Agência France-Presse
postado em 10/07/2013 09:25
Cairo - A justiça egípcia ordenou nesta quarta-feira a detenção do Guia Supremo da Irmandade Muçulmana, Mohamed Badie, e de outros líderes da confraria devido aos confrontos que deixaram mais de 50 mortos na segunda-feira, aumentando a tensão que prevalece desde a destituição do presidente islamita Mohamed Mursi.Ao mesmo tempo, o novo primeiro-ministro, Hazem Beblawi, deu início às consultas para formar um governo de transição, em um clima de desconfiança entre as formações laicas anti-Mursi e de hostilidade dos partidários do ex-chefe de Estado deposto pelo Exército há uma semana.
O procurador-geral egípcio ordenou as prisões sob acusação de incitação à violência nos distúrbios ocorridos em frente à sede da Guarda Republicana do Cairo, durante uma manifestação de partidários do presidente islamita deposto Mohamed Mursi, segundo uma fonte judiciária. Ao todo, duzentas pessoas foram indiciadas nesta quarta por envolvimento nos violentos distúrbios que deixaram 51 mortos e 435 feridos.
A Irmandade Muçulmana, que convocou uma revolta após este massacre, afirmou que soldados e policiais dispararam contra os manifestantes. Já o Exército assegura ter revidado ao ataque de "terroristas armados".
Mas para a organização de defesa dos direitos humanos Anistia Internacional, "mesmo se alguns manifestantes se mostraram violentos, a resposta (do Exército) foi desproporcional e provocou as mortes e feridos entre a multidão". Badie já estava sob um mandato de prisão por eventos de violência anteriores.
Morsyi em um local seguro
Em contrapartida, Mohamed Mursi, que foi preso logo após a sua destituição, encontra-se em um local seguro e até o momento não há acusações contra ele, afirmou nesta quarta-feira um porta-voz do ministério das Relações Exteriores egípcio, Badr Abdelaty.
Enquanto a tensão continua no país, o novo primeiro-ministro, cuja nomeação terça-feira à tarde foi acompanhada pela do prêmio Nobel Mohamed ElBaradei ao cargo de vice-presidente, tenta formar um governo.
Beblawi, de 76 anos, vice-primeiro-ministro e ex-ministro das Finanças em 2011 durante o período de transição pós-Mubarak, terá a difícil tarefa de conduzir o país à reconciliação e retomar o crescimento econômico. De acordo com o porta-voz da Presidência, al-Beblawi, oferecerá postos em seu governo à Irmandade Muçulmana.
[SAIBAMAIS]
Mas esta proposta foi prontamente rejeitada pelo movimento, que afirmou que "não faz pacto com golpistas" e rejeita a oferta de integrar o novo governo egípcio".
A Irmandade também denunciou o plano de transição apresentado por Adly Mansour. "Um decreto constitucional apresentado por um homem nomeado por golpistas (...) traz o país de volta ao ponto de partida", comentou um de seus líderes, Essam al-Erian, em seu Facebook.
O plano de transição prevê, sobretudo, a aprovação de uma nova Constituição, após emendas, e a realização de eleições legislativas no início de 2014.
A principal coalizão laica no Egito, a Frente de Salvação Nacional (FSN), que rejeitou na terça-feira o plano de transição apresentado pelo presidente interino, moderou as declarações nesta quarta e anunciou que apresentará as próprias emendas.
Vários países expressaram sua preocupação com a violência que se espalhou pelo Egito, começando pelos Estados Unidos, que, contudo, se disse "cautelosamente otimistas" em relação ao calendário eleitoral proposto pelo governo egípcio interino.
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Nas ruas, partidários e opositores do presidente deposto continuam mobilizados. Em uma semana, uma centena de pessoas morreu em confrontos em todo o país. Nesta madrugada, ataques de militantes armados contra uma base da polícia e dois postos de controle fizeram dois mortos na península do Sinai (nordeste).