Mundo

Seguem as negociações sobre eleição de primeiro-ministro no Egito

Partidários do presidente deposto Mohamed Mursy se preparam para um novo dia de manifestações.

Agência France-Presse
postado em 07/07/2013 12:08
Cairo - As novas autoridades egípcias pareciam neste domingo (7/7) hesitar em escolher como primeiro-ministro o prêmio Nobel da Paz Mohamed ElBaradei, criticado pelos salafistas, enquanto adversários e partidários do presidente deposto Mohamed Mursi se preparavam para um novo dia de manifestações.

A eleição de ElBaradei, anunciada na véspera pela agência oficial Mena e por várias fontes políticas e militares, se choca com as reservas do partido salafista al-Nur, sócio islamita de uma coalizão que é integrada principalmente por partidos e movimentos laicos.

A presidência chegou inclusive a convocar a imprensa na noite de sábado na expectativa de um anúncio.

Mas o presidente interino Adly Mansour, designado pelos militares após um golpe de Estado para substituir Mohamed Mursi, anunciou que ainda não havia tomado uma decisão, embora a eleição de ElBaradei seja, a seu ver, "a mais lógica".

A oposição laica elegeu ElBaradei - de 71 anos, ex-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e prêmio Nobel da Paz em 2005 - como sua voz na transição aberta na era pós-Mursi.

Sua nomeação à frente do governo forneceria à transição, vigiada pelo exército, o brilho de uma personalidade reconhecida internacionalmente com firmes convicções democráticas.

No entanto, esta ação pode enfurecer os islamitas de todas as tendências, independentemente de serem partidários ou não de Mursi, que acusam ElBaradei de ser mais popular nos salões do Cairo do que entre o povo.

"ElBaradei é um tecnocrata que não será capaz de colocar fim às divisões que existem nas ruas", declarou à AFP Nader Baqar, responsável do al-Nur. "Não se pode falar de reconciliação nacional e nomear depois como primeiro-ministro o mais ferrenho opositor a Mursi", acrescentou.

Independentemente de quem for escolhido, o futuro chefe de Governo terá um papel difícil. Herdará um país à beira da falência, cujas divisões políticas se traduzem em confrontos sangrentos, e também terá que preparar eleições legislativas e presidenciais, embora a data ainda não tenha sido marcada.

Novo dia de mobilização

São esperadas neste domingo novas manifestações dos dois lados para manter a pressão das ruas tanto a favor quanto contra Mursi.

Os opositores a Mursi devem se reunir, como costuma ser habitual, na praça Tahrir, no centro da cidade, enquanto o campo do presidente deposto ocupa há vários dias os arredores da Universidade do Cairo, no bairro de Guizeh, e uma grande praça em frente a uma mesquita em Nasr City, um bairro da capital.

No norte do Sinai, perto da cidade de El-Arich, um gasoduto que transporta gás à Jordânia foi alvo de um atentado a bomba neste domingo, pela primeira vez em um ano, disseram testemunhas à AFP.

Este atentado se soma ao surto de violência que deixou 37 mortos na sexta-feira, entre eles vários policiais e um militar no Sinai. Desde 26 de junho, quando começaram os confrontos, mais de 80 pessoas morreram no país.

Os islamitas, que denunciam um "golpe de Estado militar" e a instauração de um "Estado policial", prometeram seguir nas ruas até o retorno de Mursi, primeiro presidente democraticamente eleito no país árabe mais populoso do mundo.

O influente pregador Youssef al-Qaradaoui, mentor da Irmandade Muçulmana, grupo do qual Mursi faz parte, declarou sua destituição como "nula e sem valor".

O presidente Barack Obama "repetiu que os Estados Unidos não estão alinhados nem apoiam nenhum partido político ou grupo egípcio em particular", informou no sábado a Casa Branca em um comunicado.

Já o presidente russo, Vladimir Putin, considerou que o Egito estava à beira de uma guerra civil, mas o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair, emissário do Quarteto para o Oriente Médio, defendeu a decisão do exército de derrubar Mursi, já que a alternativa era o "caos".

Mursi, acusado por opositores de acumular o poder para a Irmandade Muçulmana, está detido pelo exército, e o guia supremo, Mohamed Badie, é alvo, junto com outros oito chefes da confraria, de uma acusação de "incitação ao assassinato". O número dois da Irmandade, Khairat al-Shater, está detido.

Neste domingo, um tribunal do Cairo absolveu 12 militantes políticos conhecidos por suas ferrenhas críticas contra Mursi.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação