O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou nesta quinta-feira (15/8) o cancelamento dos exercícios militares Bright Star, realizados a cada dois anos desde 1981. Estes exercícios também foram cancelados em 2011, quando o Egito estava no auge da revolta que derrubou seu ex-ditador Hosni Mubarak, um aliado próximo dos EUA.
Obama também condenou a violência vivenciada no Egito nos últimos dias e disse que o país está em um "caminho perigoso", mas não suspendeu a ajuda militar anual de seu país no valor de US$ 1,3 bilhão.
O presidente também não hesitou em pedir que as autoridades egípcias, instaladas no poder pelo exército, levantem o estado de emergência e permitam protestos pacíficos. "Embora desejemos manter o nosso relacionamento com o Egito, a nossa cooperação tradicional não pode continuar como de costume quando os civis estão sendo mortos nas ruas e os direitos estão sendo suspensos", disse Obama a jornalistas em sua casa de férias de Martha;s Vineyard.
O Egito vive dias de tensão desde a deposição de Mohamed Morsy, o primeiro presidente democraticamente eleito no país, no dia 3 de julho. Cerca de 525 pessoas morreram desde quarta-feira, quando as forças de segurança egípcias, desafiando os apelos à contenção por parte dos Estados Unidos e de outras potências, realizaram uma ofensiva contra as manifestações pró-Morsy. Os Estados Unidos têm evitado chamar a deposição de Morsy de golpe de Estado, uma designação que exigiria o corte da ajuda americana ao Egito.
Obama afirmou que Morsy era "não inclusivo" e que "talvez mesmo a maioria" dos egípcios se opusessem ao líder da Irmandade Muçulmana.
"Embora não acreditemos que a força seja a maneira de resolver as divergências políticas, após a intervenção do exército, há várias semanas, ainda havia uma chance de reconciliação e uma oportunidade de seguir um caminho democrático", disse Obama. "Em vez disso, vimos ser tomado um caminho mais perigoso, através de prisões arbitrárias, de uma ampla repressão às associações e simpatizantes do Sr. Morsy, e agora uma violência trágica que tem tirado a vida de centenas de pessoas", ressaltou.
Obama ignorou a pergunta de um repórter sobre a ajuda americana ao Egito, um dos maiores beneficiários da generosidade americana desde a assinatura de um tratado de paz com Israel, em 1979. O presidente enfrenta uma crescente pressão para cortar a ajuda, com a publicação tanto no New York Times quanto no The Washington Post de editoriais muito críticos a sua postura.
O Washington Post escreveu que a administração Obama era "cúmplice" na repressão ao mostrar aos governantes do Egito "que suas advertências não eram críveis". Já o secretário americano de Estado, John Kerry, elogiou anteriormente o exército e disse que ele estava "restaurando a democracia" ao derrubar o presidente eleito, embora mais tarde tenha voltado atrás em suas declarações.
O senador Rand Paul, por sua vez, um membro do rival Partido Republicano que é crítico à ajuda externa, pediu o fim imediato da ajuda. Ele denunciou que as forças egípcias estão utilizando veículos militares americanos para reprimir os manifestantes. "Enquanto o presidente Obama condena a violência no Egito, seu governo continua enviando bilhões de dólares dos contribuintes para ajudar a pagar por isso", disse Paul em um comunicado.
O senador democrata Patrick Leahy, um crítico frequente de abusos militares no exterior, também afirmou que a ajuda ao Egito "deve cessar até o restabelecimento da democracia". As autoridades israelenses já fizeram apelos para os Estados Unidos continuarem com a ajuda ao Egito, já que a encaram como vital para a preservação do tratado de paz e como garantia de cooperação militar contra extremistas islamitas. Obama insistiu que os Estados Unidos não têm um candidato favorito no Egito, onde há muitas teorias da conspiração sobre o apoio americano a um lado ou a outro.
"A América não pode determinar o futuro do Egito. Essa é uma tarefa para o povo egípcio", completou o presidente.