Agência France-Presse
postado em 01/08/2013 18:07
CAIRO - Os manifestantes islamitas que exigem o retorno do presidente egípcio Mohamed Morsy deposto pelo Exército se recusaram a se desmobilizar nesta quinta-feira (1/8), enquanto a polícia se preparava para intervir, apesar dos apelos à calma da comunidade internacional que teme um banho de sangue.A situação era confusa depois que vários líderes europeus realizaram nos últimos dias um verdadeiro balé diplomático no Cairo para tentar uma mediação entre o governo interino instituído pelo poderoso Exército e a Irmandade Muçulmana, movimento ao qual pertence Morsy. O chefe da diplomacia alemã, Guido Westerwelle, falou de uma situação "muito explosiva".
Desde o final de junho, alguns dias antes da destituição, em 3 de julho do primeiro chefe de Estado egípcio eleito democraticamente, mais de 250 pessoas - principalmente manifestantes pró-Morsy - foram mortas em confrontos com as forças de ordem e grupos contrários ao presidente deposto.
Os Estados Unidos, que contribuem com um grande volume de recursos para o Exército egípcio, evitam falar de golpe de Estado para classificar a prisão de Morsy pelos militares. O ex-presidente vem sendo mantido em um lugar não revelado.
Nesta quinta, o secretário de Estado americano, John Kerry, se disse "muito, muito preocupado" com essas mortes, mas surpreendeu os analistas ao considerar que a intervenção do Exército, no dia 3 de julho havia permitido de "restabelecer a democracia".
"Milhões e milhões de pessoas pediram que o Exército intervisse. Todos tinham medo de uma queda no caos e na violência", declarou à rede de televisão paquistanesa Geo TV.
-- Apelo à mobilização na sexta-feira --
O governo de transição afirmou na quarta que pretendia agir contra uma "ameaça à segurança nacional" e ressaltou que multidões de manifestantes saíram às ruas em 26 de julho a pedido do homem forte do país, o comandante-em-chefe do Exército e ministro da Defesa, Abdel Fattah al-Sissi, para permitir a ele acabar com o "terrorismo".
Nesta quinta, o Ministério do Interior pediu que os milhares de manifestantes pró-Morsy se retirem "rapidamente" das praças Rabaa al-Adawiya e Al-Nahda, no Cairo, estão estão mobilizados há cerca de um mês, garantindo que possibilitará uma "saída em segurança".
Mas eles rejeitaram esse apelo, como previsto. "Vamos manter nossas manifestações pacíficas", declarou à AFP Ala Mostafa, uma das porta-vozes do movimento. Uma nova mobilização foi convocada para sexta-feira (2/8) "contra o golpe de Estado".
No final do dia, os helicópteros militares sobrevoavam Rabaa al-Adawiya, segundo a agência de notícias oficial Mena. Pouco antes, os chefes da polícia estavam reunidos para discutir uma estratégia para dispersar as manifestações.
Na véspera, o governo tinha dado seu "sinal verde" às forças de ordem para que impedissem os atos pró-Morsy.
O ministro da Indústria e do Comércio, Mounir Fakhry Abdelnour, acusou os manifestantes a favor de Morsy de estarem armados e disse esperar que a intervenção da polícia seja feita "com o mínimo de perdas humanas". Oitenta e duas pessoas morreram no dia 27 de julho perto de uma mobilização pró-Morsy.
-- Esforços diplomáticos --
Chegado ao mesmo tempo que o emissário da União Europeia, Bernardino Leon, Westerwelle se reuniu com os dirigentes do novo governo --principalmente com o presidente interino Adly Mansour e o general Sissi-- e com representantes da Irmandade Muçulmana.
Um líder do Partido da Liberdade e da Justiça (PLJ), vitrine política da Irmandade, indicou que "todos os representantes europeus tinham a mesma mensagem" e tentaram "pressionar os manifestantes contrários ao golpe de Estado para que se dispersem".
Apesar dos esforços diplomáticos, nenhuma solução rápida para a crise pode ser vislumbrada, já que as novas autoridades descartam que Morsy possa ter algum papel político, enquanto a Irmandade Muçulmana exige a restituição do presidente deposto.
Morsy é acusado de conluio com o Hamas palestino em sua fuga da prisão, em 2011, em meio à revolta que derrubou o presidente Hosni Mubarak.
No exterior, várias vozes se levantaram para defender o direito à manifestação dos pró-Morsy. "Uma manifestação pacífica não é uma ameaça para a segurança nacional", considerou a Human Rights Watch. Washington pediu que seja respeitado o direito a manifestações pacíficas e Londres fez um apelo pelo "fim imediato do derramamento de sangue".