WASHINGTON - Graças a abundantes recursos, a uma ambiciosa agenda e a um punhado de repórteres famosos, o grupo catariano Al-Jazeera lançou nesta terça-feira sua nova emissora de informação nos Estados Unidos, com a promessa de revolucionar o jornalismo televisivo no país e de superar as reservas do público americano.
A Al-Jazeera America iniciou suas transmissões a partir das 19h00 GMT (16h00 de Brasília).
Inicialmente, a Al-Jazeera America será recebida por 40 milhões de lares em todo o país, mas os planos são de expansão e de entrar na competição feroz travada pelos três grandes do jornalismo 24h nos Estados Unidos: CNN, MSNBC e Fox News. A emissora terá, diariamente, 14 horas de transmissão ao vivo, além de documentários e programas de debate e boletins de notícia de hora em hora.
A rede pretende fazer das reportagens em profundidade e de longa duração - formato pouco prestigiado pelos grandes grupos de TV nos Estados Unidos - o ponto forte de sua programação.
"Sabemos que os americanos querem receber uma cobertura em profundidade dos temas da atualidade que lhes interessam. Querem mais reportagens imparciais e menos partidarismo, exatamente o que a Al-Jazeera faz", diz Ehab Al Shihabi, diretor-geral interino da Al-Jazeera America.
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Alguns especialistas afirmam, porém que o grupo dirigido pela família Real do Catar deve se preparar para uma difícil batalha para conquistar audiência em um país como os Estados Unidos, que tem uma relação tão complexa com o Oriente Médio. A emissora ficou conhecida por ter divulgado, no passado, mensagens da rede Al-Qaeda, ou de Osama bin Laden.
Alguns conservadores garantem que até hoje o grupo é anti-Ocidente. "A Al-Jazeera já teve um papel na radicalização de muçulmanos no exterior, com o propósito de que os americanos fossem tomados como alvo pelo terrorismo", criticou o diretor do lobby Accuracy in Media, Cliff Kincaid.
[SAIBAMAIS]
Ehab al-Shihabi quer acreditar que, depois que o público puder conhecer realmente a programação do canal, esses preconceitos cairão por terra. "Estamos investindo grandes quantias de dinheiro em publicidade e em estratégia de marca (...) Tenho certeza de que, em pouco tempo, a Al-Jazeera será popular", insistiu.
-- Grandes nomes da televisão --
Para garantir o sucesso, a emissora não poupa esforços, contratando estrelas do jornalismo americano, como Soledad O;Brien e Ali Velshi, da CNN, ou Sheila MacVicar, que foi da ABC e da CNN. Ao todo, mais de 850 profissionais foram contratados para trabalhar em 12 escritórios espalhados pelo país, e 70 no mundo.
O lançamento da Al-Jazeera America acontece no âmbito da compra do canal por assinatura Current TV, co-fundado em 2005 pelo ex-vice-presidente Al Gore.
David Shuster, um dos jornalistas contratados pela nova emissora e que já trabalhou na MSNBC, aprecia a "enorme oportunidade", em função da enxurrada de recursos com que conta a Al-Jazeera. Para ele, o grupo está se tornando o maior do mundo no setor.
A presidente da Al-Jazeera America, Kate O;Brian, prometeu que seu canal "evitará recorrer a comentários de especialistas e a tratar das últimas excentricidades dos famosos" para se concentrar, em contrapartida, "em tudo aquilo que merece ser coberto".
A Al-Jazeera contará apenas com um máximo de seis minutos de publicidade por hora, comparados aos 15 da maioria dos canais.
O quartel-general da Al-Jazeera America será em Nova York, perto da Penn Station. Em Washington, Al-Jazeera ficará nos estúdios que já foram ocupados pela ABC no "Newseum", perto da Casa Branca e do Congresso.
Joie Chen, ex-jornalista da CNN e da CBS, um outro grande nome recuperado pela Al-Jazeera, justificou sua ida para o canal pela "qualidade do trabalho realizado". Segundo ela, "queremos relatar aquelas histórias que não contam com suficiente cobertura e falar com as comunidades mais esquecidas".
Já o ex-apresentador da NBC John Seigenthaler vê a Al-Jazeera como um canal que "dá um pouco mais de densidade, um pouco mais de perspectiva, um pouco mais de contexto, ou seja, aquilo que se busca no jornalismo".