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Cinco anos após a liberdade, Betancourt defende perdão na Colômbia

Ingrid Betancourt foi resgatada por um helicóptero militar da Força Aérea brasileirado poder da guerrilha das Farc

Agência France-Presse
postado em 28/06/2013 16:52
BOGOTÁ - Cinco anos após sua libertação, Ingrid Betancourt não esquece aquele 2 de julho de 2008, quando um helicóptero militar da Força Aérea brasileira a resgatou do poder da guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), mas esta ex-refém, que levou um "tempo para se reconstruir", defende o "perdão" como elemento-chave para a paz na Colômbia.

Longe da selva, onde passou mais de seis anos aprisionada, esta franco-colombiana, transformada em símbolo do conflito que assola há meio século este país latino-americano, lembra desse momento como uma ressurreição.

"Há uma satisfação por ter conseguido sobreviver, é um sentimento bastante primário, mas é assim", admite Betancourt em entrevista exclusiva concedida à AFP por videoconferência em Londres, onde faz doutorado em Teologia na respeitada Universidade de Oxford.

Recentemente, fazendo uma limpeza, encontrou em uma caixa os objetos que a acompanharam em seu cativeiro: seu rádio, um relógio "que sempre mostra exatamente a hora da selva", seu uniforme, suas meias, sua roupa íntima.

"A sensação que tomou conta de mim ao tirar essas lembranças foi totalmente diferente da que tive quando as guardei", lembra.

As recordações precisas de seu resgate, durante uma operação na qual o Exército enganou as Farc, permanecem intactas. "Ainda vejo o movimento do capim quando o helicóptero pousou em um campo de coca".

O que mudou foi a visão sobre si mesma após esse episódio, do qual diz ter saído "mais humana". A volta à liberdade foi "muito violenta", destaca, porque "a gente encontra um mundo ao qual não pertence mais" e no qual desapareceram "todas as certezas".

Ex-candidata ecologista à Presidência colombiana, capturada pelas Farc durante a campanha eleitoral, ela não teve forças para voltar à "dura arena da vida política".



Mas outras provações a esperavam. Ela teve de enfrentar a incompreensão dos comitês de apoio na França e, principalmente, uma violenta polêmica na Colômbia, onde muitos a criticaram por ter pedido indenização ao Estado, ao qual ela critica por não ter garantido sua proteção.

"Esta história me afetou muito, acho que foi injusto, o que senti como uma grande maldade", lembra Betancourt, que renunciou ao processo. "Isso prolongou o tempo de que precisei para me recuperar", continua.

Olhando para o futuro, a ex-refém quer acreditar no êxito das negociações de paz entre o governo e as Farc, que transcorrem há seis meses em Cuba.

Segundo ela, "evidentemente, o perdão é um elemento central, mas não um perdão dado como uma esmola. Na Colômbia, todos somos responsáveis por esta guerra atroz. Todos fazemos parte de uma geração que, com o perdão, deve assumir esta responsabilidade".

A eventualidade de uma suspensão de penas para os guerrilheiros arrependidos, um dos pontos cruciais das negociações, não a incomoda. Ao contrário. "Não podemos continuar com uma justiça de vingança, a paz exigirá que nós aceitemos algum grau de impunidade, é inevitável", afirma.

Seu carcereiro, um dos comandantes das Farc, que foi capturado quando ela foi libertada, há cinco anos cumpre sua pena de prisão. Betancourt lembra sua conduta particularmente agressiva. Estaria disposta a perdoá-lo?

"A vida deu a ele a oportunidade de compreender o que nos fez sofrer, porque agora é prisioneiro, como fomos nós. Se o tivesse diante de mim, simplesmente o abraçaria", respondeu.

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