O presidente Barack Obama somou-se nesta quinta-feira (15/8) à condenação mundial à repressão sangrenta realizada pelos governantes militares do Egito contra manifestantes da Irmandade Muçulmana, enquanto a França alertou para a ameaça de "guerra civil" e a chefe de direitos humanos da ONU pediu uma investigação.
Mais de 500 pessoas foram mortas em ataques lançados na quarta-feira (14/8) contra dois acampamentos de simpatizantes do presidente deposto Mohamed Mursi no Cairo, na pior onda de violência no país em décadas.
Paris, Londres, Berlim, Roma e Madri convocaram os embaixadores do Egito para expressar sua forte preocupação.
Obama afirmou que Washington condena veementemente a ação militar, alertando que o Egito entrou em um "caminho mais perigoso" e anunciando o cancelamento de exercícios militares entre os dois países.
Lamentou ainda a "violência que tem tirado a vida de centenas de pessoas e que deixa milhares de feridos", mas não chegou a suspender a ajuda militar de 1,3 bilhão de dólares anual ao Egito, que tem sido há décadas um importante aliado regional dos Estados Unidos.
Os Estados Unidos inicialmente não se opuseram à derrubada de Mursi - o primeiro presidente democraticamente eleito do Egito - e evitaram usar o termo "golpe", o que exigiria o corte da ajuda ao país.
A chefe de direitos humanos da ONU, Navi Pillay, afirmou que o número de mortos demonstra "um excessivo, até mesmo extremo, uso da força contra os manifestantes".
"Deve haver uma investigação independente, imparcial, eficaz e crível sobre a conduta das forças de segurança", disse. "Qualquer pessoa considerada culpada de crime deve ser responsabilizada, acrescentou.
Pillay convocou ainda "todas as partes no Egito a recuar da beira do desastre".
O primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, um simpatizante de Mursi, pediu uma reunião urgente do Conselho de Segurança da ONU para debater o "massacre" do Egito.
A China, por sua vez, está caracteristicamente silenciosa, pedindo a "máxima moderação" de todas as partes, enquanto a Rússia, sua colega de assento permanente no Conselho de Segurança da ONU , solicitou apenas que turistas evitem viagens ao Egito.
Apenas dois Estados do Golfo, que reprimiram grupos islamitas dentro de suas próprias fronteiras, os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein, expressaram seu apoio aos líderes militares do Cairo.
O presidente francês, François Hollande, disse que "tudo deve ser feito para evitar uma guerra civil" e convocou novas eleições, enquanto seu governo transmitiu a "grande preocupação da França pelos trágicos acontecimentos" ao enviado do Egito.
A Grã-Bretanha também condenou a violência e manifestou a sua "profunda preocupação" ao embaixador do Cairo.
Na Alemanha, o ministro das Relações Exteriores, Guido Westerwelle, pediu o fim da violência e a retomada das negociações.
Já Erdogan criticou o "silêncio" da comunidade internacional diante do derramamento de sangue.
"Este é um massacre muito sério... contra o povo egípcio, que só estava protestando de forma pacífica", afirmou.
O papa Francisco disse estar rezando pelas vítimas da violência e apelou para a "paz, o diálogo e a reconciliação".
A Dinamarca, por sua vez, suspendeu sua ajuda no valor de 4 milhões de euros (5,3 milhões de dólares) para o Egito "em resposta aos acontecimentos sangrentos e à guinada muito lamentável do desenvolvimento da democracia".
Apenas os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein expressaram seu apoio aos líderes militares do Egito, afirmando ser dever do Estado restaurar a ordem.
O ministério das Relações Exteriores dos Emirados ressaltou a sua "compreensão pelas medidas soberanas tomadas pelo governo egípcio, depois de ter praticado a máxima autocontenção durante o período precedente".
O Bahrein, que enfrenta uma revolta liderada pela maioria xiita contra o regime sunita, disse que as "medidas tomadas pelas autoridades egípcias para restaurar a paz e a estabilidade tinham por objetivo proteger os direitos do cidadão egípcio, o que o Estado é obrigado a fazer".