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Não se pode tolerar "novos Iraques", diz Patriota em homenagem a Vieira

Há dez anos, o brasileiro Sergio Vieira de Mello foi morto após um terrorista suicida detonar um caminhão

postado em 19/08/2013 16:47
RIO DE JANEIRO - A comunidade internacional não pode tolerar que surjam ;novos Iraques;, alertou nesta segunda-feira (19/8) o ministro das Relações Exteriores brasileiro, Antonio Patriota, durante uma homenagem a Sérgio Vieira de Mello, ex-representante especial das Nações Unidas no país árabe, morto há dez anos em um atentado contra a sede da organização em Bagdá.

Sem mencionar diretamente os Estados Unidos, Patriota criticou a intervenção militar no Iraque em 2003 e fez uma apaixonada defesa do multilateralismo também defendido por Vieira de Mello.

Também falou da necessidade de "não demonizar o outro", como, por exemplo, no conflito entre Israel e os palestinos ou em relação ao Irã.

"Antes do surgimento do mundo multipolar, (Vieira de Mello) já era multipolar antes de sua época. Nunca incorreu na tendência de ser norte-atlântico-centrista, ou de acreditar mais no que se lê na imprensa americana, inglesa, europeia, sempre cultivando uma variedade de fontes para informar-se, para ter a adequada compreensão de um problema. Esse era um aspecto de seu universalismo", afirmou o diplomata.

Há dez anos, em 19 de agosto de 2003, um terrorista suicida detonou um caminhão carregado de explosivos perto do Hotel Canal, que abrigava os escritórios da ONU em Bagdá, deixando 22 mortos, entre eles o diplomata brasileiro, e 200 feridos.

"A primeira obrigação deve ser não piorar, não desestabilizar mais a situação", afirmou ainda Patriota, recordando que quando começou a intervenção militar no Iraque, em 2003, o país tinha 360.000 refugiados e deslocados internos, que, em 2007, passaram para 2,3 milhões.

"São números que aterrorizam, sem falar das mais de 100.000 vítimas civis diretas e indiretas da intervenção militar, segundo estimativas modestas", afirmou o ministro ante cerca de 300 pessoas reunidas para homenagear Vieira de Mello, incluindo a subsecretária-geral da ONU para Assuntos Humanitários, Valerie Amos.

"A comunidade internacional precisa encontrar formas de ser operacional para evitar grandes tragédias. Não é tolerável que surjam novas Ruandas, novas Srebrenicas, novos Iraques", afirmou o ministro.

[SAIBAMAIS]"Sérgio foi um grande defensor dos valores e missões da ONU. Sua morte foi uma grande perda para a organização, mas seu legado inspirou muitas pessoas a trabalhar em assuntos humanitários", afirmou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, em uma mensagem de vídeo.



"Vieira de Mello era um líder humanitário carismático, sem medo", afirmou, por sua vez, Valerie Amos. "O ataque foi um desperdício sem sentido de vida humana (...) e, de maneira indireta, um ataque a pessoas que estão entre as mais vulneráveis do mundo", acrescentou.

Patriota também criticou em seu discurso várias omissões da comunidade internacional, como o uso de aviões não-tripulados ("drones"), "que provocam um número altíssimo de mortos civis, inocentes, sem que haja um debate sistemático sobre isso".

Também lamentou a demora em se criar um Estado palestino e advertiu que "a situação humanitária nos territórios ocupados, na Cisjordânia, na Faixa de Gaza, equivale a um barril de pólvora".

"Isso agrava as tensões em uma região que já está entre as mais voláteis e instáveis do mundo", comentou Patriota, que voltou a pedir um Conselho de Segurança da ONU "moderno, em consonância com a multipolaridade emergente".

Vieira de Mello, respeitado comissário da ONU para os Direitos Humanos, também trabalhou para a organização internacional em Bangladesh, Sudão, Chipre, Moçambique, Peru, Camboja, Líbano, Kosovo, Fiji e Timor Leste.

"Sérgio construiu uma carreira em que conciliou notável talento no campo operacional, político e diplomático. Apoiou os refugiados, a mediação, a retirada de minas, a resolução de conflitos e a reconstrução pós-conflito", resumiu a ONU em um comunicado.

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