Agência France-Presse
postado em 01/07/2013 10:11
Begawan - O secretário de Estado americano, John Kerry, admitiu nesta segunda-feira (1;/7) que "não é incomum" buscar informação sobre outros países, em plena controvérsia sobre as revelações de que a Agência Nacional de Segurança (NSA) americana teria espionado representantes da União Europeia e de outros continentes e milhões de cidadãos estrangeiros. Kerry se reuniu em Brunei com a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, mas recusou-se a comentar a controvérsia provocada pelas alegações de espionagem da NSA."Lady Ashton se referiu a isso comigo hoje, e concordamos em seguir em contato. Aceitei averiguar de que se trata, e informarei a ela sobre minhas conclusões", declarou Kerry à imprensa. "Posso dizer que todos os países do mundo que estão envolvidos em assuntos internacionais, de segurança nacional, realizam muitas atividades para proteger sua segurança nacional, e ter todo tipo de informação contribui para isso", explicou. "O que sei é que não é incomum em muitos países", disse Kerry, "mas não farei mais comentários até conhecer todos os fatos e saber exatamente de que se trata", acrescentou.
[SAIBAMAIS]Kerry se reuniu com Ashton à margem de uma reunião de ministros das Relações Exteriores da Ásia-Pacífico em Brunei, em plena polêmica sobre os programas de espionagem americanos revelados por um ex-consultor da NSA. Os europeus exigiram explicações sobre o programa de espionagem americano, que teria afetado instituições da UE e milhares de cidadãos europeus. O jornal britânico The Guardian afirmou no domingo que França, Itália e Grécia estão entre os 38 alvos vigiados pela agência americana.
Quebra de confiança
Nesta segunda-feira, a União Europeia (UE) advertiu os Estados Unidos sobre o risco de uma "quebra de confiança" após as revelações deste programa de espionagem e disse que, caso ela seja confirmado, haverá "consequências políticas". "Se for confirmado que os americanos espionaram seus aliados haverá consequências políticas. Isto supera de longe as necessidades da segurança nacional. É uma quebra de confiança", disse à AFP um responsável europeu.
Já o presidente francês, François Hollande, pediu que os Estados Unidos parem imediatamente com a espionagem da União Europeia e disse que a França não pode "aceitar este tipo de comportamento". "Não podemos aceitar este tipo de comportamento entre sócios e aliados", disse Hollande nesta segunda-feira. "Pedimos que parem imediatamente", acrescentou o presidente francês. Além disso, o porta-voz da chefe de Governo alemão, Angela Merkel, pediu que os Estados Unidos "restabeleçam a confiança com seus aliados europeus após as revelações".
"Europa e Estados Unidos são sócios, amigos, aliados. A confiança tem que ser a base de nossa cooperação e é preciso restabelecê-la neste campo. Isto já não é a Guerra Fria", disse o porta-voz do governo alemão, Steffen Seibert. Diante do dilúvio de documentos vazados pelo ex-consultor americano da NSA Edward Snowden, a UE ameaçou inclusive com possíveis consequências sobre a negociação de uma zona de livre comércio transatlântica. "Entre aliados não nos espiamos", lançou no domingo em Luxemburgo a Comissária Europeia de Justiça, Viviane Reding.
"Não se pode negociar um grande mercado transatlântico se há a menor dúvida de que nossos sócios realizam escutas nos escritórios dos negociadores europeus", afirmou, e pediu que os "Estados Unidos dissipem estas dúvidas rapidamente". A reação da Itália nesta segunda-feira foi, no entanto, mais moderada, ao afirmar que acredita nas explicações dos Estados Unidos sobre o tema, afirmou em uma nota a ministra das Relações Exteriores, Emma Bonino. A Direção Nacional de Inteligência dos Estados Unidos (ODNI), que reúne as 17 agências de informação do país - entre elas a NSA - havia indicado em um comunicado que os Estados Unidos iriam "responder de forma adequada" à UE e aos seus Estados-membros pelos canais diplomáticos.
Entretanto, Snowden, na origem destas revelações e exigido pela justiça dos Estados Unidos por espionagem, já está há vários dias na zona de trânsito do aeroporto de Moscou-Sheremetievo, onde chegou na semana passada procedente de Hong Kong. O ex-consultor da NSA pediu asilo político ao Equador, que continua estudando o pedido.