Washington - As negociações de paz diretas entre israelenses e palestinos serão retomadas nesta segunda-feira (29/7) em Washington após um período de congelamento de três anos, em meio às diversas reações de Israel à decisão de libertar prisioneiros palestinos. "É um dia muito especial", declarou nesta segunda-feira (29) em Riga o presidente israelense, Shimon Peres. "O Oriente Médio encontra-se em uma situação tempestuosa. Esperamos que o Oriente Médio supere a tempestade e possa alcançar a paz".
Os Estados Unidos anunciaram no domingo (28/7) que as primeiras reuniões entre israelenses e palestinos irão ocorrer "no dia 29 de julho à tarde e terça-feira, 30 de julho" para "retomar formalmente as negociações diretas". "Estas negociações serão uma ocasião para desenvolver um plano de trabalho que determinará como as partes procederão nas negociações nos decorrer dos próximos meses", disse o departamento de Estado.
Com sua aposta por uma diplomacia discreta, o secretário americano de Estado, John Kerry, alcançou na semana passada, durante sua sexta viagem à região, um acordo para a retomada das negociações, congeladas desde setembro de 2010. Assim, convidou pessoalmente o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, e o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, a enviar seus representantes a Washington.
[SAIBAMAIS]As últimas negociações de paz foram curtas devido à decisão de Israel de prosseguir com a colonização da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental. Desta vez, as negociações serão dirigidas pela ministra de Justiça Tzipi Livni pela parte israelense e pelo negociador chefe Saeb Erakat pela parte palestina, com a presença permanente de funcionários de alto escalão do governo. Livni estará acompanhada por Yitzhak Molcho, emissário pessoal de Netanyahu, segundo meios de comunicação israelenses.
Como prova da fragilidade deste início de negociação encontra-se a decisão do governo israelense, anunciada no domingo (28), de aprovar a libertação de 104 prisioneiros palestinos detidos antes dos acordos de Oslo de 1993, que foi bem recebida pela Autoridade Palestina, mas que provocou fortes reações em Israel. "Trata-se de uma etapa importante e (nós) esperamos poder ter a oportunidade facilitada pelos esforços do governo americano para alcançar um acordo de paz durável e justo", declarou à AFP o negociador palestino, Saeb Erakat.
O jornal israelense Yediot Aharonot, por sua vez, rejeitou esta medida e escreveu em sua primeira página: "Os assassinos serão libertados". Os nomes dos prisioneiros não foram divulgados, mas a lista incluirá assassinos de mulheres e crianças israelenses, afirmam os meios de comunicação. "Aqui estamos de novo", afirmava o Jerusalem Post. "Os assassinos serão recebidos como heróis em Hebron, Ramallah e Yenin", criticava.
Apenas o jornal de esquerda Haaretz recebia com otimismo a decisão de libertar os prisioneiros: "O governo israelense decidiu no domingo encarar a realidade de frente", afirmou. "Existem momentos nos quais é preciso tomar decisões difíceis para o bem do país e este é um destes momentos", afirmou Netanyahu diante de seus ministros no início da reunião.
Qadura Fares, chefe do Clube de Prisioneiros Palestinos, afirmou no domingo antes da votação que não iria ocorrer nenhuma negociação com o Estado hebreu sem a libertação dos 104 detidos. "Se não libertarem todos não haverá negociações", afirmou. Antes de aprovar a libertação dos prisioneiros palestinos, o Conselho de Ministros adotou um projeto de lei que prevê um referendo em caso de acordo de paz com os palestinos. Esta seria a última etapa necessária para ratificar um eventual acordo, após a aprovação do governo israelense e do parlamento.
Qadura Fares, chefe do Clube de Prisioneiros Palestinos, havia afirmado no domingo, antes do anúncio de Israel, que não haveria negociação com o Estado hebreu sem a libertação dos 104 detidos. "Se não libertarem todos, não haverá negociações", afirmou.
Conheça os pontos básicos das negociações entre Israel e palestinos:
- Estado palestino: Os palestinos aspiram a um Estado plenamente soberano e independente na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, com a capital em Jerusalém Oriental. Israel quer um estado palestino desmilitarizado, uma presença militar no longo prazo no Vale da Cisjordânia da Jordânia e a manutenção do controle de seu espaço aéreo e das fronteiras exteriores.
- Fronteiras palestinas e assentamentos judeus: os palestinos desejam que Israel saia dos territórios que ocupou após a Guerra dos Seis Dias de 1967 e desmantele por completo os assentamentos judeus. Israel descarta voltar às fronteiras anteriores a 1967, mas está pronto para deixar algumas regiões da Cisjordânia, ao mesmo tempo em que anexa os maiores assentamentos, onde vivem cerca de 360 mil israelenses, incluindo alguns de Jerusalém Oriental. Os palestinos pedem um congelamento do processo de colonização enquanto durarem as colonizações de paz.
- Jerusalém: Israel arrebatou a zona árabe de Jerusalém da Jordânia em 1967 e depois a anexou, uma medida que nunca foi reconhecida pela comunidade internacional. Os israelenses consideram a cidade como sua capital "eterna e indivisível". Os palestinos querem fazer de Jerusalém Oriental, lar de 280.000 palestinos e de mais de 200 mil israelenses, a capital de seu futuro Estado.
- Refugiados: Há cerca de 5 milhões de palestinos registrados oficialmente como refugiados, a maioria deles descendentes dos 760 mil palestinos que foram expulsos de suas terras na criação do Estado de Israel, em 1948. Os palestinos exigem que Israel reconheça seu "direito ao retorno" e pedem que durante as negociações de paz aceite o princípio da pertinência desta exigência, cuja concretização seria acordada entre as duas partes. Israel rejeita o direito ao retorno. O primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu quer, por sua vez, que os palestinos reconheçam o Estado de Israel como "o estado do povo judeu".
- Água: Israel controla a maioria das fontes subterrâneas da Cisjordânia. Os palestinos querem uma distribuição mais igualitária do recurso.