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Presidência venezuelana no Mercosul será mais ideológica que econômica

Segunda analistas esse caminho pode gerar divergências entre seus membros

postado em 10/07/2013 21:02

A presidência rotativa da Venezuela no Mercosul pode levar o bloco por um caminho mais político e ideológico que econômico, o que geraria, segundo analistas, mais divergências entre seus membros em um momento em que o Paraguai alerta que não voltará ao grupo durante a gestão venezuelana.

Para o ex-vice-chanceler venezuelano e ex-embaixador Milos Alcalay, o começo da presidência da Venezuela no Mercosul pode ser marcado por uma cúpula politizada pelo caso de Edward Snowden, o ex-consultor dos serviços de inteligência norte-americana que revelou um amplo programa de espionagem mundial de Washington e a quem Maduro quase diariamente oferece asilo político.

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"Em vez de tratar do delicado e difícil tema do Mercado Comum do Sul e das relações com outras regiões como a União Europeia, podem politizar a reunião (no Uruguai) com o tema de Snowden, que seria lamentável", disse Alcalay à AFP.

"A pergunta é até que ponto os outros membros do Mercosul vão permitir que ela (a presidência) seja usada como plataforma política", questiona o diretor do Centro de Estudos Latino-americanos da Universidade de Miami, Ariel Armony.

Em 2012, a entrada da Venezuela no Mercosul esteve marcado pelo discurso "anti-imperalista" do então presidente Hugo Chávez, que apresentou esta adesão como uma "derrota ao império" (por EUA) e as "burguesias lacaias, incluindo a venezuelana".

O governo de Maduro, que assumiu o poder em abril após a morte de Chávez no dia 5 de março, mantém a mesma linha e considera que a presidência da Venezuela no Mercosul marcará um triunfo "da visão geopolítica" do falecido presidente, segundo declarações do chanceler Elías Jaua.

O Mercosul "já não é só é um espaço concebido em um princípio para o livre-mercado, mas sim que foi gerando um espaço para a união política, para a união social", declarou Jaua à rede Telesur na terça à noite.

Jaua disse ainda que deve "haver um novo Mercosul" e que, para isso, a presidência venezuelana proporá estabelecer pontes com a Alba e Petrocaribe, fórum promovidos pelo chavismo, para "avançar rumo à construção de uma ampla zona de comércio justo" na América Latina.

Diferentemente de vários de seus sócios no Mercosul, a Venezuela se opõe aos tratados de livre comércio tradicionais. Já os os sócios fundadores do bloco (Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai) buscam, desde antes da entrada na Venezuela, um TLC com a União Europeia.

Os analistas concordam que o peso político internacional de Maduro não é o mesmo que o de Chávez, mas não deixam de alertar que ele continuará impulsionando uma "ideologia socialista" nos espaços de discussão durante sua gestão à frente do Mercosul, o que poderia gerar resistência de ouros países.

"Se houver uma excessiva ideologização, a Venezuela pode encontrar uma rejeição natural de parte de alguns de seus membros, especialmente do Brasil, que tem uma visão bastante instrumental do Mercosul", disse à AFP o cientista político venezuelano John Magdaleno.

O retorno do Paraguai

A presidência da Venezuela assumirá sem solucionar o retorno de Paraguai ao bloco econômico, do qual foi suspenso em junho de 2012 depois da destituição do presidente Fernando Lugo mediante um julgamento.

O Mercosul debate na sexta-feira o eventual retorno do Paraguai, no momento em que o presidente eleito dessa nação, Horacio Cartes, alerta que só aceita voltar se receber a presidência temporária, como corresponde por ordem alfabética, segundo as regras do bloco.

Nesta quarta-feira, Cartes disse que apresentará sua posição sobre a volta do Paraguai após a reunião de Montevidéu.

Para Félix Arellano, professor da escola de Estudos Internacionais da Universidade Central da Venezuela (UCV), o Mercosul suspendeu o Paraguai, que se opôs ao ingresso dos venezuelanos, para depois "fazer a Venezuela ;entrar pela janela;", o que "exacerbou as diferenças e contradições" no bloco.

Jaua afirmou à Telesur que a Venezuela não colocará "nenhum impedimento" ao retorno do Paraguai, quando Cartes assumir a presidência, e que fará "tudo o que for necessário para que o país seja reincorporado e que se sinta confortável".

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