Sanford - O ex-vigilante voluntário George Zimmerman, que matou o jovem negro desarmado Trayvon Martin na Flórida há um ano, foi declarado inocente nesta madrugada por um júri popular, após um polêmico julgamento marcado pelo debate sobre o racismo. O presidente Barack Obama entrou em cena para tranquilizar a situação, afirmando que os Estados Unidos são "um Estado de direito" e que a justiça "falou".
"Sei que este caso suscitou intensas paixões. No dia seguinte ao veredicto, sei que estas paixões podem se intensificar. Mas somos um Estado de direito e um júri falou", indicou Obama em um comunicado. "Peço a todos os americanos que respeitem o apelo à conciliação em calma feito pelos pais que perderam seu jovem filho".
Após 16 horas de deliberações, as seis juradas do caso -cinco mulheres brancas e uma de origem hispânica- consideraram Zimmerman inocente. "Senhor Zimmerman, eu assino a decisão que confirma o veredicto do júri", declarou a juíza Debra Nelson do Tribunal do condado de Seminole, em Sanford, centro da Flórida.
"Sua fiança será liberada, seu monitor GPS será desligado quando deixar a Corte e você não tem mais pendências com a Justiça", disse a Zimmerman, que apenas expressou alívio ao ouvir a decisão. Tayvon Martin, de 17 anos, foi morto pelo acusado quando caminhava numa noite chuvosa em 26 de fevereiro de 2012 para a casa de seu pai.
O caso dividiu o país entre aqueles que acreditam que Zimmerman -filho de pai branco e mãe peruana- matou o jovem por racismo e aqueles convencidos que que o vigilante agiu em legítima defesa. "Deus nos abençoou, e até mesmo em morte, eu sei que o meu bebê está orgulhoso da luta que, junto com todos vocês, nós travamos", declarou em seu Twitter o pai da vítima, Tracy Martin, pouco depois do veredicto.
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Ele e a mãe de Trayvon, Sybrina Fulton, disseram estar "com o coração partido", mas agradeceram àqueles que lutam para que mortes como esta "não voltem a acontecer". Por temor de protestos e reações violentas, a Polícia reforçou sua presença em Sanford, e centenas de pessoas permaneciam reunidas em frente ao Tribunal de maneira pacífica.
Contudo, confrontos esporádicos foram registrados durante a noite em cidades dos estados de São Francisco, Filadélfia, Chicago, Washington e Atlanta, segundo a imprensa americana. Em Oakland, Califórnia, os manifestantes quebraram vidraças de lojas e picharam carros, mas a maioria dos protestos foi pacífico.
O veredicto foi aplaudido pelos defensores das armas e considerado frustrante por aqueles que veem neste caso um ato injusto e racista. "Obviamente, estamos exultantes com o resultado. George Zimmerman nunca foi culpado de qualquer coisa, exceto de proteger-se em autodefesa", declarou o advogado de defesa, Mark O;Mara. No entanto, Don West, outro advogado de defesa, reconheceu que o caso foi uma "tragédia" pela morte do adolescente e por toda a polêmica levantada sobre a questão.
O júri teve de decidir entre as acusações de homicídio qualificado, que pode ser punido com prisão perpétua; assassinato, com pena de até 30 anos de detenção; e inocência, a opção escolhida. Logo após o anúncio do veredicto, centenas de pessoas de diversas descendências, em sua maioria estudantes, pastores e ativistas de movimentos afroamericanos, se aproximaram dos portões do Palácio de Justiça em Sanford para exigir "justiça para Trayvon Martin", enquanto outros residentes da Flórida, em sua maioria brancos, comemoraram a inocência de George Zimmerman.
"Este é o fim do nosso sistema de justiça. A Justiça não é igual para todos", declarou Ashton Summer, um jovem de origem porto-riquenha de 20 anos, revoltado com o veredicto. O promotor Bernie de la Rionda, chefe da acusação, disse que estava "desapontado com o veredicto", mas aceitou e, como os demais promotores e advogados de defesa de Zimmerman, pediu para que todos respeitassem de forma pacífica esta decisão. A promotora do estado, Angela Corey, ressaltou que "fez o seu melhor" para mostrar ao júri todas as evidências de um caso que "merecia ser analisado", e lamentou o resultado.
Zimmerman, de 29 anos, assegura que atirou no jovem em legítima defesa depois de ter sido atacado por Martin, um jovem de Miami. Pastores de igrejas da comunidade negra e branca no centro da Flórida trabalham com a Promotoria, o Tribunal e a Polícia há meses para levar uma mensagem de paz e tolerância às comunidades locais. "Para muitos, este era o veredicto menos esperado e temos que dar apoio a essas pessoas para que acreditem na justiça e na necessidade de continuar sua luta em paz", disse à AFP Quintin Faison, pastor da igreja batista Rescue, em Sanford.
Mesmo antes do anúncio do veredicto, moradores de Goldsboro, histórico bairro negro de Sanford, haviam expressado sua rejeição a qualquer ato de violência. "Não precisamos de distúrbios porque isso pode ficar bem ruim", disse Gail A. Wright, uma moradora de Goldsboro. A morte de Martin e o fato de o acusado não ter sido imediatamente detido pela polícia no ano passado causou protestos em várias cidades do país, levando o presidente Barack Obama a se pronunciar sobre o caso. "Se eu tivesse um filho, ele se pareceria com Trayvon", disse Obama ao exigir um debate sobre o racismo e a lei das armas da Flórida.