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Mandela celebra 95 anos no hospital, onde melhora gradualmente

Herói da luta contra o apartheid, o ex-presidente sul-africano está internado há quase um mês e meio no hospital

JOANESBURGO - Nelson Mandela completa nesta quinta-feira (18/7) 95 anos internado em um hospital de Pretória, onde, segundo a Presidência sul-africana, seu estado "melhora gradualmente", enquanto as mensagens de felicitações de todo o mundo já começaram a chegar.

O herói da luta contra o apartheid e ex-presidente sul-africano está internado há quase um mês e meio no hospital, mas sua filha Zindzi afirmou na última quarta-feira (17/7) à rede de televisão Sky News que seu pai "está fazendo progressos notáveis" e acompanha o que passa na televisão "com fones de ouvido".

"Seus médicos confirmaram que sua saúde melhora gradualmente", acrescentou a Presidência sul-africana em um comunicado, que, pela primeira vez desde 23 de junho, não utiliza o termo "estado crítico".

A esposa, os filhos e netos de Nelson Mandela irão ao hospital nesta quinta-feira (18/7) para fazer uma refeição em homenagem ao 95; aniversário do primeiro presidente negro da África do Sul, afirmou sua neta à AFP.



"Iremos ao hospital para comer com vovô", acrescentou.

Por outro lado, muitas ações beneficentes ou simbólicas serão realizadas para celebrar o dia 18 de julho, estabelecido pela ONU como o "Mandela Day", durante o qual cada cidadão do mundo é convocado a dedicar simbolicamente 67 minutos a serviço dos outros, em homenagem aos 67 anos de militância de Mandela.

--- "Exemplo de coragem e humildade" ---

As felicitações a Mandela se sucediam nesta quinta-feira (18/7).

"Feliz 95; aniversário a Nelson Mandela, um homem extraordinário e incansável defensor dos direitos humanos", escreveu no Twitter o arcebispo Desmond Tutu, também conhecido por sua resistência ao apartheid, regime racista abolido em 1994 na África do Sul com as primeiras eleições multirraciais.

"O lugar de Mandela na história da África do Sul está garantido", disse o último presidente branco do país, Frederik de Klerk, que recebeu junto com Mandela o prêmio Nobel da Paz.

"Seu legado de valentia, perseverança e magnanimidade continuará nos inspirando - e as pessoas de todo o mundo - nas próximas gerações", acrescentou.

O presidente americano, Barack Obama, ressaltou o "exemplo extraordinário de valentia, amabilidade e humildade" dado por Mandela.

Já o ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius, se referiu a um "homem que devolveu ao povo sul-africano sua liberdade e dignidade".

Bill Clinton, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e Andrew Mlangeni, que esteve preso junto a Mandela, também homenagearam o líder sul-africano na sede das Nações Unidas por ocasião de seus 95 anos, no chamado "Dia de Mandela".

Clinton disse que Mandela ficou marcado pelos 27 anos de calvário na prisão de Robben Island, um lugar de onde saiu "um homem maior do que o que entrou".

"Cada dia era uma luta, pude ver isso em seus olhos, inclusive depois que virou presidente", afirmou Clinton na Assembleia-Geral da ONU.

As recentes boas notícias sobre o estado de saúde de Mandela contrastam com os temores expressados nas últimas semanas diante desta hospitalização por uma grave infecção pulmonar. Muitos, incluindo alguns em sua família, se preparavam para um doloroso luto nacional.

Atualmente, Mandela reconhece seus visitantes e parece ser capaz de se comunicar. "Está respondendo muito bem, com os olhos e assentindo com a cabeça. Às vezes levanta as mãos como se quisesse apertar a nossa mão", afirmou sua filha Zindzi depois de visitá-lo na quarta-feira (17/7).

"Houve um momento em que estávamos muito nervosos e preocupados, e estávamos preparados para o pior. Mas ele continua nos surpreendendo a cada dia", disse sobre seu pai.

Na sexta-feira (19/7), Graça Machel, a esposa de Nelson Mandela desde 1998, disse estar menos preocupada que nas semanas anteriores. Mandela se casou com Machel no dia em que o ex-presidente completava 80 anos e o casal celebra nesta quinta-feira (18/7) seus 15 anos de união.

Já sua ex-mulher Winnie Mandela-Madokizela falou nesta quinta-feira (18/7) à emissora de rádio 702 sobre o caráter especial deste dia e afirmou que "é um presente não apenas para a família, devido à provação que acabamos de atravessar, mas um presente também para o país e para o mundo inteiro".

"O dia em que ocorrer o que tememos, o país (...) continuará seu caminho, já que se trata desta herança pela qual sacrificamos nossas vidas para que nossos filhos não revivam o que nós vivemos", disse.

--- "Feliz aniversário" em uníssono ---

Em 2009, foi celebrado o "Mandela Day" pela primeira vez na África do Sul. "Decidimos por este dia em homenagem a Madiba (nome do clã de Mandela) para inspirar cada um de nós a agir pessoalmente e mudar o mundo para melhor", disse o presidente sul-africano, Jacob Zuma.

No ano seguinte, em 18 de julho de 2010, a ONU decretou a celebração do "Mandela Day". "Hoje, todos os nossos pensamentos passam pela rica herança que nos deixou, a nós, sul-africanos, e ao mundo", declarou Zuma. "Façam de cada dia um Mandela Day", acrescentou.

Nesta quinta-feira (18/7), estavam previstas a apresentação da música "Parabéns para você", cantada em uníssono pelas crianças de todo país, além da pintura de escolas por voluntários e a limpeza de ruas por uma associação de motoristas.

Mandela, detido durante 27 anos pelo regime segregacionista do apartheid, saiu da prisão sem pronunciar uma só palavra de vingança.

Libertado em 1990, negociou com as pessoas que na época ocupavam o poder uma transição para a democracia. Uma vez convertido em presidente, em 1994, não tentou humilhar ou prejudicar a comunidade branca, defendendo permanentemente a reconciliação.

Foi também esta capacidade para perdoar seus carcereiros brancos o que permitiu que Mandela ocupe um lugar permanente na História.