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Islamitas egípcios decididos a prosseguir mobilização apesar de ameaças

Durante a noite, foram registrados episódios violentos no país, principalmente em Port Said (nordeste), onde várias pessoas ficaram feridas

Agência France-Presse
postado em 28/07/2013 09:21
CAIRO - Os partidários do presidente egípcio deposto Mohamed Mursi se mostraram neste domingo decididos a prosseguir com sua mobilização, apesar das ameaças do poder de dispersar pela força suas concentrações no Cairo, um dia após a morte de 72 pessoas em confrontos com a polícia.

Por sua vez, as forças de segurança egípcias mataram 10 pessoas nas últimas 48 horas na península do Sinai, segundo a agência de notícias oficial Mena. Durante a noite, foram registrados episódios violentos no país, principalmente em Port Said (nordeste), onde várias pessoas ficaram feridas.

[SAIBAMAIS]"Há sentimentos de tristeza e de raiva, mas também uma grande determinação" no grupo dos partidários de Mursi, afirmou à AFP um porta-voz da Irmandade Muçulmana, Gehad el Hadad.

Hadad rejeitou qualquer compromisso que signifique confirmar a deposição de Mursi, primeiro presidente eleito democraticamente no país, em junho de 2012.

A Irmandade Muçulmana, de onde Mursi surgiu, exige sua reincorporação como condição prévia a qualquer discussão. "Aceitamos qualquer iniciativa desde que se baseie na restauração da legitimidade e anule o golpe de Estado. Não negociaremos com o exército", disse.

Nos arredores da mesquita Rabaa al-Adawiya, no nordeste do Cairo, os vários milhares de pró-Mursi que estão acampados há quase um mês passaram uma nova noite em meio a barracas, rodeados de cartazes com a imagem do presidente islamita deposto.

Ignorando a ameaça das autoridades de desmantelar o acampamento pela força "muito em breve", alguns gritavam "Sissi, deixe o poder", contra o chefe do exército e novo homem forte do país, o general Abdel Fatah al-Sissi.

O ministro do Interior, Mohamed Ibrahim, prometeu uma intervenção "no âmbito da lei" com "o menor número de perdas possível" e pediu que os manifestantes abandonem o local "para evitar um derramamento de sangue".

Os 72 mortos registrados nos confrontos da manhã de sábado no Cairo constituem o balanço mais elevado de falecidos desde a deposição de Mursi pelo exército, no dia 3 de julho.

Os confrontos, pelos quais os dois grupos se acusam mutuamente, explodiram horas após a realização na sexta-feira de grandes manifestações dos simpatizantes do exército e da Irmandade Muçulmana.

O secretário de Estado americano, John Kerry, disse que seu país está profundamente preocupado pelo "derramamento de sangue e pela violência" das últimas horas, que elevaram a 300 o número de mortos em um mês de distúrbios políticos.

A organização Human Rights Watch denunciou um "desprezo criminoso" das autoridades pela vida humana.

Estes mortos demonstram "uma vontade chocante por parte da polícia e de certos (responsáveis) políticos de aumentar a violência contra os manifestantes pró-Mursi", estimou Nadim Houry, diretor da HRW para o Oriente Médio e o Norte da África.

Por outro lado, diversos confrontos explodiram na noite de sábado em vários locais do país, especialmente em Port Said, na entrada norte do canal de Suez, onde 15 pessoas ficaram feridas em confrontos entre os partidários e opositores de Mursi, segundo a Mena.

Uma fonte médica do hospital Al-Amiri confirmou à AFP ter visto "cinco feridos, dois deles em estado crítico, com ferimentos de bala no pescoço e no tórax".

Na península do Sinai, as forças de segurança egípcias mataram 10 "terroristas" armados e capturaram outros 20 nas últimas 48 horas, informou a Mena.

"Operações de segurança levadas adiante pelas forças armadas e pela polícia no norte do Sinai para prender terroristas armados terminaram com a morte de 10 destes elementos terroristas armados", disse a agência citando fontes de segurança.

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A sede local da Irmandade Muçulmana em Menufeya, no delta do Nilo, foi incendiada durante a noite depois de terem sido registrados incidentes entre os dois grupos, informou a imprensa.

Para o ministério do Interior, a forte resposta ao chamado do general Sissi a protestar na sexta-feira para conceder a ele um mandato para "acabar com o terrorismo" demonstra que o povo "deseja a estabilização do país sob a proteção do exército".

Neste mesmo dia os islamitas também se mobilizaram nas ruas para apoiar Mursi, detido em um local secreto pelo exército desde sua queda e alvo, desde sexta-feira, de uma ordem de prisão preventiva por parte de um tribunal egípcio.

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