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Confrontos entre partidários e opositores de Morsy deixam 19 mortos

Em Alexandria, no norte do Egito, doze pessoas morreram e 460 ficaram feridas e no Cairo os confrontos deixaram dois mortos

Agência France-Presse
postado em 05/07/2013 20:40
CAIRO - O Egito foi sacudido nesta sexta-feira (5/6) por violentos confrontos entre partidários da Irmandade Muçulmana, do presidente deposto Mohamed Morsy, e opositores ao movimento islâmico, que deixaram 19 mortos e centenas de feridos, em meio a onda de manifestações no país.

Em Alexandria, no norte do Egito, doze pessoas morreram e 460 ficaram feridas nos confrontos entre manifestantes favoráveis e contrários ao presidente deposto, informou a agência oficial Mena.

Uma autoridade dos serviços de saúde da cidade litorânea indicou à agência que a maior parte das vítimas foi atingida por tiros.

No Cairo, confrontos eclodiram nas imediações da Praça Tahrir entre manifestantes de ambos os lados, deixando dois mortos.

O confronto envolveu tiros, pedras e coquetéis molotov na ponte 6 de Outubro, perto da praça emblemática da capital egípcia, onde estão reunidos milhares de opositores ao presidente deposto.

O Exército anunciou que vai intervir para separar os manifestantes.

Mais cedo, quatro manifestantes pro-Morsy foram mortos pelas forças da ordem quando tentavam chegar à sede da Guarda Republicana, na região do Palácio Presidencial, segundo a agência Mena.

Em Assiout, no sul do país, uma pessoa morreu e 19 ficaram feridas em choques entre partidários de Morsy e as forças da ordem.

Mobilizados para uma "Sexta-feira de recusa" ao "golpe de Estado militar" e ao "Estado policial", o guia supremo da Irmandade Muçulmana - à qual pertence Morsy -, Mohamed Badie, se apresentou diante da multidão para estimular os partidários do movimento a permanecerem nas ruas "aos milhões" até que o presidente deposto seja restituído ao poder.

"Nós já vivemos sob um regime militar e não o aceitaremos novamente", alertou. Badie se referiu, com isso, aos 16 meses em que o Exército assumiu as rédeas do executivo entre a saída de Hosni Mubarak, derrubado por uma revolta popular em fevereiro de 2011, e a eleição de Mursi em junho de 2012.

Durante seu discurso, helicópteros militares sobrevoavam a multidão a baixa altitude.

As novas autoridades estabelecidas pelo Exército, após a deposição de Morsy na quarta, pareciam determinadas a formular rapidamente um "mapa do caminho" que deve levar a eleições antecipadas.



O presidente interino, Adly Mansour, nomeado pela instituição militar, dissolveu a câmara alta, que era dominada pelos islamitas, em seu primeiro decreto. Ele também nomeou um novo chefe do serviço de inteligência.

Após uma onda de detenções de lideranças da Irmandade Muçulmana, à qual pertence Morsy, o procurador-geral anunciou que operações de busca e apreensão serão realizadas contra nove delas - incluindo Badie - como parte de uma investigação por incitação ao assassinato" de manifestantes.

Na madrugada deste sábado, foi detido Khairat al-Chater, vice do Guia Supremo da Irmandade Muçulmana egípcia, informou à AFP um oficial do ministério do Interior.
Confronto entre partidários e opositores de Morsy em Cairo
"Khairat al-Chater e seu irmão estão presos sob ordem judicial. Eles se entregaram sem violência" em uma casa no subúrbio de Nasr City, leste do Cairo, acrescentou o oficial.

À tarde, milhares de partidários de Morsy deixaram uma mesquita de Nasr City gritando "Mohamed Morsy é nosso presidente" e "Traidores", e chegaram à entrada da sede da Guarda Republicana, situada perto do palácio presidencial.

Depois, eles tentaram afixar nas barreiras de arame farpado que cercam o edifício uma imagem do ex-chefe de Estado, ainda detido pelo Exército, bradando em diversas oportunidades advertências aos soldados. Tiros foram disparados, matando quatro pessoas, segundo a agência oficial Mena. Eles anunciaram que realizarão um ;sit-in; (manifestação em que as pessoas se mantem sentadas) diante do prédio até o restabelecimento do presidente.

Em resposta à "Sexta-feira de recusa", a oposição a Morsy convocou grandes manifestações, em particular para domingo, "em defesa da revolução de 30 de junho", em referência ao dia em que foram realizados gigantescos atos contra o presidente deposto.

No momento em que a tensão é extrema no país, cinco policiais e um soldado morreram na península do Sinai (norte), em ataques de militantes islamitas que não foram reivindicados. À noite, islamitas atacaram o governo do Sinai do Norte e hastearam sua bandeira.

== Apelos à unidade ==

Após a destituição de Morsy, o Exército pediu que os egípcios rejeitem a "vingança" e atuem em prol da "reconciliação nacional", enquanto Mansour pediu união em declarações à rede britânica Channel 4.

Embora Morsy fosse contestado pelo Ocidente, houve um grande mal-estar após a queda de um presidente eleito democraticamente.

Washington pediu na quinta que o poder não efetue "prisões arbitrárias".

A União Africana suspendeu o Egito, rejeitando "qualquer tomada ilegal do poder". O Ministério egípcio das Relações Exteriores lamentou profundamente a decisão.

Eleito em junho de 2012, Morsy era acusado por todos os males --administrações corruptas, problemas econômicos e tensões religiosas-- por seus adversários que viam nele um burocrata islamita inexperiente e ávido por poder. Ele foi derrubado pelo Exército após manifestações de magnitude inédita exigindo sua queda.

O golpe do Exército, apoiado por grande parte da população, pela oposição e por autoridades religiosas, abre caminho para um novo e delicado período de transição no país árabe mais populoso.

Para o representante da oposição, Mohamed ElBaradei, a intervenção do Exército para derrubar Morsy foi uma "medida dolorosa", mas necessária para "evitar uma guerra civil".

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