Diante da deposição do presidente Mohamed Morsy pelas Forças Armadas egípcias, as incertezas sobre o futuro político da nação, que elegeu seu primeiro chefe de Estado civil há pouco mais de um ano, crescem. Na Praça Tahrir, a população que exigia a saída do mandatário celebrou a ação militar como uma grande vitória e evitou o uso do termo ;golpe;. Contudo, na avaliação de Cesário Melantônio Neto, emissário do Brasil para o Oriente Médio mais Turquia e Irã, o que ocorreu no Egito foi sim um golpe, que torna crítica a situação da nação africana. Em entrevista ao Correio, Melantônio Neto ressalta que ainda é preciso aguardar os desdobramentos da retirada de Morsy de seu posto para que conclusões concretas sejam feitas e avalia que o jovem processo de democratização do país só será consolidado quando as forças políticas que dividiram o país se unirem para trabalhar lado a lado por reformas.
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Que avaliação o senhor faz da ação das Forças Armadas egípcias?
Foi um golpe, embora haja apoio da população. Vamos ver como será o processo de transição. O presidente do Conselho Supremo Constitucional, que é equivalente ao Supremo Tribunal Federal no Brasil, assumiu o poder e serão feitas novas eleições parlamentares e presidenciais, mas temos de ver como será constituído esse governo de união nacional, se terá membros da Irmandade Muçulmana ou não. É preciso lembrar que os membros da oposição, como Mohamed Elbaradei, declararam se tratar de um golpe de Estado. Há vários membros da oposição que querem um processo democrático e que os militares se subordinem ao poder civil e não que os civis se subordinem aos militares, como era na ditadura. Precisamos ver como é que essas forças políticas vão se acomodar.
Qual deve ser o posicionamento do governo brasileiro nesse caso?
Estamos avaliando. Não podemos tirar uma conclusão quando o processo está em curso. Estamos acompanhando com atenção, pois o Egito interessa muito para o Brasil. É o maior país árabe e tem essa posição estratégica, com o Canal de Suez em seu território e ao lado de países que passaram por processos revolucionários complicados.