Agência France-Presse
postado em 11/07/2013 18:49
CAIRO - O Egito se prepara para a sua primeira sexta-feira (12/7) do mês sagrado do Ramadã, que deve ser a oportunidade para novas manifestações de partidários e opositores ao presidente deposto Mohamed Morsy, em meio a um clima de tensão persistente.Nesta quinta-feira (11/7), em uma curta entrevista concedida à AFP, o novo primeiro-ministro, Hazem Beblawi, afirmou que não descarta uma participação da Irmandade Muçulmana, à qual Morsy pertence, no governo que ele se esforça para formar.
"Até o momento, não entrei em contato com ninguém", disse por telefone Beblawi, explicando que pretende identificar os melhores candidatos com base em "dois critérios": "a eficácia e a credibilidade".
"Não me preocupo com a afiliação partidária", afirmou ainda este que foi vice-primeiro-ministro e ministro das Finanças durante o primeiro período de transição, em 2011.
Ele mencionou a oferta já feita pela presidência interina. Se "alguém for proposto pelo Partido da Liberdade e da Justiça (PLJ, braço político da Irmandade Muçulmana) e se esta pessoa for qualificada", sua nomeação poderá ser discutida.
Mas esta tentativa de estender a mão foi rejeitada na quarta pelo movimento, que descartou qualquer possibilidade de fazer um pacto "com golpistas".
"Nós continuaremos nosso protesto pacífico até o fim do golpe militar e o retorno à legitimidade", comentou nesta quinta na internet o porta-voz da Irmandade Muçulmana, Ahmed Aref, convocando protestos para a primeira sexta-feira (12/7) do Ramadã.
Mais de uma semana depois da derrubada de Mohamed Morsy pelo Exército, os dois campos permanecem mobilizados.
Os anti-Morsy também organizam um ato para sexta, durante a pausa no jejum, na Praça Tahrir do Cairo.
Desde quarta-feira (10/7), após o pôr do sol, os manifestantes pró-MORSY se reuniram diante da mesquita Rabaa al-Adawiya do Cairo, no bairro de Nasr City, e rezam pelo retorno de seu "presidente", prometendo a continuação das mobilizações.
De acordo com autoridade, neste momento Mohamed Morsy está "em um lugar seguro, para o seu próprio bem", e "não está sendo submetido a um processo".
Cerca de cem de pessoas morreram desde que o ex-chefe de Estado foi deposto, no dia 3 de julho, acusado de ter traído a revolução, de má gestão e de ter servido apenas aos interesses de seu grupo.
Há temores de que sejam registrados novos episódios de violência, alguns dias depois dos violentos confrontos que deixaram 53 mortos e várias centenas de feridos durante uma manifestação pró-Morsi diante da sede da Guarda Republicana.
Denunciando um "massacre", a Irmandade Muçulmana pediu um "levante".
A desconfiança dos islamitas em relação a novas autoridades foi reforçada na quarta-feira (10/7) pelo lançamento de um novo mandado de prisão contra o guia supremo, Mohamed Badie, e contra outras lideranças da confraria, acusados incitação à violência em ligação com os graves incidentes de segunda-feira (8/7).
Cerca de 200 pessoas já foram indiciadas, entre os 650 interrogados. Elas são acusadas de querer forçar a entrada no prédio militar.
Fora do Cairo, o corpo de um cristão copta foi encontrado decapitado nesta quinta no Sinai. De acordo com uma fonte dos órgãos de segurança, a vítima tinha sido sequestrada por "grupos extremistas" no sábado passado, no mesmo dia em que um padre copta foi morto por homens armados.
O Sinai (nordeste) registra problemas de segurança recorrentes desde a queda de Hosni Mubarak, em 2011, e a situação poderá se agravar com a crise atual.
No terreno político, a tarefa do novo chefe de governo se anuncia particularmente árdua.
A primeira missão de Hazem Beblawi, de 76 anos, é manter nos trilhos o processo de transição política iniciado pelo presidente interino Adly Mansour, que prevê, principalmente, a adoção de uma nova Constituição e a realização de eleições legislativas até o início de 2014.
Esse programa foi rejeitado pelos islamitas, e é criticado também pelos laicos anti-Morsy, que prometeram apresentar emendas.
No exterior, os Estados Unidos, que fornecem uma importante ajuda financeira ao Egito --e em particular ao seu Exército--, indicaram nesta quinta que manterão a entrega de caças F-16, vendidos ao governo egípcio em 2010.
Na terça, depois de ter manifestado sua preocupação com a violência, Washington indicou um "otimismo prudente" com o calendário das eleições