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Presidente do Irã convoca negociações nucleares sérias e sem demora

Hassan Rowhani afirmou os pedidos feitos pelos Estados Unidos por sanções mais duras mostram uma falta de compreensão

Agência France-Presse
postado em 06/08/2013 14:49

Em sua primeira entrevista coletiva desde que tomou posse, no último sábado (3/8), Rowhani disse que não abrirá mão dos direitos do Irã

TEERÃ - O presidente Hassan Rowhani afirmou nesta terça-feira (6/8) que o Irã está pronto para negociações sérias e sem demora sobre seu programa nuclear e que os pedidos feitos pelos Estados Unidos por sanções mais duras mostram uma falta de compreensão.

Em sua primeira entrevista coletiva desde que tomou posse, no sábado (3/8), Rowhani disse que não abrirá mão dos direitos do Irã, mas que deseja acalmar as preocupações ocidentais.

"Como presidente da República Islâmica, anuncio que há vontade política para resolver esta questão e também para levar em consideração as preocupações das outras partes", disse.

"Nós somos o povo da interação e da fala, com seriedade e sem perder tempo, se os outros lados estiverem prontos".

Rowhani liderou a equipe de negociação nuclear do Irã sob o comando do presidente reformista Mohammad Khatami, no início da década de 2000, e os líderes ocidentais expressaram esperança de uma abordagem mais construtiva nas negociações daqui em diante.

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As políticas de linha dura do ex-presidente do país Mahmud Ahmadinejad levaram a fortes sanções da União Europeia e dos Estados Unidos contra os setores petroleiro e bancário, que Rowhani prometeu buscar relaxar.

Mas o novo presidente afirmou que não pode haver rendição do direito ao uso pacífico da energia nuclear que o Irã defende no âmbito Tratado de Não-Proliferação.

"O programa nuclear pacífico do Irã é uma questão nacional... não vamos abrir mão dos direitos do povo iraniano", disse.

"Vamos preservar os nossos direitos com base nas normas internacionais", completou.

Rowhani afirmou disse que o Irã não irá desistir do enriquecimento de urânio - atividade que está no centro das preocupações ocidentais e que foi suspensa quando ele era o principal negociador, há uma década.

"No Irã, ninguém disse que vamos desistir do enriquecimento de urânio, ninguém e em nenhum momento", ressaltou.

Rowhani também reiterou que o Irã não irá negociar sob a ameaça de sanções econômicas ou de ação militar.

Ele criticou as "mensagens contraditórias" de Washington, nas quais a Casa Branca afirmou que os Estados Unidos seriam um "parceiro disposto" em negociações genuínas, ao mesmo tempo em que o Senado exigiu sanções mais duras.

"Declarações recentes da Casa Branca mostram que algumas autoridades americanas não têm uma avaliação correta e realista da situação aqui e da mensagem que o povo iraniano passou na eleição", disse Rowhani.

"Eles ainda estão enviando mensagens contraditórias", disse, acrescentando: "Nós nos preocupamos com a resposta dos Estados Unidos em atos, não em palavras".

No domingo, a Casa Branca disse que o Irã irá encontrar nos Estados Unidos um "parceiro disposto" se Rowhani estiver preparado para se envolver de forma consistente e séria sobre o seu programa nuclear.

Em uma mensagem parabenizando Rowhani em sua posse, a Casa Branca disse que ela "é uma oportunidade para o Irã agir rapidamente e resolver profundas preocupações da comunidade internacional sobre o programa nuclear" do país.

Os governos ocidentais suspeitam que o Irã desenvolve um programa nuclear militar por trás de um programa civil, uma ambição que Teerã nega categoricamente.

Rowhani se focou especialmente em uma carta assinada por 76 senadores - mais de três quartos do total - pedindo sanções mais duras dos Estados Unidos, ainda que ele tenha prometido um engajamento mais construtivo.

Denunciou que a carta era o trabalho de um "país estrangeiro" e de seus apoiadores nos Estados Unidos, uma clara alusão ao arqui-inimigo iraniano, Israel.

"Os interesses de um país estrangeiro e a vontade de um determinado grupo foram impostos aos legisladores americanos e não servem aos interesses dos Estados Unidos", disse.

Israel - que é o único país do Oriente Médio a ter um arsenal nuclear, não declarado - recusou-se a descartar um recurso à ação militar para impedir que o Irã desenvolva uma capacidade militar nuclear.

Afirma que tal arsenal representaria uma "ameaça existencial" ao Estado judeu e que a chegada de Rowhani à presidência não fará diferença para a política nuclear iraniana, que é definida pelo líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei.

Washington também afirmou que a opção militar permanece sobre a mesa se os caminhos diplomáticos se esgotarem.

Ocorreram diversas rodadas de negociações entre o Irã e o chamado grupo 5%2b1, formado por Grã-Bretanha, China, França, Rússia, Estados Unidos e Alemanha, mas até agora elas não conseguiram dissipar as preocupações do Ocidente.

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