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Islamitas se mobilizam no Egito mesmo com advertências do governo

Passeatas saídas de dezoito mesquitas do Cairo convocadas pela Irmandade Muçulmana convergiram à tarde em dois locais que os islamitas ocupam há cerca de três semanas

Agência France-Presse
postado em 19/07/2013 19:10
CAIRO - Dezenas de milhares de partidários de Mohamed Morsy se reuniram nesta sexta-feira (19/7) no Egito para exigir o retorno do presidente islamita deposto, após um alerta do Exército afirmando que estava preparado para intervir em caso de violência.

Passeatas saídas de dezoito mesquitas do Cairo convocadas pela Irmandade Muçulmana convergiram à tarde em dois locais que os islamitas ocupam há cerca de três semanas: a mesquita Rabaa al-Adawiya, na periferia da capital, e nas imediações da Universidade do Cairo, mais perto do centro da cidade.

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Em Rabaa al-Adawiya, a multidão exibia cartazes nos quais era possível ler "O que aconteceu com o meu voto?", em referência à votação que levou Morsy ao poder, em junho de 2012, na primeira eleição presidencial democrática no Egito.

Este dia de protestos foi batizado "Quebrar o golpe de Estado" , em referência à destituição de Morsy pelo Exército no dia 3 de julho, em meio a manifestações em massa exigindo a sua saída.

Parte dos manifestantes se dirigiu para o Ministério da Defesa e para o quartel-general da Guarda Republicana, situados perto da mesquita, mas foram impedidos de chegar a esses locais por bloqueios do Exército. No dia 8 de julho, cerca de cinquenta pessoas foram mortas diante da sede da Guarda.

Caças e helicópteros militares sobrevoaram a cidade à tarde.

Palavras de ordem foram gritadas contra o chefe do Exército e ministro da Defesa, general Abdel Fattah al-Sissi, um dos artífices da destituição de Morsy e novo homem forte do país.

"Fora Sissi, Morsy é o presidente", bradavam algumas pessoas, exibindo imagens do presidente deposto. Outros chamavam o general de "traidor" e "assassino".

Manifestações islamitas também foram realizadas em Al-Arich (Sinai do Norte), Marsa Matruh (noroeste), Beni Sueif e Minya (Médio Egito), e também em Alexandria (norte, segunda maior cidade do país), segundo a rede de televisão pública.

Mobilizações dos opositores a Morsy também foram realizadas durante a noite, em um ambiente totalmente diferente. Na Praça Tahrir, cerca de 2.000 pessoas se reuniram exibindo imagens do general Sissi, em meio a fogos de artifício.

Perto do Palácio da Presidência, várias centenas de anti-Morsy entoavam cânticos patrióticos, agitando bandeiras para comemorar a queda do presidente que acusavam de governar apenas em benefício de seu movimento e de deixar o país mergulhado na recessão econômica.

"Qualquer um que recorrer à violência nas manifestações de sexta-feira colocará sua vida em perigo", havia advertido o Exército em um comunicado divulgado na quinta, indicando que o apelo era endereçado aos "diversos grupos políticos".

O presidente interino Adly Mansour, designado pelo Exército, tinha alertado na quinta que travaria "uma batalha pela segurança até o fim".

A violência depois da derrubada de Morsy deixou mais de cem mortos.

Enquanto Mosy é mantido em detenção pelo Exército junto com outros membros da Irmandade Muçulmana, o movimento recusou qualquer negociação com Mansour e afirmou que manterá suas demonstrações de força por meio de mobilizações.

Além das manifestações, o governo enfrenta uma clara deterioração da situação da segurança na península do Sinai, no leste do país, onde estão implantados grupos islamitas radicais.

Os ataques contra a Polícia e o Exército, e também contra civis se multiplicaram desde 3 de julho nesta região, onde o Exército reforçou sua presença.

Nesta sexta, dois civis morreram e um ficou ferido em um ataque com um foguete em El-Arish, de acordo com serviços médicos e de segurança. Os autores do disparo tinham como alvo um posto de controle do Exército egípcio, mas atingiram uma casa por engano.

Além disso, quatro policiais morreram em menos de 48 horas, segundo fontes médicas.

A agência oficial Mena indicou na quinta-feira que dez jihadistas tinham morrido em dois dias durante uma operação do Exército contra combatentes islamitas no Sinai.

A alta comissária da ONU encarregada dos Direitos Humanos, Navi Pillay, pediu que as novas autoridades egípcias expliquem as detenções efetuadas após a derrubada de Morsy.

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