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Manifestantes pró-Morsy protestam mesmo sob ameaças no Egito

Manifestantes exigem o retorno de Morsy, primeiro presidente egípcio democraticamente eleito, destituído e preso pelos militares em 3 de julho, após grandes manifestações populares cobrando a sua saída

Agência France-Presse
postado em 02/08/2013 17:18
CAIRO - Os partidários islamitas do presidente deposto do Egito, Mohamed Morsy, desafiaram soldados e a polícia ao se recusarem a deixar duas praças ocupadas há um mês e convocaram novas manifestações.

A polícia chegou a jogar bombas de gás lacrimogêneo contra os manifestantes pró-Morsy reunidos em frente a um complexo que abriga meios de comunicação egípcios, acusados pelos islamitas de complacência em relação ao governo de transição dominado pelo Exército, enquanto enviados ocidentais tentam evitar um banho de sangue.

Os manifestantes exigem o retorno de Morsy, primeiro presidente egípcio democraticamente eleito, destituído e preso pelos militares em 3 de julho, após grandes manifestações populares cobrando a sua saída.

As novas manifestações ocorreram um dia depois de o secretário americano de Estado, John Kerry, afirmar que o Exército do Egito "restabeleceu a democracia" quando depôs Morsy, em comentários que provocaram a ira dos simpatizantes do líder deposto.

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Em entrevista a uma rede de televisão, Kerry se disse "muito, muito preocupado" com essas mortes, mas surpreendeu os analistas com sua declaração a favor da intervenção do Exército.

"Milhões e milhões de pessoas pediram que o Exército interviesse. Todos tinham medo de uma queda no caos e na violência", declarou.

Há um mês, o chefe do Exército, agora ministro da Defesa e novo homem forte do país, o general Abdel Fattah al-Sissi, anunciou a destituição de Mursi.

Nesta sexta, Kerry voltou a pediu por "um retorno à normalidade" no Egito.

-- Hagel poderia "destituir Obama"? --

"O secretário de Estado Kerry aceitaria que o secretário (americano) de Defesa Hagel destituísse Obama se grandes manifestações fossem realizadas nos Estados Unidos?", perguntou nesta sexta-feira Gehad el-Haddad, porta-voz da Irmandade Muçulmana. "Não esperamos nada dos Estados Unidos (...), cúmplices do golpe de Estado militar".

Enquanto isso, a Irmandade Muçulmana pedia aos seus militantes que se juntassem às manifestações "pacíficas" nas praças Rabaa al-Adawiya e Nahda, no Cairo, ocupadas há um mês. As autoridades ameaçam usar a força para retirar os manifestantes dos locais.

"Fora Sissi, Morsy é nosso presidente", gritavam os manifestantes na cidade, referindo-se ao general que todos consideram o verdadeiro homem forte do país.

O novo poder os acusa de serem "terroristas" e de "ameaçar a segurança nacional".

"Eu sou um muçulmano, não um terrorista", bradavam os manifestantes nesta sexta.

-- "Situação explosiva" --

Anunciando uma ação iminente para dispersar os manifestantes, as autoridades dizem ter o apoio de grande parte do povo egípcio, que não aceitava mais o governo Morsy. Quase toda a imprensa denuncia as ocupações das praças Rabaa e Nahda.

Um verdadeiro balé diplomático começou, liderado pela União Europeia, para que as autoridades atuem com moderação e a Irmandade Muçulmana deixe as praças de forma ordeira.

Segundo os analistas, essas tentativas não surtiram efeito algum até o momento.

Um desses mediadores europeus, o chefe da diplomacia alemã, Guido Westerwelle, considerou na noite da última quinta-feira (1/8) que a situação no Egito é "explosiva".

O emissário da União Europeia, Bernardino Leon, chegou na quinta (1/8/), e manteve nesta sexta-feira (2/8) seus esforços por uma saída pacífica. Além disso, o governo egípcio anunciou a visita surpresa do secretário adjunto de Estado americano William Burns.

Mais de 250 pessoas morreram em um mês, principalmente manifestantes pró-Morsy em confrontos com as forças de ordem ou com opositores ao presidente deposto.

Nesta sexta-feira (2/8) à noite, os manifestantes a favor de Morsy convocaram uma terceira manifestação para depois da pausa no jejum do Ramadã, em uma praça da capital. O objetivo é realizar uma passeata até dois QGs do Exército e um da Polícia.

"A Aliança contra o golpe de Estado" convocou em um comunicado uma mobilização diante da sede da Guarda Republicana, cenário de enfrentamentos que deixaram 57 mortos no dia 8 de julho, incluindo 54 manifestantes.

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