" e "profundamente preocupante" que Edward Snowden tenha conseguido viajar sem problemas de Hong Kong para Moscou.
Kerry disse ainda que o incidente pode ter "consequências" nas relações, já tensas, de seu país com Rússia e China. Essas declarações foram rejeitadas por Pequim e Moscou. "As acusações contra o governo central chinês carecem de fundamento", afirmou a porta-voz da diplomacia chinesa, Hua Chunying, enquanto o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, declarou que são "totalmente infundadas e inaceitáveis as tentativas de acusar a Rússia de ter violado as leis dos Estados Unidos". "Todas as acusações contra a Rússia são delirantes e são tolices", afirmou Putin, acrescentando que o serviço secreto russo nunca trabalhou e não trabalhará com Snowden.
Acusado de espionagem, Edward Snowden pode ser condenado a 30 anos de prisão nos Estados Unidos. Após sua chegada à capital russa, fontes indicaram que Snowden pretende viajar para Havana e prosseguir em seguida para o Equador, país ao qual pediu asilo político. Mas o ex-agente não foi visto a bordo, o que gerou boatos e informações contraditórias sobre o seu paradeiro. Snowden está "bem e seguro", afirmou o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, em uma coletiva de imprensa por teleconferência a partir da embaixada do Equador em Londres, onde está refugiado há um ano.
O presidente equatoriano, Rafael Correa, afirmou na segunda-feira que seu país estuda de forma "muito responsável" o pedido de asilo político apresentado por Edward Snowden. O Equador concedeu asilo a Julian Assange, também procurado pelos Estados Unidos por ter publicado em 2010 milhares de documentos diplomáticos confidenciais.
Muito irritado com Hong Kong, que deixou Snowden partir por questões jurídicas, a Casa Branca exigiu que a Rússia "estude todas as opções a sua disposição para expulsar Snowden". Uma fonte indicou à agência Interfax que Moscou estuda o pedido de extradição apresentado pelos Estados Unidos. Mas outra fonte declarou que o jovem não pode ser preso enquanto não atravessar a fronteira russa. O caso pode agravas as tensões entre a Rússia e os Estados Unidos, em um momento em que os dois países tentam encontrar uma solução para o conflito sírio.
John Kerry e Serguei Lavrov devem se reunir na próxima semana no Brunei, segundo o serviço de imprensa do Ministério russo das Relações Exteriores. Em uma entrevista concedida ao South China Morning Post em 12 de junho, mas publicada apenas nesta terça, Snowden afirma ter trabalhado em uma empresa que prestava consultoria para a ANS com o objetivo de obter provas do vasto programa americano de espionagem das comunicações. "Minhas funções na Booz Allen Hamilton permitiam que eu acessasse as listas de máquinas (computadores, telefones celulares) espionadas no mundo pela NSA. Por isso aceitei o cargo".
Edward Snowden trabalhava para a Booz Allen Hamilton, no Havaí, como administrador dos sistemas de informática da NSA e tinha acesso a uma grande quantidade de documentos sensíveis relacionados ao programa de vigilância. A empresa demitiu o jovem americano depois que ele revelou à imprensa informações confidenciais.