Agência France-Presse
postado em 10/08/2013 17:52
HAVANA - O governo da Colômbia e a guerrilha comunista das Farc trocaram críticas neste sábado no final de um ciclo de negociações de paz em Havana, apesar de ambas as partes destacarem que houve "avanços" nas negociações para acabar com um conflito de quase meio século."Quem transita para a democracia deve deixar as armas. Isso é o fim da combinação de todas as formas de luta", alertou o chefe das negociações do governo, Humberto de la Calle, que, contudo, destacou que "nunca chegaram tão longe" em um negociação com as Farc.
"Passo a passo esperamos conseguir este acordo para o fim do conflito, passo a passo estamos dando uma oportunidade à paz", disse De la Calle à imprensa, no final do ciclo de negociações em Havana e início de um recesso até 19 de agosto.
[SAIBAMAIS]O chefe negociador da guerrilha, Iván Márquez, também reconheceu "avanços significativos", mas criticou o presidente colombiano Juan Manuel Santos por ter declarado em uma entrevista que os militares têm a ordem de "dar baixa" a todo membro das Farc, incluindo seu chefe máximo, Timoleón Jiménez, "Timochenko".
"Me parece que esse tipo de manifestações na boca do presidente ajudam muito pouco a gerar ambientes razoáveis para o desenvolvimento e avanço da conclusão do acordo de paz; a considero simplesmente uma manifestação infeliz", disse Márquez.
O presidente colombiano manifestou nessa mesma entrevista ao jornal El Tiempo de Bogotá, publicada na quinta-feira, que estava disposto a se reunir com Jiménez, se fosse útil para selar um acordo de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), a guerrilha mais antiga da América Latina.
Santos cumprimentou neste sábado os militares colombianos por matar um chefe regional das Farc, Jesús Antonio Plata Ríos, conhecido como "Zeplin", em uma operação entre os departamentos e Cauca e Nariño (sudoeste).
O governo da Colômbia e as Farc - com cerca de 8.000 combatentes - começaram em novembro de 2012, em Havana, um processo de paz com uma agenda de cinco pontos: desenvolvimento rural (já com acordo), participação política, drogas ilícitas, abandono das armas e indenização às vítimas. Cuba e Noruega atuam como garantidoras deste processo, enquanto Chile e Venezuela são acompanhantes.
Jesús Santrich, outro negociador da guerrilha, também disse este sábado que "os avanços são ostensivos" nestas negociações, mas alertou que as autoridades devem atender os problemas políticos, econômicos e sociais que conduziram ao conflito armado em 1964. "O confronto não nasceu do nada", disse.
Santrich também disse que sua delegação não recebeu informações de seus combatentes que operam no sul da Colômbia sobre um combate na fronteira com o Equador, em que morreu um oficial equatoriano e cinco irregulares, que seriam das FARC, segundo Bogotá.
"Nós ainda não temos um pronunciamento do Bloco Sul (das FARC), que opera na parte dos departamentos de Nariño, Putumayo, toda a região sul da Colômbia", disse Santrich.
O presidente do Equador, Rafael Correa, advertiu este sábado que usará toda a sua força contra as Farc caso esta guerrilha volte a atacar militares equatorianos, após a morte de um soldado na fronteira.
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"Responderemos com toda a força a qualquer grupo irregular que ouse penetrar em solo equatoriano", afirmou Correa, energicamente, durante seu informe semanal de trabalhos, convocando os soldados equatorianos a "defender sua vida por todos os meios".
Santos prometeu a Correa apoio militar na fronteira comum, de quase 700 Km. "Tenham absoluta certeza que terão todo o apoio do nosso Exército, das nossas Forças Armadas, para que nessa fronteira este tipo de situações não ocorram", disse Santos em Cartagena (norte da Colômbia) durante um ato público.