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Confrontos entre manifestantes no Egito deixam cinco mortos

As autoridades reforçaram a segurança nesta sexta-feira (26/7) no Cairo e no restante do país para este dia de alto risco

Convocados pela Irmandade Muçulmana, movimento ao qual Morsy pertence, milhares de egípcios se concentravam nos arredores de cerca de 30 mesquitas da capital, de onde devem sair os cortejos que se juntarão perto da Universidade do Cairo e diante da mesquita Raba al-Adawiya, dois locais onde os simpatizantes do presidente islamita deposto montaram seus acampamentos.

O movimento denuncia o "golpe de Estado" por meio do qual, no dia 3 de julho, o Exército depôs o primeiro presidente democraticamente eleito no Egito, depois de terem sido registradas no fim de junho manifestações de parte da população, que exigia sua partida.

--- "Somos Egito" ---

"Estou aqui para apoiar o verdadeiro presidente do Egito. Não aceitamos ninguém mais a não ser Morsy e vamos protestar pacificamente", afirmava El Baz Abu Mati, um morador proveniente do Delta do Nilo (norte).

O guia supremo da confraria islamita, Mohamed Badie, convocou protestos pacíficos e encorajou seus simpatizantes a não baixarem a guarda diante do "sangrento golpe de Estado".

No grupo oposto, milhares de manifestantes contrários a Morsy também começaram a se dirigir à Praça Tahrir, centro habitual das grandes concentrações.

A multidão agitava bandeiras egípcias e imagens do chefe do Exército, o general Abdel Fatah al-Sissi, artífice da queda de Mursi e novo homem forte do país.

"Somos Egito", bradava um orador, saudando para o nome do general, também ministro da Defesa e vice-primeiro-ministro.

O general Sissi havia convocado na quarta-feira os egípcios a sair às ruas para dar um mandato às Forças Armadas para "acabarem com o terrorismo e a violência".

Mas desde quinta-feira o Exército alterna declarações de tons mais leves e mais ameaçadores. Afirmou que as afirmações do general não eram dirigidas contra a Irmandade Muçulmana, mas, ao mesmo tempo, em um comunicado mais informal divulgado na internet, deu 48 horas para o grupo renunciar à violência e aceitar a transição política.

--- Morsy em prisão preventiva ---

No exterior, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, fez um apelo na quinta-feira para que todos os setores mantivessem a calma e Washington expressou sua "inquietação" com as declarações de Sissi.

Assim como Washington e a União Europei, Ban também pediu para que o Exército liberte Morsy e outros líderes da Irmandade Muçulmana ou "que seus casos sejam revisados com transparência e sem demora".

Se até o momento Morsy estava detido sem acusações, um tribunal ordenou sua prisão preventiva por no máximo 15 dias, informou nesta sexta-feira a agência oficial de notícias Mena.

O tribunal do Cairo, que ordenou sua detenção preventiva, o acusa de supostos vínculos com o Hamas palestino, que o teria ajudado a escapar da prisão no início de 2011, durante a revolta que derrubou o ex-presidente Hosni Mubarak.

A Irmandade Muçulmana classificou esta decisão como uma "vingança do antigo regime, que indica que retorna com força".

Já o Hamas, no poder em Gaza, condenou a detenção de Morsy, já que a decisão "se baseia na premissa de que o movimento Hamas é hostil (...) É uma suposição perigosa que confirma que o poder atual no Egito renuncia às causas nacionais (...), entre elas a causa palestina", declarou à AFP um porta-voz do grupo, Sami Abu Zuhri.