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Chefe da diplomacia europeia se reúne com presidente egípcio deposto

Ashton conversou durante duas horas com o ex-chefe de Estado islamita, que recebeu sua primeira visita oficial desde a sua destituição pelos militares, no dia 3 de julho

Agência France-Presse
postado em 30/07/2013 19:21
CAIRO - A chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, se reuniu com o presidente egípcio deposto Mohamed Morsy, mantido em detenção em um local secreto pelo Exército, e afirmou que está "bem".

Ashton conversou durante duas horas com o ex-chefe de Estado islamita, que recebeu sua primeira visita oficial desde a sua destituição pelos militares, no dia 3 de julho.

A França considerou que a situação no Egito é crítica, e pediu, a exemplo dos outros países da UE e de Washington, a libertação de Morsy, classificado de "preso político".

Milhares de partidários do presidente deposto, determinados a manter sua queda de braço com o Exército, participaram de uma passeata à tarde em várias partes do Cairo para exigir o retorno ao poder do primeiro presidente eleito democraticamente do país.

A mobilização foi menor do que em outras ocasiões durante este mês, e ficou longe do "milhão de pessoas" que desejavam os organizadores.

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O vice-presidente do país, Mohamed ElBaradei, prêmio Nobel da Paz, reduziu ainda mais as esperanças dos pró-Morsy, reafirmando que o ex-presidente havia "fracassado" e rejeitando a ideia de que possa participar do processo de transição.

No entanto, ressaltou ElBaradei, "a Irmandade Muçulmana (à qual Morsy pertence) sempre fez parte do processo político, e queremos que eles participem".

Ashton havia chegado no domingo à noite ao Cairo para promover a ideia de uma transição "incluindo todas as forças políticas", incluindo o poderoso movimento que recusa qualquer diálogo com o novo governo, por considerá-lo ilegítimo.

Após duas horas de uma conversa "amistosa", mas "franca", ela afirmou que Morsy "está bem" e tem acesso à televisão e aos jornais. Ashton se recusou a revelar o conteúdo da reunião e o local do encontro.

A chefe da diplomacia europeia insistiu no fato de que ela estava no Egito "para ajudar, não para impor" e que a solução para a crise, que já deixou mais de 300 mortos em episódios de violência em um mês, depende dos egípcios.

Em Bruxelas, a UE indicou que quer "continuar a desempenhar um papel de facilitador" para um retorno à democracia no país, o que inclui uma ajuda financeira.

Ashton havia se reunido na segunda com os novos governantes do país --principalmente com o presidente interino Adly Mansour e com o chefe do Exército, Abdel Fattah al-Sissi,-- e com representantes das formações islamitas.

Estes não cederam em sua posição inicial e deixaram claro para a autoridade europeia que permanecerão mobilizados até o retorno de Morsy, considerado uma condição fundamental para toda eventual negociação.

Além de estar sendo mantido em detenção pelo Exército, Morsy foi alvo de um pedido de prisão preventiva da justiça, que o acusa de cumplicidade com o Hamas palestino, principalmente durante a sua fuga da prisão no início de 2011 em meio à revolta contra o regime de Hosni Mubarak.

O campo contrário a Morsy, eleito em junho de 2012, o acusa de ter governado em benefício da Irmandade e de ter deixado o país mergulhar na crise econômica. Segundo os defensores da deposição do ex-presidente, as manifestações de 30 de junho mostraram que ele havia perdido sua legitimidade, o que justifica a decisão do Exército de derrubá-lo.

A continuação da disputa entre o Exército e os pró-Morsy suscitam temores relacionados a um novo banho de sangue, principalmente após a morte de 81 civis e de um policial em confrontos entre islamitas e forças de ordem, sábado no Cairo.

As manifestações desta terça, que tiveram o lema "Os mártires do golpe de Estado", denunciavam principalmente a violência nas imediações da mesquita Rabaa al-Adawiya, onde os pró-Morsy estão acampados há um mês.

As autoridades ameaçam dispersar à força os manifestantes acampados na capital, acusando-os de serem focos de "terrorismo". Elas prometeram medidas "firmes" se os manifestantes "forem além de seu direito a se expressar pacificamente".

Um soldado foi morto nesta terça no Sinai do Norte. Foi o quinto membro das forças de segurança a perder a vida em 36 horas nessa península do nordeste egípcio, onde os ataques contra a polícia e o Exército se intensificaram depois da queda de Morsy.

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