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Confira entrevista com o porta-voz da Irmandade Muçulmana, Gehad El-Haddad

"Haverá caos e o país ficará ingovernável", disse em conversa exclusiva com o repórter Rodrigo Craveiro

Rodrigo Craveiro
postado em 17/08/2013 07:30

;Desculpe-me. A situação é muito perigosa. Estarei com você em 20 minutos.; Depois da mensagem publicada no microblog Twitter por Gehad El-Haddad, 31 anos, porta-voz da Irmandade Muçulmana, o contato só foi possível cerca de 3 horas depois. Em entrevista exclusiva ao Correio, por telefone, o porta-voz da Irmandade Muçulmana denunciou a morte de cerca de 300 pessoas nos protestos de ontem, desqualificou as análises segundo as quais o Egito assiste a um embate entre islamistas e secularistas e garantiu que o movimento sunita fundado em 1928 prega a não violência. El-Haddad fez um alerta ao Conselho Supremo das Forças Armadas (Scaf), a junta militar que governa o Egito, e prometeu mais caos, caso a repressão continue. ;O país se tornará ingovernável;, avisou.

Como a Irmandade Muçulmana avalia a repressão na ;Sexta-Feira de Fúria;?
No Cairo e no restante das províncias do Cairo, tivemos mais centenas de mortos. Os militares e policiais atiraram contra manifestantes pacíficos nas ruas. Na capital, centenas de policiais ; uniformizados ou à paisana ;, apoiados por marginais, atacaram os ativistas antigolpe por várias vezes. Mais 6 mil manifestantes pacifistas estão cercados pela polícia em uma mesquita. O último balanço que recebi sobre corpos identificados foi de 129 apenas na Praça Ramsés. Mas há vários outros mortos no Cairo e em Gizé, mais de 50 na Alexandria e dezenas em quase toda província do Egito. O total de mortos se aproxima de 300. Nós não temos contato com províncias vizinhas e soubemos que estão em completo caos.

De que maneira vocês pretendem reagir a esse massacre?
Isso não é algo que envolve apenas a Irmandade Muçulmana. Trata-se de resistir a um golpe militar. É um movimento disseminado pelo país. Nós faremos grandes protestos em cada cidade, em cada vilarejo, a cada dia, durante as próximas semanas, até que os militares detenham o golpe e restabeleçam o presidente.

Alguns especialistas veem confrontos entre islamistas e secularistas;
A Irmandade Muçulmana é um movimento pacífico e de não violência. Nós nunca usamos a violência. Temos sido alvos de ataques desde a revolução de 25 de janeiro. O Exército e marginais aliados aos militares têm atacado civis pelas ruas. Ativistas antigolpe estão sendo mortos por atiradores em helicópteros.
Emissoras de tevê mostraram
supostos atiradores da Irmandade Muçulmana disparando do alto de uma ponte. Como vê essas imagens?
Nós não estamos engajados em ações armadas. Somos uma organização bastante decente e pacífica. Nós apelamos às nossas forças de segurança que detenham qualquer pessoa armada ou engajada na violência.

Se a junta militar não ceder e mantiver a repressão aos protestos, o que o senhor espera para o Egito?
Mais caos e mais insegurança. Os protestos prosseguirão, diariamente, e o país se tornará ingovernável. O governo militar golpista está prometendo mais opressão e brutalidade nos moldes do regime de Mubarak. Nós não permitiremos que as futuras gerações vivam sob uma tirania de tal magnitude. (RC)

Nós não permitiremos que as futuras gerações vivam sob uma tirania de tal magnitude;

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