Agência France-Presse
postado em 16/07/2013 15:52
O Panamá seguia inspecionando nesta terça-feira (16/7) um navio norte-coreano procedente de Cuba no qual foi encontrado até agora, sob toneladas de açúcar, um suposto sistema de disparos de mísseis antiaéreos de produção russa.No barco havia açúcar, mas quando "começamos a descarregar o açúcar encontramos contêineres que acreditamos que contenham um equipamento sofisticado de mísseis e isso não é permitido", disse o presidente Ricardo Martimelli, um dono de supermercados que entrou para a política há poucos anos.
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"Tínhamos uma suspeita de que (o barco Chong Chon Gang) tinha droga e o trouxemos ao porto para começarmos a verificar tudo o que estava no barco, que vinha de Cuba e ia para a Coreia do Norte", disse Martinelli, um político de direita ligado a Washington.
Uma foto divulgada pela conta do presidente no Twitter permitiu que especialistas da consultoria IHS Jane;s identificassem a carga como um radar de controle de disparos RSN-75 "Fan Song" utilizado com a família de mísseis terra-ar SA-2, desenvolvidos em 1957 e muito utilizados na Guerra do Vietnã.
As baterias de mísseis SA-2, fabricadas na União Soviética, incluem um radar de longo alcance que detecta os alvos e um radar de controle de tiro que guia os mísseis até seu alvo, explicou Jeremy Binnie, especialista da IHS.
Já Neil Ashdown, um dos especialistas da consultoria, com sede em Londres, opinou que o radar pode ter sido enviado por Cuba à Coreia do Norte para sua modernização. "Nesse caso o radar seria devolvido a Cuba e o açúcar podia ser uma troca pelo trabalho".
Outra hipótese mencionada pela IHS, menos provável, seria a importação do radar pela Coreia do Norte para reforçar sua defesa antiaérea.
--- Embarcação saiu de Havana ---
"Este navio saiu de Cuba, do porto de Havana. Funcionários diplomáticos cubanos de alto escalão estiveram no sábado no Panamá em uma reunião com o presidente da República sobre o tema, mas naquele momento para nós a informação era apenas sobre drogas", disse nesta terça-feira o ministro da Segurança, José Raúl Mulino.
Mulino disse que o barco foi abordado primeiro na quarta-feira por um fiscal antidrogas e que depois, na sexta-feira, entraram na embarcação equipes especiais quando a tripulação começou a tentar impedir a inspeção.
O cargueiro foi interceptado quando esperava nas águas do Caribe sua vez para cruzar o canal e foi levado ao cais Manzanillo do Porto Colon, a 80 km da Cidade do Panamá, onde permanece em uma zona restrita à qual a imprensa não tem acesso.
A carga não declarada do navio norte-coreano "parece ser de mísseis", havia antecipado à AFP o porta-voz presidencial, Luis Eduardo Camacho.
Mas a tarefa de inspecionar o barco "pode demorar uma semana. Apenas um porão foi aberto, restam outros quatro", acrescentou Camacho.
O regime de Pyongyang ainda não havia reagido até esta terça-feira, assim como as autoridades cubanas.
Pelo canal do Panamá transitam 5% do comércio mundial e ele passa atualmente por uma gigantesca ampliação, que deverá estar habilitada no fim de 2014, ano do centenário da via interoceânica.
O canal é um componente importante na acelerada taxa de crescimento da economia panamenha, que ano após ano segue superando os 10% de expansão e que levou Martinelli a promover seu país como a Dubai latino-americana.
O Panamá, separado da Colômbia em 1903 por instigação dos Estados Unidos - que em 1914 terminaram de construir o canal, devolvido ao Panamá em 1999 -, tem 3,5 milhões de habitantes em uma superfície de 70.000 km2, equivalente à República da Irlanda.
Pelo canal podem transitar barcos militares e também navios mercantes que levam material bélico, mas essas cargas devem ser declaradas previamente, já que exigem um protocolo especial, explicou um funcionário do canal.
--- O capitão tentou se suicidar ---
"O barco nunca chegou a entrar no canal. As autoridades panamenhas o abordaram quando estava aguardando sua vez", disse à AFP uma fonte da Administração do Canal do Panamá (ACP).
Os 35 tripulantes do navio estão "detidos, já que não apenas resistiram (à abordagem), mas tentaram sabotar a inspeção", disse o porta-voz presidencial Camacho, acrescentando que o capitão da embarcação - que não teve seu nome divulgado - "teve um princípio de infarto e depois tentou se suicidar".
A abordagem do navio foi decidida, já que "a informação que existia era sobre a existência de substâncias ilícitas", informou o promotor de drogas Javier Caraballo.
"Até este momento não encontramos droga na embarcação, encontramos material bélico".
Cuba, de onde teria zarpado o barco norte-coreano, é um dos poucos países que mantêm vínculos com o regime de Pyongyang, que está fortemente isolado da comunidade internacional por seus testes nucleares.