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Na região do Paquistão, cada vez mais as meninas vão à escola

Na região, uma jovem foi atacada por um grupo de talibãs que são contra a ida de mulheres à escola

Mingora - O número de alunas se multiplicou no Vale do Swat, no Paquistão, onde os talibãs atacaram no ano passado a jovem Malala Yousafzai por sua luta em defesa do acesso das meninas à educação. Mas este aumento se explica menos pelos esforços de Malala, que falou nesta sexta-feira à ONU, do que pela melhora na segurança local. Ao disparar contra a jovem em 12 de outubro de 2012, os rebeldes islamitas do Talibã paquistanês tinham a intenção de alertar os habitantes do Swat (noroeste): as meninas não são bem-vindas nas escolas, sobretudo nas não-islâmicas. Atingida por uma bala na cabeça, Malala sobreviveu milagrosamente, antes de ser transferida para um hospital no Reino Unido, onde vive desde então. Sua história comoveu o Paquistão e o resto do mundo.

[SAIBAMAIS]A adolescente, que completa 16 anos nesta sexta, se pronuncia pela primeira vez em Nova York, na sede da ONU, em favor das milhões de crianças do mundo inteiro que não têm acesso à educação. Em dezembro, estudantes protestaram quando as autoridades decidiram renomear a escola local de "Malala", por medo de serem alvo dos insurgentes islamitas. Elas chegaram a rasgar fotografias da adolescente, que é cotada para receber o prêmio Nobel da Paz e que está entre as personalidades mais influentes do mundo, segundo a revista americana Time.



E ainda assim, o número de meninas matriculadas na escola no Vale do Swat, controlado pelo Talibã de 2007 até a intervenção do Exército em 2009, aumentou 6% desde o ano passado (102.374 contra 96.540), segundo as autoridades. "Mas esse salto é principalmente devido ao retorno à normalidade na região", considera Anwar Sultana, diretora do colégio mais antigo para meninas em Mingora, a principal cidade do Vale do Swat. "O Talibã impedia as meninas de estudar e as ameaçava caso fossem para a escola. Hoje em dia, mais e mais meninas vão para a escola, o que significa que o medo começou a desaparecer", explicou, sentada na varanda do colégio. "Quando você exclui alguma coisa, essa coisa renasce com ainda mais força", acrescenta.

Nesta escola modesta, as salas de aula coloridas não têm mesas nem cadeiras. Os estudantes se sentam no chão, o que torna possível maximizar o número de alunos e permite que meninas como Saeeda Rahim voltem para a escola. Saeeda havia abandonado os estudos por causa do Talibã, e chegou a deixar o Vale do Swat. Em seu retorno, sua família relutou em matriculá-la na escola, por medo de represálias do Talibã. Mas os temores diminuíram e ela voltou aos livros. Se o exemplo de Malala não foi o responsável por sua volta, a menina, coberta com um véu branco, diz, no entanto, se inspirar no jovem milagre. "Eu realmente aprecio suas palavras, quero continuar o seu trabalho, aparecer na mídia e convencer os pais de que a educação é um direito para as meninas", sussurra.

Mas, de acordo com Erfaan Hussein Babak, diretor da escola Pak Shama, em Saidu Sharif, cidade vizinha de Mingora, "muitas meninas pensam que Malala não fez nada para o educação e não merecia toda essa atenção da mídia". "Muitas pessoas pensam que Malala não tem nada a ver com o aumento do número de alunas, que se deve, de fato, à tomada de consciência pelas classes populares do direito à educação das meninas", acredita. Apesar deste aumento, ainda há um longo caminho a ser percorrido pelo Paquistão, onde mais de cinco milhões de crianças não frequentam a escola primária, incluindo cerca de três milhões de meninas.

Na província de Malala, Khyber Pakhtunkhwa, região conservadora na fronteira com o Afeganistão, a taxa de analfabetismo é superior a 60% entre as mulheres. O Talibã também destruiu 750 escolas em quase cinco anos, mas 611 delas foram reconstruídos, garantiu à AFP o ministro da Educação provincial, Muhammad Atif. O novo governo provincial, liderado pelo partido do ex-jogador de críquete Imran Khan, que disse estar pronto para negociar a paz com o Talibã, aumentou recentemente em 27% o orçamento para a educação, atingindo 660 milhões de dólares por ano, assegura Atif. "A educação é nossa prioridade", diz.