Agência France-Presse
postado em 03/07/2013 15:27
ISTAMBUL - Um tribunal de Istambul anulou o polêmico projeto de reforma urbanística da Praça Taksim, que originou a onda de protestos contra o governo da Turquia durante três semanas, indicou nesta quarta-feira (3/7) a imprensa turca.
Em sua decisão, tomada no início de junho, mas que teve seus detalhes revelados apenas nesta quarta por vários jornais turcos em seus sites, a Primeira Corte Administrativa justificou a anulação pelo fato de a "população local" não ter sido consultada sobre o projeto. O governo ainda pode apelar da decisão.
O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, principal alvo dos manifestantes, havia anunciado no auge da crise, em 14 de junho, que seu governo conservador islâmico respeitaria a decisão final da justiça neste caso e que suspenderia os polêmicos trabalhos de revitalização da praça até um julgamento definitivo.
O tribunal argumentou que sua decisão foi tomada porque "o plano diretor do projeto viola as regras de preservação em vigor e a identidade da praça e do Parque Gezi", ao lado da Taksim, segundo a decisão citada pelos jornais Zaman e Hürriyet.
O movimento "Solidariedade Taksim", que representa os manifestantes e é composto principalmente por grupos de urbanistas e arquitetos, saudou a decisão da corte, afirmando que esta concluiu que o "projeto de caráter ilegal não é do interesse público".
"Esta decisão provou a legitimidade da luta travada por nosso povo", indica um comunicado do movimento. "A legitimidade do maior combate da história de nosso povo pela democracia, pela cidade e pelos direitos humanos foi confirmada novamente por uma decisão da justiça", ressalta o texto.
No dia 31 de maio, a polícia turca agiu com violência para retirar algumas centenas de militantes ambientalistas do Parque Gezi que se opunham ao corte de suas 600 árvores como parte de um projeto de reforma urbanística da Praça Taksim.
Esse projeto, defendido pelo chefe de governo Erdogan e pelo ex-prefeito de Istambul, prevê a reconstrução de um antigo quartel otomano na praça do parque e a construção de túneis, hoje praticamente arquivada, para fazer da praça uma área de pedestres.
A violência dessa intervenção suscitou a revolta de muitos turcos e transformou o movimento de defesa do Parque Gezi em uma vasta onda de contestação política contra o governo, no poder desde 2002.
De acordo com estimativas da Polícia, cerca de 2,5 milhões de pessoas saíram às ruas em cerca de 80 cidades durante três semanas para exigir a renúncia de Erdogan, acusado de uma guinada autoritária e de querer "islamizar" a sociedade turca.
O Parque Gezi foi ocupado por mais de duas semanas por milhares de manifestantes, que foram retirados definitivamente do local à força no dia 15 de junho.
Essas manifestações sem precedentes deixaram quatro mortos e cerca de 8.000 feridos, segundo a Associação dos Médicos.