Agência France-Presse
postado em 08/08/2013 18:01
PEQUIM - A modernização da frota de guerra das Filipinas, ou do Japão, os litígios sobre a soberania de várias ilhas e as demonstrações navais chinesas ilustram, segundo os analistas, a pressão cada vez maior do governo de Pequim para satisfazer suas ambições oceânicas.O embaixador da China em Tóquio foi convocado nesta quinta-feira (8/8) pela Chancelaria japonesa, em função da presença prolongada de navios do governo chinês em águas territoriais de um arquipélago em disputa sob administração japonesa e reivindicado por Pequim.
Quatro embarcações da Guarda Costeira chinesa retornaram na quarta-feira para águas territoriais dessas ilhas, situadas no mar da China Oriental e reivindicadas por Pequim, onde continuavam presentes nesta quinta, informou a chancelaria japonesa.
Na China, o arquipélago é conhecido como Diaoyu, e no Japão, como Senkaku.
"A direção do Partido Comunista Chinês tenta marcar pontos políticos e estratégicos, graças às suas novas forças militares", disse à AFP Rick Fisher, um especialista na esfera de influência chinesa na região.
No final de julho, o presidente Xi Jinping convocou uma mobilização nacional para que a China se transforme em uma grande potência marítima. Essa vontade cada vez mais firme vem preocupando os vizinhos.
Nos últimos dias, por exemplo, a situação parece ter se acelerado, com a compra por parte de Manila de navios de combate de Estados Unidos e França.
Na terça-feira, Tóquio apresentou ao público, pela primeira vez, seu futuro porta-helicópteros, o maior navio militar já construído para a Marinha nipônica desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Por seu tamanho imponente, poderá inclusive ser utilizado como porta-aeronaves polivalente e servir de plataforma de lançamento para caças de aterrissagem vertical.
Em relação à China, as autoridades anunciaram com orgulho, no início de agosto, que cinco de seus navios de guerra deram uma volta completa pelo Japão, passando pelos estreitos do Soya (ou La Pérouse) e de Miyako, no norte e no sul do arquipélago. Pequim interpretou essa circunvalação inédita como a confirmação de que é capaz de "fragmentar" a "primeira cadeia de ilhas" e desbloquear o acesso ao Pacífico.
"A China quer mostrar a seus países vizinhos que tem a intenção de defender seus interesses além de seus territórios marítimos (...) e que não se deterá frente aos fatos, como o último porta-aviões japonês", explica o analista Jonathan Holslag, do Instituto de Estudos sobre China Contemporânea de Bruxelas (BICCS).
Os observadores afirmam que, nas disputas de soberania, Pequim já não teme desafiar o status quo em vigor, sobretudo, no Mar da China Meridional.
Depois de ter humilhado Manila no ano passado ao assumir o controle de Scarborough, um recife a 200 km das Filipinas, a China continua exercendo pressões diárias nessa zona marítima.
Recentemente, a imprensa chinesa publicou imagens de turistas chineses desembarcando nas ilhas Xisha (arquipélago de Paracelso), objeto de uma grande rivalidade geopolítica com o Vietnã.
Ao mesmo tempo, têm sido divulgadas em alguns blogs especializados imagens de uma estrutura construída em um estaleiro perto de Xangai. Para colaboradores da revista especializada britânica Jane;s, pode se tratar do segmento de um novo porta-aviões chinês. Caso se confirme, será o primeiro navio totalmente construído pela China.
Nas imagens, pode-se ver uma rampa que poderá servir para colocar um sistema de catapultas eletromagnéticas. Diferentemente das catapultas tradicionais, esse sistema permite lançar caça-bombardeiros pesados e mais bem equipados. Hoje, apenas dois países - França e Estados Unidos - dispõem dessa tecnologia.
Se Pequim conseguir fazer isso, será um "grande avanço", opina Holslag. "Isso permitiria (aos chineses) aumentar em grande medida o número de saídas de seu porta-aviões".
Ao que tudo indica, está-se diante de uma escalada na região. "Em resposta ao porta-aviões leve que o Japão chama de fragata, a China deve construir seus próprios e verdadeiros porta-aviões", aconselhou esta semana o jornal chinês "Global Times", conhecido por seu nacionalismo.
"Por enquanto, o Partido se contenta em travar com o Japão uma guerra virtual entre Guardas Costeiras", avalia Fisher. "Ainda não houve troca de golpes, mas o confronto é real, e a China pressionará cada vez mais os navios japoneses", alertou.