Agência France-Presse
postado em 25/07/2013 20:16
FORT MEADE - Bradley Manning sabia que traía os Estados Unidos e a seu uniforme ao revelar documentos diplomáticos e militares e, por isso, merece ser condenado por "colaboração com o inimigo", disse nesta quinta-feira (25/7) o promotor militar no julgamento de Manning em Fort Meade.Ao apresentar suas "alegações de clausura" diante do tribunal militar reunido nesta base militar no norte de Washington, o major Ashden Fein descreveu o soldado de 25 anos, acusado do maior caso de vazamento de documentos secretos da história norte-americana, como uma pessoa egoísta e temerária que sabia bem que, ao transmitir os documentos ao WikiLeaks, os inimigos dos Estados Unidos teriam acesso a eles.
Se for declarado culpado de "colaboração com o inimigo" - em referência à Al-Qaeda- Manning pode ser condenado à prisão perpétua sem redução de pena.
Para obter a condenação do ex-analista de inteligência no Iraque, a acusação deve convencer a juíza militar Denise Lind "além da dúvida razoável" de que Bradley Manning "estava consciente de que esses documentos podiam terminar nas mãos da Al-Qaeda".
Sobre este ponto, o major Fein afirmou que Manning "liberou esses documentos chaves para serem utilizados pelo inimigo".
Como analista de inteligência, o soldado tinha jurado preservar as informações sensíveis em poder do governo. Para a acusação, Manning "abusou desta confiança e a destruiu".
Ao jovem, não "interessa em absoluto os juramentos, ele queria fazer um nome", afirmou o promotor.
Além disso, era obrigado a saber que os "terroristas" utilizariam a internet para encontrar informações suscetíveis de ajudar a preparar seus atentados.
Segundo Fein, Manning dirigiu uma sessão informativa diante de alguns soldados em que os governos estrangeiros, os terroristas e os hackers foram mencionados como alguns dos adversários potenciais.
Também sabia que o WikiLeaks, fundado por Julian Assange, tinha sido nomeada em três relatórios de inteligência militar como uma ameaça potencial para a segurança nacional, já que sua função era revelar documentos secretos, acrescentou o promotor.
WikiLeaks é um agente de "anarquistas da informação", acusou Fein.
"Provocar um debate"
No total, Manning transmitiu, a partir de novembro de 2009, de computadores militares, cerca de 250 mil telegramas diplomáticos norte-americanos, milhares de relatórios militares sobre as guerras no Iraque e Afeganistão, documentos relacionados com presos de Guantánamo, em Cuba, assim como um vídeo mostrando um helicóptero de ataque norte-americano disparando contra civis no Iraque. Esses documentos foram logo colocados na internet pelo WikiLeaks.
Preso no Iraque em maio de 2010, Manning também é julgado por outras 21 acusações e violações do código de justiça militar dos Estados Unidos, enfrentando um total de 154 anos de prisão. As acusações incluem em particular violações da lei de espionagem de 1917, acusações de fraudes de informática e de roubo.
A defesa, realizada pelo advogado civil, David Coombs, deve tomar a palavra para sua alegação.
Ao longo de todas as audiências preliminares e do julgamento iniciado em junho, Coombs apresentou o soldado como presa de um "combate interno e privado" sobre sua identidade sexual, como um "humanista", "ingênuo e bem intencionado", que chegou "entusiasmado" ao Iraque e que, frente à conduta da guerra, começou a "lutar interiormente".
Durante uma audiência preliminar, Bradley Manning leu uma extensa carta de justificativa em que afirmava querer "provocar um debate".
Manning se declarou inocente das 12 acusações, a mais grave das quais é a de "colaboração com o inimigo". Contudo, se declarou parcialmente culpado de outros nove e culpado de uma infração menor de desobediência a uma ordem, passível de dois anos de prisão.
No final da audiência, a juíza se retirará para deliberar e deve dar seu veredicto nos próximos dias. Depois virão as audiências dedicadas a fixar a condenação em si, que segundo as autoridades militares começariam 31 de julho.